Capítulo 7.

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Eu precisava disso. Precisava muito.

Acordo com o barulho da televisão. Ela ficou ligada a noite toda.

Minha aparência não está das melhores. Meu cabelo está terrível e meus olhos devem estar cheio de olheiras. Meu irmão ainda está dormindo, mas assim que percebo que tem algo de errado, levanto.

Já são seis e quarenta e três, o que significa que estou atrasadíssima para a aula e, provavelmente, o ônibus já passou. Puxo a janela ao ouvir um barulho de motor, corro e vejo o próprio ônibus, parando na minha rua e buzinando, para que eu apareça e suba para ir à escola. Toda destrambelhada, passo pela bagunça da sala, com pijama e tudo, e corro para fora, gritando, para que ele me espere, pois eu preciso ir para a escola imediatamente. Quando chego ao portão, grito mais alto, mesmo estando rouca, o que piora ainda mais a minha situação que já não estava a das melhores. Sacudo o braço, mas todas as minhas ações são em vão. O ônibus desce a rua e vai embora, me deixando ali, suja e sem o uniforme escolar.

Sei que não pode ficar pior e sei também que eu não poderia ter dito essa frase porque sempre piora ainda mais, e entro em casa as pressas. Subo e vou em direção ao meu quarto. Pego meu uniforme e me troco. Nem faço questão de tomar banho. Pego minha mochila e desço as escadas. Corro para o banheiro e tento ajeitar meu cabelo, faço somente um rabo de cavalo e sei que já é suficiente. O tempo é curto, então apanho a escova dental e vou até a garagem escovando os dentes. Subo ligeiramente no carro do meu irmão, e só então percebo que esqueci do mais importante. As chaves.

Mesmo não tendo um relógio por perto, sei que estou mais que atrasada. Penso em faltar, mas hoje tem uma avaliação muito importante e não posso perder por nada. Nem pela falta de chaves. Olho para trás de relance e avisto a minha bicicleta. Sei que é uma ideia absurda, mas eu não estou a fim de correr e chegar na escola mais ferrada do que já estou. Tiro a bike de cima do carro. O pneu, lembro. Coço um pouco a cabeça, mas não tenho outra opção a não ser essa. Subo e pedalo, como sempre faço, só que da pior maneira possível.

O colégio fica a mais alguns quilômetros da casa da Miriam, o que já muito longe.

Como o pneu está furado, demorarei mais tempo para chegar. Mas não penso em desistir e continuo a caminhada.

-AH, DROGA! EU PODIA TER PEGADO AS CHAVES! –grito. Grito no meio da rua, eliminando um pouco a minha raiva, mas não o suficiente. Minha cabeça está prestes a explodir, então, quando dou mais uma pedalada, minhas forças acabam. Fico na calçada, chorando. Choro, sem me importar com as pessoas que estão passando. Não ligo para elas, e não me importo também. Não agora. Sei que preciso ser forte e sei que preciso levantar pra chegar à escola, mas sei também que não consigo. Estou quebrada.

Minha cabeça começa a latejar e por conta do choro, ela dói cada vez mais.

Pego minha mochila, que ainda está molhada por causa do dia anterior, e procuro meu celular. Ele está encharcado, e minha vida também. O jogo no chão, descontando tudo.

Percebendo que as pessoas estão me observando estranhamente. Me levanto, com os olhos vermelhos e o nariz também, a cabeça doendo e o cansaço aparente.

Vou a caminho de casa de cabeça baixa. Não quero ter que ver ninguém. E não quero que ninguém me veja. Deixo a bicicleta ali mesmo, também não quero vê-la novamente.

Por quê?

A única coisa que penso é "Por quê?". Eu realmente não sei o que está havendo, não sei por quê estou me descontrolando de tal maneira. Não entendo o significado de nada. Eu só quero entender e quero consertar, se algo estiver errado. Preciso consertar. Mas como? Como consertar algo que eu não sei. Algo que eu nem sei se existe. Talvez eu esteja ficando psicótica ou talvez o estresse esteja me dominando.

Eu, na verdade, nunca tive férias. Sim, férias em família eu já tive, mas eu digo férias. Temporada de descanso. De deixar a cabeça e o corpo leve. De curtir a brisa no rosto. De descansar. Apesar de nunca ter tido essas férias, eu sinto falta disso. Uma hora as coisas estão ótimas, outra hora, estão desabando sobre mim. Eu não estou preparada para isso. Eu não tenho em quem me apoiar. Meu irmão tem as coisas dele. A vida dele. E não precisa de um peso a mais para carregar e nem eu quero isso. Não quero ser um fardo para ninguém. Mas eu não consigo pensar, só preciso descansar.

Me perco nos meus pensamentos, até que sou interrompida com uma buzina nos meus ouvidos.

Fecho os olhos e caio.

Percebo que tem uma multidão me rodeando, e não gosto disso. Não quero que me vejam no chão. Então me levanto, confusa e ofegante. Quero correr e fugir dali, fugir daquele alvoroço. Daquele monte de olhos ardentes e curiosos. E até mesmo confusos. Olho em volta. Eu quero sair daqui, agora. Apanho minha mochila do chão e corro, mas algo me interrompe.

Alguém me segura pelo braço, e eu não gosto disso. Debato-me, mas a pessoa me segura firme. Grito, empurrando o mesmo. Até que ele me faz parar no ato, olhando profundamente nos meus olhos e perguntando.

-Você está bem?

Não sei o que responder, pois sou hipnotizada pelo seu par de olhos azuis.



GeorgiaWhere stories live. Discover now