Capítulo 5.

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Boa, Georgia. 

O trabalho ficou impecável. Realmente muito bom. Não que esteja me gabando, mas me sinto muito orgulhosa com o resultado. Deveríamos representar a bandeira do nosso país da maneira que a vimos. E ficou impecável.

Percebendo que eu já estava arrumando minhas coisas para ir embora, Miriam chama minha atenção, dizendo:

-Mas você já vai? Ainda está cedo.

-Sim, eu tenho que ir. E também já terminamos o trabalho. –a lembro.

-É, mas eu a chamei mais cedo, pois sabia que sobraria um tempinho... –disse. Como eu pensava, Miriam estava animada demais para um trabalho que ela nem mesmo queria fazer. – E daí poderíamos sair e tomar um sorvete. O Alex, você e eu. Então, o que acha?

Fico espantada com o convite. Ela bolou toda essa estratégia para me fazer ir tomar um sorvete. Uma estratégia de mestre, admito. Mas bem idiota. Alex também parece não a entender, talvez esteja ouvindo a proposta pela primeira vez, assim como eu, e faz uma cara confusa.

-Miriam, eu realmente adoraria, mas eu não posso. Vim para fazer um trabalho e não para passear. –o que eu disse era realmente verdade. Não entendo o motivo de ela resolver me chamar, já que poderia ir somente com seu namorado. –O Alex está aí. Vá com ele. Marcamos outro dia, pode ser?

-Mas eu não quero outro dia. –desabafa. Miriam parece estar desapontada comigo, pela segunda vez no mesmo dia. Isso é um recorde.

-Eu, infelizmente, não posso ir. Me desculpe. –digo, e passo pela porta do seu quarto.

Os dois me acompanham até o portão. Me despeço e vejo, de longe, a expressão facial da minha amiga, que não é nada boa.

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Pego minha bicicleta a tomo o rumo de casa. A claridade está acabando, e a noite se aproxima. Não tem estrelas no céu, e isso não é um bom sinal.

Pedalo o mais rápido que posso, e como a minha bike não tem farol, fica difícil saber quando está vindo um carro ou quando tem algum obstáculo na minha frente.

Uma gota de chuva cai no meu nariz, e percebo que devo acelerar cada vez mais. Como estou sem fôlego, desço do "veiculo" e começo a caminhar. Mais pingos começam a cair, o que me deixa com a visão embaçada. Aproveito a descida e subo novamente na bicicleta.

Sem nenhum sinal de claridade, acabo caindo num dos pequenos buracos da rua, o que fura o pneu da minha bike.

Fico furiosa. Meu rosto começa esquentar, apesar de estar serenando e o todo o resto do meu corpo estar quase congelando. Chuva a noite é bom, principalmente quando já se está na cama. Mas quando se está no meio da rua, com uma regata e com uma bicicleta de pneu furado, com certeza, não é um bom momento.

Corro, e as gotas caem com mais voracidade. Estou encharcada. Ameaço chorar, mas não quero me molhar mais do que já estou.

Quando penso que não pode ficar pior, me lembro dos meus materiais. Dou uma olhada rápida, e vejo que minha bolsa está quase se transformando num aquário. Péssimo dia.

Caminho cada vez mais, até que avisto uma pequena mercearia, ainda aberta. Sem pensar duas vezes, adentro no local, molhando todo o chão.

Apesar de a placa indicar "aberto", não encontro ninguém no caixa. O que me amedronta. Fico no carpete, para não molhar mais o ambiente.

Meus dentes estão tremendo, assim como todo meu corpo. Estou toda encolhida, tentando me aquecer da forma mais inútil. Sei que não tenho outra escolha, e essa é a única forma de receber algum tipo de calor.

Alguém aparece no local, o que é um grande alívio. É uma senhora, não parece tão velha, mas não é tão nova. Preocupada, pergunta o que houve. Respondo. E imediatamente, ela pega uma toalha e me envolve nela. Finalmente o calor que eu preciso.

-Qual é o seu nome, garota? –pergunta.

-Georgia. Georgia Hayno. –digo, ainda trincando os dentes.

Sua expressão muda rapidamente, o que me deixa um pouco desconfortável. Mas não pergunto, porque até agora ela está sendo de grande ajuda. Pelo visto ela não conhece minha família, pois faz um sinal negativo quando digo meu nome.

-Você gostaria de tomar um chá? Oh, que pergunta! É claro que sim, você precisa de um chá. –diz, rindo de si mesma. Rio também.

Ela me convida para entrar em um dos cômodos que fica no fundo da mercearia. Assinto, não tendo certeza da minha escolha. Pergunto se tem algum telefone por perto. Ela diz que sim.

Ligo para casa. Fico um pouco apreensiva, afinal, já é tarde e a Maga deve ter ido embora e meu irmão está na casa de um amigo. Mas ligo mesmo assim.

Chama... E ninguém atende. Ligo mais uma vez. E de novo ninguém atende. Desisto.

Quando estou a caminho do cômodo novamente, o telefone toca. Penso na minha casa, mas acho que não. A senhora o pega e me chama. Sim, é da minha casa.

-Alô? –digo.

-Oi, Georgia. –pela intimidade, percebo que é meu irmão. –Está tudo bem? Onde você está?

Um sentimento de alívio percorre meu corpo.

-Estou em uma mercearia. Me alojei aqui. Está chovendo muito! Não consigo ir para casa e o pneu da minha bicicleta furou.

Olho para a senhora, que fica espantada, pois eu não mencionei a bicicleta.

-Você está com quem?! –pergunta.

-Estou com a... –fico envergonhada porque não perguntei o nome da senhora. "Clara", ela diz. –Clara.

-Mas quem é Clara? Olha, não importa. Me fala onde é que estou indo aí.

Explico o local e desligo o telefone. Clara me traz o chá porque sabe que eu tenho que ir embora logo.

Não há sinal de que a chuva irá parar. Então volto para o mercado e compro algumas coisas. Meu dinheiro está um pouco molhado, mas por sorte o coloquei na minha carteira, dentro da minha bolsa.

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Meu irmão chega rapidamente. Dentro do carro, ele buzina, o que indica que está na hora de ir embora. Finalmente, penso. Me despeço da Clara, agora uma amiga minha. Uma das poucas, corrigindo.

Ligeiramente, pego minha bicicleta, junto a meu irmão, e coloco-a em cima da caminhonete. Entro ensopada. Poucos minutos num toró fazem toda a diferença, acreditem.

Antes de o carro dar partida, abro a janela vagamente e agradeço novamente a Clara pela recepção.


GeorgiaWhere stories live. Discover now