"Mesmo que não queiram admitir, todos precisam de ajuda".
Nos minutos que se seguiram não ouvi nada para além do som que a respiração do meu amigo fez e os gritos dele, a pedir que a suspeita parasse.
E foi aí que pensei em ir ajudá-lo. Não parecia que fosse dar conta do recado sozinho (outra vez, não quero falar mal de ninguém...); muito pelo contrário: os berros dele tornaram-se cada vez mais elevados, como se a suspeita se estivesse a afastar cada vez mais. O único problema que teria que enfrentar caso sempre o fosse ajudar era ele possivelmente perceber o que é que se passava... Ele podia-se aperceber da escuta. Mas podia inventar uma desculpa, a partir de outra desculpa, ou seja, dizia uma que era obviamente uma mentira e depois encobria com outra mentira menos óbvia.
Como achei que este método podia mesmo resultar, decidi ir (sabia onde era o edifício porque eu tinha lido as mensagens todas e estava lá a localização do escritório). Liguei o carro e comecei a viagem, mas alguns metros depois tive que parar o carro.
Eu fiquei completamente surpreendido. .. Uma fila de carros que aparentava ser infinita ocupava todas as faixas da estrada por algum metros, e nenhum dos carros se mexia.
Como sou muito rápido (em termos de criar planos), pensei logo numa solução: procurava no meu telemóvel barulhos de sirenes e com a minha coluna (que estava na mala do carro [eu sei... tenho lá muita tralha]) aumentava o som. Assim, os outros carros pensavam que eu era polícia e deixavam-me passar. Então sem pensar muito, desbloquei o telemóvel e transferi a aplicação com a wi-fi que tenho no carro. Saí do carro e fui buscar a coluna. Fechei a mala e voltei a entrar no carro. Esperei pelo final da transferência e depois de ligar o telemóvel à coluna, liguei as sirenes.
Senti-me tão poderoso! Todos os condutores desviavam-se como se fosse um rei. Consegui passar, apesar de ainda ter demorado um bom bocado. Demorei 9 minutos mas consegui sair daquele inferno.
Continuei a viagem e desliguei a sirene que já me estava a irritar, tendo atirado a coluna para o banco de trás. Não se pode dizer que tive propriamente uma viagem atribulada, visto que os restantes 7 minutos foram bastantes calmos. Até nem estava com muita pressa...
Já me tinha esquecido acerca do que é que estava mesmo lá a fazer. Com toda a música alegre que tinha na rádio e os ritmos todos com os quais eu me divertia, batendo no volante, já nem sequer queria saber. Apenas conduzia em direção ao edifício, sem me lembrar do objetivo da minha viagem. Até que cheguei lá e comecei a ouvir o Carlos a gritar:
- PARE!
Foi aí que eu me lembrei. Estava lá para o ajudar. Pela esquina vi uma mulher a correr. Parei o carro e observei-a. Ela parecia ter 20 anos. Nem parecia ter idade para já estar a desperdiçar a sua vida em ser assistente de um homem. Os óculos dela quase que caíam do nariz dela mas ela controlava-os com um dedo, voltando a colocá-los no nariz. Não conseguia ver muito mais, pois ela corria com uma grande velocidade.
Liguei o carro outra vez e dirigi-me para ela. Não tinha intenção de lhe fazer nada de mal, mas queria assustá-la. Talvez assim ela baixasse a guarda e assim o meu amigo conseguisse apanhá-la. Talvez. Mas não tinha a certeza. Dirigi-me em direção dela e ela bateu no capot. Logo a seguir o Carlos apareceu. E ao ver o meu carro, perguntou-me:
- O que é que estás a fazer aqui? - e eu respondi-lhe, encolhendo os ombros:
- Só estava a dar um passeio por aqui.
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Água fria ou quente?
Misterio / SuspensoToda a gente tem a sua história, no qual conta o seu mundo. O meu mundo? Um autêntico desastre, depois de começar a ser suspeito numa investigação de homicídio. O meu chefe foi baleado depois de se ter afogado no seu local favorito, mas eu prometo...