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Fui tomada pelo pânico a partir do momento que me senti tonta ao bater a cabeça no asfalto. O homem não parava de sorrir um minuto enquanto eu esperneava e tentava gritar, mas o som era abafado pela sua mão. Ele balançou a cabeça negativamente para mim e me mandou fazer silêncio. Aos poucos, fui diminuindo os movimentos e parei de tentar gritar.
Ele foi tirando a mão da minha boca lentamente, e assim que esta foi para a minha cintura, o peguei de surpresa, socando sua cara e dando uma joelhada no seu estômago, o que o fez se distrair por tempo suficiente para eu me desvencilhar e começar a correr.

Idiota.

Corri, o mais rápido que pude. Tropecei umas duas vezes, só não caindo pela adrenalina que possuiu meu corpo. Diminui o passo, e olhei para trás. Ele estava atrás de mim.

Tomei partida novamente, arfando, correndo, minhas pernas doendo. E gritei. Gritei até minha garganta fechar e meus pulmões acabarem com o fôlego.

Ri quando olhei para trás e não o vi. Fiz pressão com o mão no meu peito, sentindo meu coração bater violentamente enquanto ia diminuindo o passo, fazendo uma careta de cansaço.

Até que algo segurou meu pé
E eu caí, batendo o queixo no chão, gemendo de dor.

Fui arrastada da rua até a calçada de terra. Olhei para cima, e vi o mesmo homem. Gritei novamente, batendo minhas pernas numa tentativa em vão de chutá-lo e ele soltar minha canela.
Virei na direção contraria e tentei levantar, tentei fugir, mas agora era como se o estranho estivesse levando a situação a sério. Minha canela até doía com a força que ele a segurava.

Então ele soltou meu pé, mas me pegou pelo tronco, e me jogou dentro de uma casa abandonada. Fiz uma careta ao sentir a cabeça batendo na parede e minhas costelas chocando-se no chão no mesmo lugar que haviam batido no dia da bomba.

De repente, ouvi um som na rua. Alguém passava por lá. Meus olhos se arregalaram em um misto de surpresa e alívio, assim como os do estranho. Abri a boca para gritar novamente, mas o homem correu ao meu encontro, e senti um objeto afiado pressionando a região abaixo de meu queixo. Um fio de sangue desceu pela minha garganta.

- Fique calada. Se gritar, será a última coisa que você vai fazer. Aceite que dói menos, acredite. - sussurrou.

Pela primeira vez naquela confusão, senti as lágrimas ardendo em meus olhos enquanto o homem descia sua outra mão, tocando-me, apertando meus seios e descendo mais. Senti um nojo inenarrável.

A faca ainda estava na sua outra mão, agora apontada para meu peito. Eu tentava controlar os soluços e lágrimas, fechando a boca e orando para alguém entrar ali.

O marginal desabotoou minhas calças, abaixou-as, assim como as suas e

Me machucou, me machucou, me machucou

Enquanto eu sofria em silêncio.


Mesmo que já tivesse percorrido uma boa distância, demorei horas para chegar em casa, mantendo-me escondida atrás das árvores, carros, casas. Não queria que ninguém visse meu estado.

Meus braços estavam cheios de cortes. A minha pele gritava de dor assim como a região entre as minhas pernas. Nunca pensei que algo como a primeira vez pudesse ser tão ruim na segunda.

Meu queixo sangrava, minha cabeça latejava, meus braços e pernas ardiam. Eu estava acabada. Quando entrei no apartamento, dei graças a Deus por Theo ter ido na escola. Minha mãe gritou, correu para me abraçar, enquanto aguentava todo o meu choro no seu ombro.
Depois, cuidou de mim. Limpou-me, beijou-me, e não pediu nenhuma explicação. Porque nada podia ser explicado.

- Como fez esse machucado no queixo? - perguntou Theo na hora da janta.

- Acabei caindo quando voltava para casa. Não foi nada demais.

- Dói?

- Um pouco - respondi depois de alguns instantes

Então o menino caminhou para o outro lado da minúscula mesa, onde eu estava, e depositou um beijo no lugar ferido. Sorri e lhe dei um grande abraço, fechando os olhos e o agradecendo imensamente.

- Vou amanhã de novo.

- Enlouqueceu? - quase gritou minha mãe - Já pensou se acontece novamente? E quem sabe ainda pior?

- Eu vou me precaver desta vez! Posso sair mais cedo, pedir para Malia me indicar algum ponto de ônibus, ou até ir para a casa dela, quem sabe.

- Não vou deixar você correr esse perigo de novo.

- Mãe, vai ficar tudo bem, pode confiar.

Ela me lançou um olhar desconfiado, mas assentiu com a cabeça e foi se deitar.

- Pelo menos, cumpri as promessas. A de arranjar um emprego e a de voltar viva. - falei.

Sorri al terminar a frase, mas quando olhei para a mulher, esta estava a ponto de chorar.











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