Capítulo Dois

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    Assim que eu coloquei meu pé para fora da delegacia senti o sol fraco das 5 da tarde aquecer levemente meu rosto.

   Júlio estava a minha frente falando no celular com alguém; especificamente um mulher. O modo afetuoso que ele falava denunciava o quanto a mulher deveria ser importante para ele. Sua namorada, talvez. Não vou negar que a sua namorada tinha sorte, afinal, ele era lindo (não que eu fosse admitir isso para ele). Suas roupas eram perfeitas para seu corpo alto e esbelto. Sua calça escura agarrava muito bem os seus quadris e estreitos e sua bunda.... Não, que eu fiquei olhando para sua parte traseira! Eu não era uma tarada que ficava olhando para parte traseira das pessoas que eu não conhecia.

—Para onde você está me levando? —eu perguntei fazendo os meus pensamentos irem para outro rumo menos constrangedor. Ele já havia desligado o celular e já caminhava diretamente para onde havia vários carros estacionados.

—Para nenhum lugar que você precise ficar preocupada. —ele respondeu enquanto tirava uma chave de seu bolso.

—Quanto mais você diz para eu não me preocupar é que eu me preocupo.

—Pode parar um pouco a paranoia. —ele disse enquanto abria a porta do passageiro de um carro.

   E eu tinha que dizer que era "O carro! ". Era uma BMW preta brilhante com vidros escurecidos completamente linda e luxuosa. Era o sonho de consumo de qualquer um.
E eu só sei que é uma BMW, pois antes de eu me mudar da Zona Sul de São Paulo para a favela, eu tive um namorado. Um completo idiota, e eu na época com 16 anos, mais idiota ainda por ter pensando que gostava dele de verdade. Ele era obcecado por carros e quando ficávamos juntos ele tinha que apontar cada carro que gostava. Na época eu achava interessantíssimo o que ele falava, mas assim que ele me largou um tempo depois que dormimos juntos; vi que ele só pensava em si mesmo e sempre tinha sido o idiota que Marisa sempre havia afirmado.

—Bela BMW. —comentei enquanto entrava pela porta aberta e tentava afastar a lembrança da burrice de ter entregado a minha virgindade para um completo idiota. Ao entrar de dentro do carro notei de imediato que ele era lindo tanto por fora quanto por dentro.

—Eu sei. —disse Júlio assim que entrou do lado do motorista.

—Você é convencido assim com todo mundo? —bufei.

   Apertei a minha mochila, que era meu guarda-roupa ambulante, já que eu guardava todas as poucas roupas que eu havia adquirido nesse último mês nela.

   Júlio começou a rir com a minha pergunta o que fez eu querer atingi-lo com o meu canivete.

 —Não, acho que é só com você.

—Nossa que sorte a minha! —Ironizei.

—Eu sei que você quer me cortar, mas primeiro vamos focar sobre como ajudar a sua irmã e depois podemos acertas nossas diferenças. —ele olhou para mim sorrido e eu revirei os olhos, mas assenti.

   Não importa o quanto ele era irritante, eu precisava me concentrar em achar Marisa. E se aguentar esse cara era a única alternativa eu iria enfrenta-la.

   Era bom para namorada dele que, ele não fosse com ela, o que ele tinha mostrado ser comigo nos últimos minutos, pois se não eu teria muita pena dela.

   A viagem de quase 30 minutos pareceu levar uma eternidade. Não conversamos durante o caminho; o que havia sido bom, pois minha atenção esteve na janela do carro o tempo todo vendo se ele não estava me levando para algum lugar suspeito. Mas mesmo assim não perdi os olhares furtivos que recebi de Júlio e tenho certeza que ele não perdeu os meus.

Perdendo-se pelo CaminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora