CAPÍTULO 1

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L E S L I E

Já havia se passado algumas horas que eu estava ali, em pé, parada e cansada. De todos os vários rostos não conseguia encontrá-lo, não o via. Minhas mãos estavam congeladas, apesar dos dois copos de refrigerante que eu estava segurando já estarem quentes. A fila estava longa, eu nunca tinha visto aquele cinema tão cheio antes. Não consigo esperar, muito menos ficar esmagada no meio de tanta gente. Agradeço por escutar a minha mãe e ter vindo com um sapato confortável, talvez ela já estivesse prevendo que eu teria que passar horas de pé.

Aquelas paredes vermelhas já estavam fazendo com que meus olhos ardessem e ficassem marejados. Uma garota passou correndo e quase me derrubou, mas ainda conseguiu derrubar um dos copos da minha mão, então acabei jogando todos os dois no lixo.
Não sei porque eu estava com aqueles copos na mão. Eu já sabia, Scott O'Connor não iria e eu levava o meu sei lá quanto bolo dele. Dei meia volta para ir embora, um cara parou de beijar a mulher para me dizer que eu pisei no seu pé. Ele fedia a bebida barata e cigarro, o vestido da mulher era tão curto que eu jurava que era uma blusa. Passei pelos dois e fui seguindo para a portaria, quando estava passando perto da bilheteria escutei algum tipo de discussão. Olhei pra trás e vi que um garoto, não tão alto mas nem tão baixo, estava tentando comprar um ingresso para a sessão das oito. Como já estava lotado, o gerente do cinema estava tentando dizer que não havia como ele entrar, mas por algum motivo o garoto queria muito esse ingresso.

Depois de alguns longos minutos conversando com ele, o gerente conseguiu fazer com que ele desistisse de tentar conseguir a entrada. Eu observava da portaria o garoto se sentar na calçada em frente ao cinema, mesmo de longe eu podia ver lágrimas em seu rosto. Aquele filme poderia realmente significar algo para ele. Resolvi me aproximar, então ofereci meus ingressos para o garoto.

—Toma, pode pegar! —Estiquei meu braço estendendo os ingressos.

Ele não levantou a cabeça, continuou com ela abaixada e com uma voz muito baixa me respondeu.

—Não tenho mais dinheiro, acabei perdendo minha carteira quando estava tentando sair do cinema.

—Não precisa pagar, pode pegar. —Continuei com o braço estendido, então ele imediatamente levantou a cabeça e me olhou fixamente nos olhos.

—O que você está dizendo? Está me dando os seus ingressos? —Ele se levantou e esfregou suas mãos em seu rosto.

Seu olhar era de um verde penetrante que me fez parar de olhar ao redor e apenas olhá-lo.

—Sim! Eu já disse, são seus! —Peguei os ingressos e coloquei-os em suas mãos, bem frias por sinal.
 
Ele não disse uma palavra, então acenei com a cabeça e dei as costas para ir embora. Parei quando escutei sua voz, um pouco mais alta agora.

—Você quer ir comigo?

Me virei e percebi que ele estava com um sorriso encantador no rosto.

—Não costumo sair com caras que eu não conheço. —Falei em um tom sério.

—Te garanto que sou mais legal do que esse cara que te deixou plantada na fila por horas! —Ele falou levantando uma sobrancelha e me encarando.

Como ele sabia que eu estava ali por horas? E como ele sabia que eu estava esperando um cara? Eu não o conhecia mas por algum motivo eu queria sim aceitar aquele convite e assistir ao filme com ele.

—Bom, já que estou aqui. Acho que você tem que saber que se tentar fazer qualquer coisa comigo, eu grito!

Ele caiu na gargalhada e colocou uma das mãos na barriga. Ele parecia divertido, mas eu realmente não sabia porque ele estava rindo.

—O que eu disse de tão engraçado? Está rindo por quê? —minhas palavras saíram apressadas da minha boca enquanto a minha cara estava extremamente séria.

