Hypertermya

Surprises

No dia seguinte, não sabia exatamente onde estava, flashbacks do dia anterior me atingiram e foi aí que virei a procura de Harry, que me aninhava em seus braços na pequena cama de solteiro, sorri ao ver que ele dormia sentado. Me mexi um pouco e ele resmungou, ri baixinho e lhe dei um beijo no maxilar, raspando meus lábios em sua barba rala.

- Você está dormindo sentado - eu falei

- Você ocupou a cama toda - falou, se fingindo magoado -  até tentei deitar, mas você ficou com a cama toda - fez bico. Beijei seu bico, o fazendo rir e fui um pouco para o lado para ele deitar comigo, ele estava realmente cansado, pois ao deitar, apagou no mesmo instante.

Fiquei o observando, sua expressão era cansada, seus lábios entreabertos reproduzindo um som baixíssimo de sua respiração que começava a pesar. Harry era novo ainda, tinha seus vinte e sete anos, seu rosto, apesar de agora cansado, aparentava uma idade inferior a isso. Queria tocá-lo, acariciar seus cabelos, mas fiquei com medo de acordá-lo, então fiquei apenas o encarando e sorrindo sozinha por motivo algum, ou havia algum motivo, mas não sei dizer qual era.

- Te amo - sussurrei tão baixo que acho que nem meus pensamentos conseguiram me ouvir. Continuei a encarar o homem na minha frente até perceber que ele sorria. Suas mãos que estavam em minha cintura me apertaram mais na região e me aproximaram mais de seu corpo quente.

- Se for pra ficar me encarando, me peça para ficar num ângulo favorável, sweetheart - falou ainda de olhos fechados - E a proposito, eu também te amo - abriu os olhos e me deu um selinho seguido de um beijo de esquimó.

- Não era pra você ter acordado - fiz bico

- Você estava me encarando tão intensamente que eu senti nos sonhos - brincou - O que estava pensando?

- Em você, no seu rosto e em como fica fofinho dormindo - apertei o nariz dele.

- Eu sei - se fez de convencido e logo desmanchou o sorriso - Como você está? - perguntou e meu sorriso sumiu também. Senti um aperto no peito e só o que pude fazer foi abraçar Harry apertado, tão apertado que eu podia ouvir as batidas aceleradas de seu coração. Lágrimas se formaram em meus olhos e ele me fez o encarar - Não chore, por favor.

- Não consigo - me afastei um pouco dele - Tudo aconteceu tão de repente, papai descobrindo sobre nós, se afastando de mim, acabando com a carreira dele e como se não bastasse eu acabar com a carreira de meu pai, você ficou com a imagem suja depois de aparecer comigo menor de idade e estar com a sua carreira em risco por minha culpa, Harry, eu causei tudo isso, eu não olhei para os lados, eu não medi as consequências dos meus atos, só pensei em mim, esqueci que para eu ser feliz, eu preciso de vocês, felizes e sem problemas pra resolver - eu já sentia meu rosto molhado e algumas lágrimas na minha camisa - É tudo culpa minha, me desculpe, por favor.

- Não é culpa sua, Anna, nada disso é culpa sua, seu pai já estava destruindo a carreira dele muito antes de você chegar em Londres, minha carreira não vai acabar pelo que aconteceu, até porque todos já sabem da minha reputação - falou tentando me acalmar - Nada disso é culpa sua, entendeu? Não se culpe pelo que aconteceu, você só nos levou alegria, não pense ao contrário.

- Eu sou um desastre - chorei mais ainda - Em menos de um ano eu consegui ser expulsa do único curso que eu realmente queria fazer, consegui mandar meus amigos pra longe de mim, consegui machucar todo mundo, inclusive minha mãe, que não tem sorte nenhuma no amor e conhece apenas os caras errados - sentei na cama - Eu não mereço você, sou um monstro, só sirvo pra magoar as pessoas, Harry, eu jogo apenas ao meu favor, esqueço dos outros e você... Você veio até aqui atrás de mim, me pediu em namoro no terraço do prédio antigo da sua família enquanto passava uma estrela cadente, me contou sua história, se abriu para mim, me levou pra uma praia linda, me protegeu e me amou, eu não mereço tudo isso, eu não mereço você, nem minha mãe, nem meu pai, nem Skyler, nem ninguém.