Capítulo 4.

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            Subo no ônibus com minha mochila super pesada. Sento no último assento e pego meu celular.

Vou para casa ao som de One Direction. 


Passo pela porta sentindo o aroma de comida sendo preparada.

Me deparo com a Margaret preparando um delicioso almoço.

Margaret é nossa faxineira. Ela cuida de tudo, tudo mesmo. Limpa de cima a baixo. Como meus pais estão sempre em viagens de serviço, Maga –apelido, só para os íntimos – é sempre minha companhia. Apesar de não dormir na minha casa, pois tem seus filhos para cuidar, ela passa a maior parte do dia comigo. Não reclamo, afinal, ela só cuida do serviço e quase não tem tempo para conversar. Mas sua presença já me é satisfatória.

-Olha só quem chegou. –diz, simulando uma comemoração.

Estranho o fato de ela estar preparando comida tão cedo, pois fomos dispensados e voltamos para casa algumas horas antes do horário normal.

-Você sabia que eu voltaria mais cedo? –pergunto, virando um pouco a cabeça e arqueando as sobrancelhas.

-Seus pais ligaram. Já estou avisada. –comenta, rindo.

"Seus pais ligaram". Fico sorridente ao ouvir essas palavras. É sempre bom saber que se importam comigo, mesmo estando à quilômetros de distancia.

Subo para o meu quarto e já organizo minhas coisas, para que o ataque de atraso não ocorra novamente. Pego cartolinas, tintas, pincéis e lápis de cor. Tudo para fazer um trabalho impecável.

Ligo meu computador e vejo se tenho algum email. Como minha vida não é tão agitada, desligo o aparelho, pois não chegou nada na minha caixa de mensagens.

Ouço Margaret gritando lá em baixo, avisando que já está tudo pronto. Desço imediatamente, aguardando ansiosamente o momento em que saborearei as delícias da minha melhor companheira de domicílio.

-Fiz a quantia de comida que dá para nós duas. –afirma.

-Quero comer essa quantia logo. Está com uma cara ótima. –exclamo, já com água na boca.

Me sirvo rapidamente, para não atrasar meu compromisso. Maga me pergunta o motivo de tanta agitação. Como meus pais não estão aqui, respondo de boca cheia.

-Presifo fafer um trabafo.

-Por favor, coma primeiro. –diz, limpando toda a sujeira que joguei na sua cara.

Após almoçar, subo correndo para o banheiro. Tomo uma ducha rápida e me troco.

Apanho minha surrada bicicleta na garagem, a fim de chegar rápido na casa de Miriam para não ouvir sermões. Subo e pedalo. Muito simples quando se tem dezesseis anos, mas quando se tem seis, uma bicicleta pode se tornar um pesadelo. Me lembro perfeitamente quando subi em uma pela primeira vez. Corrigindo, quando tentei subir em uma pela primeira vez. Foi aterrorizante. Subia e caia, como uma grande montanha russa. Mas com o tempo fui me acostumando com as quedas, e com elas, consegui ficar de pé.

A casa da Miriam não é tão longe, porém, também não é tão perto. Fica a alguns quilômetros de distancia. Chuto uns 10 km, mas acho que estou longe de acertar a quantidade certa. Nunca fui boa em matemática, mas por algum motivo não identificado, eu realmente gosto desta matéria. Sou uma pessoa imprevisível, como já puderam perceber.

Pedalo, pedalo e pedalo. Tiro o suor da testa e continuo pedalando. Chego a um momento em que me pergunto se estou na direção certa, até avistar sua casa extravagante –como ela- na próxima esquina.

Sua casa é rosa. E não um rosa comum, longe disso. A casa é um rosa choque e bem chamativo. Miriam é uma pessoa chamativa, ao contrario de mim. Ainda não sei exatamente como nos tornamos amigas. Mas como diz o ditado: "Os opostos se atraem". Esse é um ditado que carregarei comigo a todo tempo que estiver ao lado de Miriam.

Me aproximo do portão e toco a campainha. Logo Miriam atente e autoriza a minha entrada. Noto que está mais animada que o normal, e por isso, já sinto um frio na barriga ao saber o que está me aguardando.

Estaciono minha bicicleta e entro.

Sou recebida com muitas congratulações, coisa que eu achei improvável de se acontecer já que Miriam estava furiosa comigo horas atrás.

-Sobe. Já estou indo também, só vou pegar um suco. –avisou de antemão.

Não questiono.

Ao entrar em seu quarto, percebo que não estou sozinha, pois encontro coisas esparramadas por todo lado. Bagunça. Bagunça nunca foi o forte da minha amiga, apesar de não ser tão organizada. Admito que cometi um deslize em relação ao trabalho, mas Miriam teria mais chances de se esquecer.

Até o momento não me preocupei com o fato de ela ter se lembrado de algo tão vago, mas começo a pensar melhor sobre o assunto. Miriam jamais se lembraria disso se não houvesse mais coisas por trás disto.

Escuto um barulho estranho vindo do banheiro que tem no quarto. Preocupada, vou até lá para conferir se há algo de errado. O barulho acaba. E no exato momento em que vou abrir a porta, me deparo com Alex abrindo-a também.

Trombamos um com o outro. Quase caio, mas ele me segura firme.

-O que você estava pensando?! –disse ele.

Fico sem reação ao vê-lo sem a sua camisa, deixando sua parte de cima à mostra.

-Me responda. O que estava pensando?! –prossegue.

Volto à realidade e desgrudo-me dele imediatamente. Eu morreria se Miriam me visse naquela situação.

-Eu que pergunto! –digo, num tom um pouco mais alto do que o esperado. –Eu só queria saber de onde vinha toda essa barulheira. Ir ao banheiro e fazer silêncio não é lá tão difícil.

Minha ignorância vem à tona, deixando ambos desconfortáveis. Mas não peço desculpas.

-Desculpe. Não foi minha intenção. Mas não custava bater na porta. –diz, demonstrando no ato, como se eu não soubesse bater numa porta. –Você lida melhor com campainhas, pelo que percebi. –exclama, com um sorriso forçado no rosto. - Talvez eu peça para Miriam instalar um aqui.

Sei que está caçoando de mim, então revido, deixando-o envergonhado.

-Peça para Miriam colocar um closet também. Talvez você esteja precisando de camisas.

Sua cara fica vermelha. Boa, Georgia.

Miriam finalmente chega, e nós dois já estamos com uma distância apropriada. Ela não faz ideia do aconteceu, acho até que ela deveria saber, pois não fizemos nada demais, mas deixo esse assunto de lado e pego um copo de suco. 



GeorgiaWhere stories live. Discover now