Quando acordei, acordei num susto. Suada, numa camisa de força numa sala acolchoada. Não havia luz vinda de lugar algum, tudo que eu via era a cor vermelha. Vermelho e mais vermelho. Balancei-me para frente e para trás tentando me acalmar.
Há quanto tempo eu estava aqui? O que tinha acontecido?
-Tem alguém ai? –Eu chamei, mas não houve resposta. Até que alguém abriu a porta e levantei alerta, usando a parede de apoio. –Quem está ai?
-Cássia? –A voz perguntou trêmula e estreitei os olhos tentando ver melhor. -Cássia! Você se lembra de mim?
A pessoa se aproximou insegura e quando finalmente vi seu rosto, quis gritar de alegria.
-Kassian! –Eu me joguei contra ele e ele me abraçou com tanta força que quase não conseguia respirar
-Ela está acordada? –A voz na porta chamou minha atenção.
-Pete? –Perguntei e ele veio até mim e desatou a camisa de força ao que me joguei em seus braços.
-Cassia eu sinto tanto, me perdoe por tudo.
-Não foi sua culpa, nada daquilo foi sua culpa. –Eu sussurrei para ele que me apertou num abraço de urso, respirando contra meu pescoço.
-Com licença, eu tenho outros pacientes aqui. –Lyzander disse da porta, minha mãe estava ao lado dele, insegura.
-Mãe. Está tudo bem. Estou melhor. –Eu disse ao ela que assentiu com a cabeça. Kassian estava olhando de mim para ela.
-Mãe? –Kassian perguntou e fiz que sim com a cabeça e ele correu para abraáa-la. –Mãe. –Ele respirou. –Eu sinto tanto por não ter vindo antes
-Eu contei para ele o que você me contou. –Lyzander me disse enquanto eu evitava olhar para ele. –Sobre o seu pai. –Apertei a mão de Pete que apertou minha mão em resposta. –Ele revistou sua casa e encontraram fotografias, evidências do caso. Seu pai está na cadeia.
Exalei com força, tonta de alívio e só não cai sentada porque Pete me segurou. Kassian veio até mim com mamãe ao seu lado.
-Me desculpe, eu devia ter visto ou percebido antes. –Kassian disse.
-Você era só uma criança. –Mamãe disse. –Vocês dois, eu devia ter feito algo a respeito, mas só piorei as coisas. Desculpem-me.
-Não foi culpa de vocês. –Eu disse. –Eu devia ter dito o que estava acontecendo. Nunca falei nada. Eu deixei isso acontecer. –O choro que irrompeu de mim naquela hora sentia como se fossem anos de lágrimas contidas.
Eu recebi alta do Asilo em agosto de 1926. Fiquei internada por três meses até que o tratamento finalmente corrigiu o problema na minha cabeça. Recebi um total de 106 sessões de eletrochoque em meu cérebro e injeções diárias de cânfora até que por fim minha mente se reestruturou.
Com meu pai preso numa pena de dez anos, Kassian, mamãe e eu voltamos para nossa casa. Mamãe ficou viúva durante uma rebelião da prisão poucos meses depois. Kassian herdou a maior parte da fortuna de papai enquanto mamãe e eu dividimos 27% para cada uma. Com minha parte, fiz uma cirurgia plástica que tornou minha aparência mais aceitável.
Pelo menos para mim. Agora eu poderia me olhar no espelho sem sentir tanto nojo.
Nunca nos faltou nada. Kassian trabalhava de nove as cinco no escritório e mamãe conseguiu uma coluna no jornal local escrevendo dicas para donas de casa. Eu não tive tanta sorte.
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Queimada ( #2 Duologia Arruinada)
Historical Fiction1926: Quando Cassia tinha 8 anos de idade sua mãe a atacou, aparentemente por ciúme, queimando Cássia quase completamente e deixando-a para sempre com cicatrizes em quase todo o corpo. Agora aos 18 anos, ela tenta seguir em frente com a ajuda de se...