—Não está mesmo pensando que eu sou um assassino, ou algum tipo de psicopata está? —Sua voz era de um tom irônica mas um tanto seria.

—Claro que sim, eu não conheço você—Meus braços cruzaram na minha frente enquanto ele sem jeito colocava as mãos no bolso do seu jeans apertado.

—Tudo bem, o que acha da gente ir para a fila logo? Está bem grande!

Assim que ele se virava pra olhar a fila enorme que saia para fora do cinema, eu me virei junto e arregalei os olhos. Ah não! Mais uma hora nessa fila e eu desmaio.

                                ***

         Como tinha dito nunca vi esse lugar tão cheio. Não tinha como você sair sem se esbarrar em alguém. Quando finalmente chegamos lá fora, percebi o quão alegre ele estava, não havíamos trocado uma só palavra dentro daquele cinema. Não tinha coragem de perguntá-lo o motivo de querer tanto ver o filme. Mas enfim, já tínhamos visto, ele estava feliz e eu não tive que voltar pra casa depois do bolo do Scott. Pensei em me despedir e pegar um táxi, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa ele me perguntou.

—Onde você mora? Posso te deixar em casa.

Ele me olhou desconfiado e eu o encarei com uma carranca.

—Não confio em você o suficiente para saber se é ou não um sequestrador ou algo do tipo, acha mesmo que vou te levar até a minha casa? —Dizia o encarando nos olhos sem desviar por um momento.

Suas bochechas coraram, percebi que ele ficou envergonhado e então disse.

—Fica algumas quadras daqui, podemos pegar um táxi.

—Não, se é perto vamos andando e conversando. —Ele disse balançando as mãos apontando para frente.

—Vamos!

Não me preocupei em ter que andar algumas quadras, eu realmente queria conversar com aquele garoto.

—Como você sabia? —Perguntei enquanto ele olhava para o chão e chutava uma pedrinha.

—Como eu sabia o que? —Ele disse intrigado.

—Como sabia que eu estava plantada na fila?

—Eu estava te observando. —Ele parou de caminhar, mas não me olhou.

—Me observando? Então você realmente pode ser um psicopata!

—Dei algumas risadas e também parei de andar. Por incrível que pareça eu não estava preocupada em relação a ele.

—Aposto que o carinha que te deixou esperando é capitão do time de futebol da escola. —Falou arqueando uma sobrancelha e colocando as mãos nos bolsos.

—Acertou e errou! —Respondi rapidamente —Capitão do time de Lacrosse.

—Eu sabia! —Respondeu me dando um breve sorriso.

—Ele é um completo idiota, sabia?

—Idiota? Você nem o conhece e já sabe a verdade! —Rimos um pouco até que ele parou, olhou para mim e disse: —Só um idiota pra deixar uma garota incrível como você esperando.
Minhas bochechas coraram na hora e eu podia senti-las arder.

—Você nem me conhece pra dizer assim com tanta certeza que eu sou incrível.

—Te conheço o suficiente para ter certeza e saber que você é sim uma garota incrível —Ele disse enquanto pegava o meu queixo e levantava minha cabeça para cima.

Como assim? Meu rosto todo ardia, não sabia o que falar muito menos o que fazer então tratei logo de me despedir.

—Obrigada pela noite, mas eu preciso ir agora. —Virei as costas e continuei andando, mas parei quando ele gritou: 

—Mas eu nem sei o seu nome!

—É Leslie. Leslie Collins, e o seu?

—Hunter. Peter Hunter.

—Boa noite Hunter.

—Boa noite Collins.

Me virei e continuei andando mais uma quadra até chegar em casa. Já estava entrando quando escutei uma voz.

—Ei, quando te vejo de novo?

Aquela pergunta ficou ecoando na minha cabeça. Não sabia o que falar, fiquei paralisada.

—Amanhã, quer tomar café comigo? Às sete? —Ele disse antes de esperar minha resposta da pergunta anterior.
Balancei a cabeça concordando e entrei em casa.

Qual é? O que eu estava fazendo?

DOIS ACASOS(EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora