14 - Desigualdade emocional

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"Nunca se pode prever ou tentar prever reações. Ninguém é igual"

Ele era, até agora, a única pessoa (tirando eu) que tinha meios para o ter matado. Sim, a sua irmã poder-lhe-ia ter pedido favores - também era uma hipótese que não poderia ser excluída -  mas não pensava que ela fosse capaz.

Saí dos meus pensamentos e continuei a ouvir o interrogatório. Pelo que me parecia ele estava a confirmar o álibi de Bárbara.

- Senhor Mário, preciso de saber se a sua irmã estava em casa consigo ontem entre as 9 e as 10.

- Ela 'teve comigo a manhã toda... Acordámos às 8 para irmos visitar os nossos pais e só voltámos às 11.

- Ok. Obrigado.

Ele saiu do apartamento (pelo menos pareceu-me) fechando a porta atrás dele com força. Enviou-me depois uma mensagem que dizia "Já estive a falar com a amante. Ela tem álibi...". A mensagem devia continuar mas não li o resto. Estava demasiado ocupado com o meu bacalhau. Passados uns 10 (se calhar 20) minutos li a mensagem e eram informações que eu já sabia sobre a amante e o irmão. Enviei-lhe depois uma mensagem a pedir que ele pensasse desde o início. A pedir que pensasse em quem é que tinha meios para fazer aquilo, mesmo que não fosse suspeito.

Queria que ele percebesse a que é que eu me estava a referir mas não fui muito óbvio. Ele incluiu todas as pessoas relacionada e que trabalhassem nas piscinas e excluiu o senhor Leonardo e a sua assistente, que, surpreendentemente, ainda não tinha sido interrogada. 

Deixei-o pensar durante muito tempo. Não fiquei atento ao telemóvel durante muito mais tempo e deixei-me adormecer. No dia anterior não tinha conseguido dormir muito porque ainda era aterrorizado pelo corpo do meu chefe apenas a flutuar. Mas consegui adormecer daquela vez. 

Passadas duas horas ou assim voltei a ligar a aplicação. Ele estava neste momento a interrogar a assistente. 

- Então, senhora...

- Mércia... Mércia Ramos. - disse a mulher.

- Senhora Mércia, pode-nos dizer porque é que fugiu? 

- Porque sei que vocês sabem que eu ando a roubar aquelas lojas todas... 

- Que lojas todas?

- O que é que quer dizer? - Aqui a mulher fez uma pequena pausa. - Espere, não é por causa disso?

- Não. É mesmo por causa de ser suspeita no caso do assassinato de Pedro Alves.

- Esse tipo? Não... Provavelmente estou aqui porque ameacei-o e vocês interpretaram isso a sério... Mas não. Ameaçar pessoas sempre foi a táctica do meu patrão e decidi utilizá-la mesmo sem o consentimento dele. Agora se esse gajo interpretou tudo como se fosse a sério não é culpa minha.

- Hm, ok. Onde esteve ontem entre as 9 horas e as 10, senhora Ramos? - perguntou o meu amigo.

- A dormir.

- E há alguém que possa confirmar isso? - perguntou ele, desconfiado.

- O meu namorado. Acho que ele perceberia se eu saísse da cama... 

- Ok. 

Ele saiu da divisão e foi fazer qualquer coisa que eu não percebi o que era. Mas minutos depois recebi uma mensagem a dizer que tinha descoberto uma coisa chocante: que o irmão da amante era o diretor das piscinas.

Eu não fiquei assim tão chocado como a minha mensagem mostrou, porque já sabia. Não era um news flash... Mas ele agora sabia. Como iria reagir? Afinal, nem todos reagimos da mesma maneira. No mundo sempre houve e haverá desigualdade emocional.



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