CAPÍTULO 3

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Acordei um pouco tarde no outro dia com a campainha tocando. —Meu Deus! É o Peter! —Acordei gritando, assustada enquanto ajuntava umas roupas do chão do meu quarto. Entrei correndo para o banheiro enquanto mamãe gritava falando que Peter havia chegado. Eu não acreditava no que eu estava olhando no espelho. Meu cabelo, todo desgrenhado, minha cara amassada e umas olheiras do tamanho do mundo. Me assustei ainda mais quando reparei que bem no meio do furinho do meu queixo nasceu uma espinha G-I-G-A-N-T-E. Entrei em desespero e procurava por um corretivo para dar um jeito de esconder aquela cratera que estava sob a minha pele. Resolvi sair do banheiro e ir pro meu quarto, péssima decisão. Dei de cara com Peter. Eu ali daquele jeito, vestindo um pijama de ursinhos. Soltei um berro.
—Me desculpe Leslie, eu não quis te assustar. Sua mãe disse que eu podia subir que você estaria no seu quarto.
Comecei a arrumar meus cabelos e coloquei a mão no queixo quando lembrei da espinha. —Tudo bem, você não me assustou. Será que você pode esperar eu me trocar? —Falei enquanto andava de costas entrando no meu quarto.
—Claro, sinta-se em casa! —Como ele conseguia ter um ótimo humor logo de manhã? —Vou te esperar lá em baixo.
Ele desceu as escadas, então eu corri e me arrumei depressa. Vesti um vestido azul e deixei meu cabelo solto. Corri pro espelho tentando cobrir a espinha mas pelo jeito vou ter que ficar com a mão no queixo enquanto converso. Peguei minha bolsa e desci. Assim que cheguei na sala o vejo sentado em uma das poltronas me esperando. Os gêmeos estavam na casa da tia Pac, - na verdade o nome dela é Donna e não sei por qual motivo nós a chamamos assim, mamãe sempre fala que esse apelido é de quando elas eram crianças. Ela é um pouco mais velha que a mamãe e mora sozinha com seus 27 gatos - e mamãe estava no telefone com papai. Quando ele não está em casa, está viajando por causa das reuniões da empresa. Acho que ele está em New Orleans dessa vez e já faz mais de duas semanas que eu não o vejo.
Peter estava lá pensativo e distante, parecia estar pensando em algo sério e como eu queria saber o que ele estava pensando esse momento.
—Eu já estou pronta. —Falei enquanto descia as escadas. Ele se levantou da poltrona e ficou alguns segundos me olhando.
—Você nem demorou muito. —Sorriu com o canto da boca. —Mas então, o que a gente vai fazer agora?
—Não sei. A ideia de que a gente iria estudar foi sua. —Cruzei os braços e levantei uma sobrancelha. —Agora, onde a gente vai, isso é com você!
—Tudo bem. Meu carro está bem ali na frente, vamos em alguma Starbucks perto daqui e a gente conversa. Sei lá, depois podemos fazer alguma coisa diferente. —ele pegou suas chaves no bolso da calça e saiu. —Vou te esperar lá fora.

Balancei a cabeça concordando e caminhei pro lado da mamãe. Ela não estava com uma cara muito boa, então esperei que ela desligasse o telefone para falar.
—O que foi? Ele não vem pro almoço de amanhã?
Ela balançou a cabeça negando e disse: —Tem muito trabalho pra ele lá, acho que vai chegar na segunda. Ela me deu um beijo na testa. —Pode ir estudar pro seu "teste". Quando ela disse a palavra teste balançou seus dedos fazendo aspas e me deu uma piscadinha. Ela sabia que eu não tinha teste nenhum e eu estava feliz por isso.
Entrei no carro dele e fomos até a Starbucks mais próxima. Assim que entramos no café, fizemos nossos pedidos e sentamos. Enquanto eu conversava com ele, tive a sensação que o conhecia há anos. Ele se passou de invisível para um garoto incrível com quem eu estou amando passar o dia. Peter é simplesmente lindo, escutava a sua voz dizer algo que eu não estava prestando atenção pois minha atenção estava toda no seu sorriso perfeito. Seu cabelo, sempre atrapalhado. Sua calça sempre apertada e um par de botas que o deixava incrivelmente maravilhoso. Depois de algum tempo conversando, percebemos que o sol já estava indo embora.
—Leslie, tem um lugar incrível que dá pra ver o pôr-do-sol e a lua. —Ele disse enquanto uma moça que estava do nosso lado tropeçou e eu não consegui segurar o riso, ele também não. —Mas e aí? O que acha da gente ir agora?
Ele não me disse onde exatamente era o lugar, mas para onde ele estava me levando eu não conhecia. Ele colocou o braço esquerdo na porta e com a mão direita apertava fortemente o volante. Não demorou muito para que ele parasse o carro.
—Chegamos! —ele disse desligando o carro.
—Chegamos? No meio do nada? —Minha voz saiu um pouco alta quando abri a porta e desci do carro.
—Eu não te disse que iríamos ver o pôr-do-sol? Então tem que ser longe dos prédios, dos carros, de tudo. E aqui, é perfeito.
Realmente, era incrível. Vários montes verdes com algumas árvores, um lugar imenso. Eu podia sentir que até respirando melhor eu estava.
—Vem, ainda não é aqui. —Ele pegou na minha mão e me puxou.
Descemos um morro e foi aí que vi uma colina enorme e linda, eu só via verde.
—Deita aqui, o sol vai se pôr bem ali. —Enquanto ele se deitava, ele apontava pro alto da colina. Me sentei do lado de Peter que estava deitado com os braços cruzados. Eu não parava de pensar como ele era lindo. Eu não conseguia parar de olhá-lo.
—Acho melhor se deitar. —Ele disse me fazendo parar com meu pensamentos.
—É melhor do que ficar sentada. Me deslizei e deitei ao seu lado. Meu coração batia tão forte, eu não entendia o porquê. Mais uma vez eu estava o enaltando enquanto ele falava algo que eu não prestava atenção. Ele apontava pro céu e eu olhava seus músculos dos braços e seu abdômen definido sobre o tecido apertado da camisa. Eu realmente queria beijá-lo. Os raios do sol iam ficando fracos e a luz ficava cada vez mais baixa. Eu nunca me senti assim, o que estava acontecendo? Ele virou seu rosto e me olhou profundamente nos olhos, foi nesse instante que minha boca secou e meu coração parou. Eu só ouvia a minha respiração pesada e a dele em um sincronismo assustador. Fechei meus olhos e senti a melhor coisa que eu poderia sentir. Eu estava flutuando, Peter estava me beijando. Eu não conseguia abrir os olhos, não queria sair dali.


Os raios do sol já estavam partindo e a escuridão invadia o campo. Ele se deitou, me puxou ao seu peito e apontou pro céu de onde a lua estava. Enquanto olhávamos a lua, ele passava a mão em meus cabelos. Eu não queria me mexer, eu não queria que ele parasse. Eu me sentia tão leve. Escutei um toque de celular baixo e insistente, quando percebi, Peter estava se sentando e puxando o celular do bolso. —é a minha mãe. —ele disse enquanto se levantava e caminhava um pouco pra longe de mim. Eu não consegui escutar as poucas palavras que ele disse mas ele voltou apressado. -Preciso ir pra casa, tenho que ir agora. —Ele continuou caminhando, mas dessa vez em direção ao carro.
Eu fiquei um pouco confusa e o acompanhei entrando no carro.

DOIS ACASOS(EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora