Memories

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Não fazia ideia de que horas eram. Mas deveria fazer um bom tempo que estava ali, sentada na minha cama, ainda imersa nas cobertas pesadas enquanto fitava o céu cinzento janela afora. Meu coração dolorido parecia brigar com as condições meteorológicas, uma vez que fitar todo aquele cinza de solidão me trazia à tona as péssimas emoções da noite passada.

Minha cabeça parecia inflada, como se o sangue do meu corpo não tivesse força o suficiente pra ser bombeado. Talvez, essa sensação fosse apenas culpa do meu coração, que depois de tanto trabalho e tanta dor enfrentada, já não vê mais motivo pra continuar a bater. Me senti um lixo por estar pensando e sentindo essas coisas. Não era o momento de me entregar a dor e nem mesmo a qualquer sentimento que pudesse me por ainda mais para baixo. Não era mais momento de me lamentar, de deixar com que o coração decidisse por si mesmo o que deveria ser feito.

Tentei recordar o que acontecera na noite passada, antes de vir parar em meu quarto, mas não pude saber com certeza. Cansada de forçar a cabeça e sentir aquela dor - que agora eu já podia considerar involuntária - me atingir, pulei da cama com o pouco de determinação que meu corpo tinha, enfiei-me embaixo do chuveiro na água fria e deixei que meus sentidos fossem atingidos pela temperatura.

E não pude evitar lembrar de Harry, de como as coisas estavam difusas, de como eu não sabia se estávamos ou não juntos... Todo aquele relacionamento meias-palavras, meias-lágrimas, meias-emoções. Estancado por medo, desejo, ilusão. Me enrolei na toalha grande e fofa, apertando-a contra meu corpo mais do que era necessário e sai do banheiro rumo ao closet, observando que o celular sobre o criado mudo vibrava. Ignorei e vesti uma camiseta lisa e um jeans qualquer, calçando uma sapatilha que havia sido usada há pouco tempo.

Minha vontade era de desabar no chão do closet e esperar que alguém viesse me buscar e me por de pé. No entanto, mais do que nunca eu sabia que cabia a mim e somente a mim, dessa vez... Afastar toda essa confusão e resgatar emoções, antes que tudo se fosse de vez. Assim, desci as escadas para encontrar Skyler, fitando o conteúdo da xícara que tinha em mãos, tão ou talvez ainda mais abatida do que eu estava.

Assim que ela notou minha presença, levantou-se do sofá e correu ao meu encontro, envolvendo-me em um abraço nervoso, cheio de indecisão. Senti que não era de abraços e pessoas me reconfortando que eu precisava. Era de palavras, de esclarecimento. E assim, fiz a única coisa que pude pensar em fazer. Puxando forças de dentro do meu corpo fraco, minha voz saiu num sussurro rouco, e Skyler quase que se assustou quando ouviu as palavras.

- Papai passou por aqui? – eu perguntei, os olhos enrugando-se involuntariamente, como se juntar as sílabas naquela pergunta fosse uma tortura extrema para minhas cordas vocais.

Ela não se sujeitou a mesma dor, apenas balançou a cabeça negativamente. Eu tentei sorrir-lhe, uma tentativa frustrada de tranquilizá-la. Ninguém que não fosse eu, papai e Styles deveria ser afetado por toda essa história. Lembrar de Hazza me deu um nó no coração... Afinal, quão egoísta eu estava sendo por pensar todo o tempo em mim, na minha dor, na minha família? Hazza estava tão – quem sabe até mais – imerso do que nós, e o pior daquela sensação que enfim me atingira era me dar conta de que nunca pude realmente saber o que ele sentia, saber que temores ele tinha ou o que estava colocando em jogo.

E então, como que se uma bala de realidade me atingisse, saltei pra fora de casa e entrei no R8, dirigindo para o único lugar que me parecia ser a saída para iniciar o concerto, não mais da minha vida, mas da nossa. Eu estava no meu caminho para Whitby.

Depois de quase quatro horas de viagem e sem saber direito da onde eu houvera arrumado forças pra dirigir toda essa distância, estacionei o R8 em frente da casa na qual passei toda a minha infância. A pintura bege-amarelada estava desbotada, as cortinas na janela do meu quarto esvoaçavam janela a fora, parecia que mamãe estava realmente me esperando. O quintal estava bem cuidado, mamãe tinha plantado flores no caminho da entrada e elas me pareceram extremamente bonitas naquele vendaval que vivia o meu coração.

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