9 - As probabilidades nem sempre estão certas

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"A única diferença entre a loucura e a saúde mental é que a primeira é muito mais comum."

Não estava nada surpreendido... De acordo com a minha experiência, neste ramo, as pessoas são todas malucas (eu não sou, não se preocupem), mesmo o meu chefe. São todos obcecados com a sua própria vida, e apenas isso. Nada mais lhes interessa; fingem que são normais e que gostam muito da mulher e do filho mas por dentro não querem saber. Estão-se a f*der para isso (peço desculpa pela expressão, mas era necessária para expressar a minha ira). É tudo para eles... Cambada de egocêntricos.

E exijo outra pausa da minha escrita por outro bocado para pensar que agora apenas me fiz parecer muito mais culpado... Não queria fazer isto e peço imensa desculpa. Sei que não se deve falar mal dos mortos mas... as regras são feitas para ser quebradas...

De qualquer maneira, na altura achei que estava a perder o meu tempo. Meti-me outra vez dentro do meu carro (ainda com os phones) e saí de lá. Estava a pensar em ir logo falar com o senhor Leonardo Paiva (o senhor que, supostamente, tinha ameaçado o meu chefe, mas fui interrompido pelo meu amigo, que me ligou, a perguntar se lhe podia dizer quem era o homem que tinha ameaçado a "sua vítima". Na altura pensei "Consegues ser mais preguiçoso?" mas resisti à tentação. Apenas lhe respondi:

- Leonardo Paiva. Era o senhor com quem ele tinha uma reunião hoje.

- Obrigado. - disse ele. Como ainda não tinha desligado a aplicação que estava a utilizar antes, ouvia-se tudo duas vezes. Assim, ele perguntou-me: - Porque é que está tanto eco?

- Hm... 'Tou na casa de banho.

- E dá para ouvir um motor ao mesmo tempo porquê?

- Se... Sei lá... - disse eu, um pouco assustado. Não queria ser descoberto. - Deve ser a porcaria da rede... Olha, eu tenho que ir...

- Ok... Vou-te deixar acabar os teus... negócios.

- Adeus. - despedi-me eu, desligando o telemóvel imediatamente. Inspirei fundo e expirei. Estava a tentar permanecer calmo. Atirei os phones para o banco do passageiro, encostei o carro na berma e pus a mão na cabeça, inspirando e expirando bem fundo.

Passados 5 minutos fiquei mais calmo. Já não estava constantemente a pensar que poderia ser apanhado e apenas pus os phones outra vez e comecei a conduzir. Logo a seguir fui parado por um polícia e ele passou-me uma multa de 350€ por estar a conduzir com phones. Ao menos não me perguntou o que eu estava a ouvir, por isso não foi assim tão mau, tirando o facto de ser uma multa.

De qualquer maneira, a multa não teve nenhum impacto em mim. Assim que estava a uma distância considerável do polícia fui para casa.

Já em casa pus um alarme para sempre que a escuta "ouvisse" sons iguais ou acima de 50 decibéis e fui à minha vida, que na altura foi só ver televisão durante um bocado. Fui interrompido por uma notificação algum tempo depois e estive a ouvir toda a conversa que ele agora estava a ter com o Sr. Paiva. Já estava a meio. O meu amigo estava a falar:

- ... de saber porque é que ameaçou Pedro Alves.

- O quê? Não fiz nada disso.

- Hm... Então quer explicar isto que estava na agenda dele hoje?

- Isso pode ser de qualquer pessoa. Repare que não diz nenhum nome! - exclamou Leonardo, começando a ficar um pouco chateado.

- Sim, mas as probabilidades fazem-no o nosso principal suspeito e...

- Como é que eu poderia ter-lhe dito alguma coisa se as únicas conversas que tivemos foram por mensagens de texto entre dois telemóveis que foram enviadas com as instruções precisas pela minha assistente?

- Quer dizer, ela - Aqui presumi que o Carlos estivesse a apontar para alguém fora da divisão, que, com a resposta que veio a seguir, ajudou-me a perceber que esse alguém era o assistente de Leonardo.

- Sim.

Houve um curto (mas ao mesmo tempo longo) silêncio e depois ouviu-se o meu amigo a falar outra vez.

- Desculpe... senhora. Preciso de falar consigo acerca do... - Houve outra vez uma pausa mas mais curta e depois ouvi o Carlos a gritar: - PARE!

Pelos poderes de dedução percebi que ele estava a persegui-la. E percebi logo que não ia acabar assim muito bem.








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