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- Garota, é melhor explicar essa história direito. Ou você caiu rolando de um penhasco ou foi atacada por terroristas. Você tá uma derrota! - nem precisei dizer nada ao ver Malia. Ela já foi direto pro assunto.

- Não foi nada disso - levantei a cabeça para encarar a ruiva de olhos verdes que me olhava com certa preocupação. Senti uma pontada de inveja, mas deixei pra lá. Então lhe expliquei tudo, observando como o formato de "o" em seus lábios aumentava cada vez mais.

- Mai minina! - ela correu e me abraçou. - Nunca mais deixo você ir embora sozinha! Meu Deus, como você é forte, mineirinha! Tem certeza que tá tudo bem?

- Sem contar a terrível dor de cabeça, os braços e o queixo ardendo e minhas pernas que ainda doem, tá tudo bem sim - disse com certa ironia.

Malia se desvencilhou de mim, e pude ver o sorriso no seu rosto.

- Sabe querida, você vai se dar bem nisso tudo. Nessa coisa da guerra. Você é forte. Não te conheço direito, mas já te considero muito.

- Daí também tem a minha vó. Ela sai depois do almoço para trabalhar e volta de madrugada. - virei-me para a ruiva, que secava o suor da testa com a manga da blusa - Você não me falou nada sobre sua família.

Nosso trabalho era repetitivo e exaustivo. Consistia em desempacotar livros, organizar na ordem certa, limpar estantes, arrumar na estante. Desempacotar, organizar, limpar, arrumar. O dia todo. Todo dia. Tínhamos muito tempo juntas então usávamos esse tempo para conversar.

Vi algo pesado e sombrio passar pelos olhos dela, mas logo desapareceu.

- Eu não tenho família - ela falou com tanta normalidade que parecia que dizia que não tinha calça jeans no armário. - Meus pais morreram há alguns anos atrás. Eu estava morando com meu irmão mais velho, Lucas, até que completei dezoito anos e ele se casou, me deixando sozinha em casa

- Mas você ainda tem seu irmão, ainda tem família.

- Ohana quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer.

Senti uma rápida vergonha e tristeza por Malia. Ela era uma moça tão feliz e extrovertida. Quem olhasse não diria que já sofreu na vida.


- Sinto muito - disse, abaixando a cabeça.

- Ah, relaxa. Veja pelo lado bom. Se meus pais estivessem aqui, eu teria que me preocupar com a segurança deles em relação à guerra. Agora, ninguém precisa se preocupar comigo e nem eu por ninguém.

Sei que nos conhecíamos a muito pouco tempo, mas senti uma pontada de tristeza.

- Menos com você, claro. - declarou.

- O sentimento é recíproco - sorri para ela.

- Eu hein, quanta formalidade. Fale na minha língua.

Malia insistiu muito para ir embora comigo, mas eu recusei, pois afinal, depois ela teria que voltar todo o caminho sozinha, já que eu não tinha condições de acomodá-la em casa.

Então ela me indicou um ponto de ônibus mais próximo de sua casa e me levou até lá. Esperei pelo ônibus e entrei, sentando me no assento do fundo, agradecendo mentalmente por não ter que andar.

Peguei meu celular e resolvi mandar uma mensagem para alguém em especial.

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