Capítulo Seis

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   E lá estava eu a meia-noite em uma construção abandonada pelo Governo do Estado esperando a pessoa que me ajudaria a executar o plano B.

   O mesmo lugar abandonado onde tudo isso tinha começado. O mesmo lugar onde eu e Marisa tínhamos sido trocadas por dinheiro como meras coisas sem vontades e sentimentos...

   Fazia no mínimo cinco horas que eu havia deixado a sala de Francisca agradecendo-a por me ouvir e explicar tudo. Eu sei que ela leu em meus olhos que eu necessariamente não concordava em esperar. Júlio tinha seguido atrás de mim pedindo para eu conversar com ele, mas neguei brandamente e decidi que ele já tinha feito o bastante.

   A partir de agora eu estava sozinha do mesmo jeito que estava quando tinha começado.

   Deus sabe, que eu tinha tentado fazer as coisas do jeito certo, mas o destino simplesmente não deixou!

   Então cá estava eu esperando nada menos que um traficante conhecido pelos seus trambiques na favela onde eu morei por dois anos.

   Ele era o cara que tinha gerenciado eu e Marisa até Victor. Foi ele que nos trouxe até aqui para trocar por dinheiro como Sabrina havia mandando ele fazer para pagar as suas dívidas.

  Realmente não queria ter ligado para ele e o chamado para me encontrar, mas preciso dele para ir para a Alemanha. Ir legalmente não dava, pois se no mínimo eu chegasse em Berlim não demoraria nada para eles me deportarem de volta para o Brasil.

   Eu iria pagar para David me colocar em um barco clandestino, que eu sabia que ele era associado e que levava para Alemanha e Europa sua mercadoria.

   Eu sabia que dinheiro movia David, como o vento move uma folha morta...

Liv, —ouvi uma voz vindo das sombras fazendo ser impossível não levar um susto. —Como é bom ver que você está viva e bem, lugar interessante que você escolheu para nos encontrarmos!

   Finalmente consegui ver David aparecer na luz fraca que um poste danificado fornecia.

   As únicas fontes de luz vinham de uns postes aleatórios por ali, já que a noite escura e fechada não mostrava a lua. Mas esses aleatórios postes não fornecia a luz necessária para eu ver perfeitamente tudo a minha volta. Os metais e escombros pesados da obra, que parecia nunca ter sido começada, não eram bons de se olhar em meio a penumbra daquele lugar.

   Era difícil não lembrar da última vez que estive aqui. Ainda podia ouvir no fundo da minha mente os meus gritos misturados com os de Marisa naquela noite. Minha mente se voltava para no momento que nossas mãos tinham sido separadas e no último minuto que eu pude encarar os olhos castanhos esverdeados de Marisa, que são como os meus, com perfeita precisão...

   Tentando dissipar esses pensamentos coloquei meu foco na situação imposta no momento.

—Onde estão seus colegas? —perguntei quando me dei conta de que ele estava completamente sozinho. Eu procurava seu par de colegas armados, que o seguiam como se ele fosse água no deserto.

—Meus amigos estão por aí. Não queria que eles te assustassem. —disse ele se aproximando.

   Como eu estava na parte mais iluminada daquele lugar conseguir ver, quando ele parou a alguns passos de distância, o seu rosto fino e seus cabelos mal pitados de um loiro claro. Ele aparentava ter por volta dos 25 e poucos anos e era alto e magro vestido com roupas que pediam uma lavada. Sua blusa cinza e calça surrada com um tênis não pareciam ver uma máquina ao um bom tempo.

Perdendo-se pelo CaminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora