~Bom dia, boa tarde, boa noite, pessoas! Aqui finalmente jaz o primeiro capítulo de Queimada, espero que gostem. Para me inspirar a escrever eu tenho ouvido muito Melanie Martinez, o CD novo dela está de morrer, mas para o capítulo de hoje, coloquei na mídia a primeira vez que ouvia essa guria cantar! Boa leitura!~
-Cássia, venha para dentro! Hora do jantar. –Papai gritou de dentro da casa.
-Seu pai está cada vez mais chato. –Bram disse parando o balanço de flores que papai tinha feito para mim há alguns anos.
-Ele só está sendo superprotetor. Como sempre. –Eu disse me levantando e segurando sua mão com minha mão direita.
Bram era tudo o que uma garota poderia querer. Bonito, engraçado, romântico com um ar rebelde e casaco de couro preto. Ele tinha uma leve barba por fazer e seus olhos verdes eram grandes e brilhantes sob suas grossas sobrancelhas.
-Nos vemos amanhã? –Ele perguntou e fiz que sim com a cabeça, ele beijou minha testa e saiu pelo jardim.
Caminhei pelo gramado até o batente da entrada da casa pensando comigo mesma como eu tinha sorte de ter Bram, um amigo de infância, alguém que eu não precisava temer e que sabia que podia contar. Cavalheiro e perfeito em todos os sentidos. Eu sentia falta de Melissa também, é claro, ela tinha ido para Baton Rouge há alguns anos tentar fazer carreira de dançarina nos clubes da cidade grande. Seu jeito louco e espevitado sempre foram um atrativo para mim e ela sempre me convencia de fazer as coisas mais loucas.
-Vá lavar as mãos para o jantar, Cass. –Papai disse assim que fechei a porta.
-Sim, papai. –Respondi, me apressando até o banheiro no fim do corredor e ligando a torneira.
Levantei o rosto e dei de cara com o meu reflexo olhando para mim e meu estômago embrulhou. Como sempre acontecia quando olhava em meu reflexo. Do lado direito, eu tinha olhos castanhos cor de bronze, sobrancelha fina e angular, nariz reto e um pouquinho arrebitado na ponta, lábios cheios e naturalmente avermelhados, meu cabelo castanho bronze era bem cheio desse lado e caia em ondas leves até a altura dos meus seios. Porém do lado esquerdo, meu rosto era uma bagunça. Cicatrizes cobriam todo o lado esquerdo do meu rosto e pescoço deixando parte de minha cabeça careca, por isso, eu usava meu cabelo dividido em um lado. Meu olho era apenas uma fresta amarela e castanha, sem sobrancelha ou cílios, eu nem enxergava com aquele olho e meus lábios eram apenas uma mancha avermelhada em meu rosto avermelhado.
Era repugnante.
Eu não sabia como meu irmão Kassian e papai e Bram conseguiam olhar para mim sem sentir nojo. Meus vestido cor de chumbo brilhante de cintura baixa listrada horizontal com prateado que ia até os joelhos e minha sapatilhas prateadas eram os únicos pontos de beleza em mim.
Sequei minhas mãos e segui para a sala de jantar onde Kassian e papai e Mara, a empregada de cor da casa, servia o jantar.
-Boa noite, boa noite, Mara. –Falei sentando-me à mesa.
-Boa noite. –Todos responderam.
-Com quem estava no jardim, Cass? –Kassian perguntou sem tirar os olhos de seu livro da escola de medicina.
-Bram. –Respondi e então me dirigi a papai que vistoriava as correspondências do dia. –Chegou algo de Melissa, papai? Ela disse que escreveria.
-Não, querida, mas as fotos que batemos no começo do mês chegaram. –Ele disse rasgando o envelope.
-Eles mandam pelo correio? –Kassian perguntou, mas papai apenas resmungou qualquer coisa, sacudindo a cabeça enquanto passava as fotos uma a uma.
Coloquei o guardanapo em meu colo observando minha família. Kassian colocou seu livro de lado e me imitou enquanto papai deixou a correspondência para lá e se serviu para que pudéssemos nos servir também. Mara foi para a cozinha, nos deixando em família para comer o jantar.
Kassian era gracioso em cada movimento, era um rapaz de boa aparência, olhos castanhos como os meus e cabelos escuros e lisos, sempre penteados para trás, na altura dos olhos quando caiam para frente e sua barba estava sempre bem aparada. Usava terno cinza com sua gravata de cetim prateada, acabara de voltar da escola de medicina, eu sabia. Julgando por seus ombros que eram mais estreitos que o da maioria dos rapazes, ninguém acreditaria que ele jogava rugby. Ainda mais como atacante. Papai também usava terno, mas era marrom com gravata combinando, ele ficava o dia todo em seu escritório na cidade, era sócio de uma firma de advogados. Seu cabelo era loiro escuro e seus olhos eram castanhos como os meus e de Kassian, sua barba estava sempre bem feita e mesmo em seus quarenta e tantos anos, ele era um homem de boa aparência.
Afinal, era importante que aparentássemos perfeição.
Eu não via mamãe há tanto tempo, que mal me lembrava de seu rosto. Kassian diz que estou reprimindo memórias dolorosas, por causa do que ela fez comigo, mas não acho que seja isso. Embora eu não lembre quase nada antes daquele dia. Kassian diz que mamãe descobriu que papai estava tendo um caso com outra mulher e surtou. Ela está internada numa clínica para loucos no campo, não tenho notícias se ainda está viva ou se ainda está bem. Papai acha melhor assim.
Kassian e papai fumaram ao todo seis cigarros durante o jantar, tenho papai fumado a maioria. Eu não fumo, mas gosto do cheiro de nicotina e tabaco que fica impregnado na casa e nas roupas.
-Kassian, quero falar com você a sós. –Papai disse a Kassian, mas dirigindo-se a mim de forma indireta. Limpei a boca e me retirei.
Como boa garota, fiquei ouvindo atrás de porta.
-Qual o problema. –Kassian perguntou e houve um momento de silêncio. –Isso é... Preocupante.
-Naquele dia, ela havia reclamado comigo que o fotógrafo havia sido rude e que ela teve de ordenar mais de uma vez que tirasse uma foto com ele. –Papai disse e ouvi um suspiro e então outro momento de silêncio.
-Tenho um amigo que trabalha no ramo, posso chama-lo e ele lidará com isso na máxima discrição.
-Sim, faça isso, não quero mais escândalos sobre esta casa.
Mais escândalos? Um amigo que trabalha no ramo? O fotógrafo com quem discuti? Do que eles estavam falando? O que estava havendo? Não parecia certo da parte deles falar de mim pelas costas, eles não costumavam fazer isso, que eu soubesse. Algo estava muito errado.
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Queimada ( #2 Duologia Arruinada)
Historical Fiction1926: Quando Cassia tinha 8 anos de idade sua mãe a atacou, aparentemente por ciúme, queimando Cássia quase completamente e deixando-a para sempre com cicatrizes em quase todo o corpo. Agora aos 18 anos, ela tenta seguir em frente com a ajuda de se...