Capítulo 6.

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Antes de o carro dar partida, abro a janela vagamente e agradeço novamente a Clara pela recepção. 

Chego em casa só o pó.

Estou molhada e faminta. Principalmente molhada. E eu, definitivamente, não gostaria de estar assim.

Minha garganta está doendo, então percebo que posso estar resfriada, o que é péssimo. Tenho muitas coisas programadas para esse fim de semana e não quero adiar nenhuma. Se considerar passar o dia inteiro na TV algum tipo de programação, estou arruinada.

Corro para o banheiro. Preciso do um banho antes de qualquer coisa. Um banho quente, bem quente. Melhor coisa nesse momento.

Fico no chuveiro por um tempo, deixando a água quente cair pelo meu corpo. Sei que já me molhei demais, mas isso eu não poderia recusar. Penso na Clara. Eu não a conheço, não faço ideia de quem seja, mas sinto que ela conhece alguém da minha família. Quando ouviu meu sobrenome ela abriu um sorriso, e isso deve significar alguma coisa. E eu quero saber o que é.

Já fui naquele mercado diversas vezes, na verdade, não tantas assim. Mas sei que nunca a vi trabalhando lá antes. Sempre era um velho rabugento e mal encarado. Provavelmente ele deva ser o marido dela, penso.

A imagem de Clara fica na minha cabeça durante o banho todo. Ela parece ser uma boa pessoa, talvez realmente seja. Não é qualquer um que aloja um desconhecido encharcado dentro de casa. Dentro do mercado. Ou dentro de casa, pois eu não sei se Clara mora lá.

Eu quero vê-la novamente para agradecer. Acho que vou amanhã mesmo.

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-O que você estava pensando?! –já é a terceira vez que escuto essa frase no dia. Já estou bem familiarizada com ela. E eu não sei o que estou pensando. Eu estou perdida e confusa. Tudo ao meu redor é a mesma coisa, mas eu não consigo encaixar as partes desse quebra-cabeça. Eu quero parecer bem, mas não estou. Estou perdida. Não sei o que estou pensando, o que estou fazendo. Eu quero gritar e perguntar isso em voz alta, mas as únicas coisas que saem de mim são minhas lágrimas, na camisa do meu irmão.

-Eu não sei. Eu não sei o que estou pensando. Não sei o que estava pensando. –Isso é realmente verdade.

Confuso, ele me abraça firme e sussurra no meu ouvido.

-Por que está chorando? –eu também não sei, só choro porque quero libertar algo de mim, algo que eu estava segurando desde que os pingos da chuva caiam na minha cabeça.

-Eu também não sei. Só me abrace. –clamo. O abraço do meu irmão é muito aconchegante. Sua futura esposa teria muita sorte de tê-lo ao seu lado.

Ficamos lá, deitados no sofá. Thomas acariciando meus cabelos ainda molhados, e eu enrolada em seu abraço.

-Georgia, só me diga por que está chorando. –meu irmão quer uma explicação, e não sei o que dizer, pois nem eu sei o que está acontecendo. Mas ele precisa de resposta, assim como eu precisava de calor enquanto estava na chuva.

-Eu... Eu não faço ideia. Eu só queria chorar e escapuliu. Sinto muito por molhar sua camisa com minhas lágrimas idiotas. Me desculpe. – é o que consigo dizer. Quero acrescentar algo, então continuo. – Eu só estou cansada, e deixar que as lágrimas caiam é a uma ótima terapia de descanso. Sério, você deveria tentar. – ele ri. Fico feliz de vê-lo rindo e fico feliz de também me ver rindo depois desse dia péssimo. Depois da chuva sempre vem o arco-íris, e Thomas é as cores que eu mais preciso nessa vida.

Pego o controle e ligo a TV. Coloco no Cartoon Network. Meu canal favorito. Está passando um daqueles desenhos engraçadinhos que meu irmão e eu gostamos muito.

Levanto e vou até a cozinha para buscar algum petisco para nós dois. Abro a geladeira e encontro um pote de sorvete na metade. O tempo está fechado e minha mãe, provavelmente, não me deixaria comer isso com resfriado. Mas ignoro e pego o pote mesmo assim.

Volto pra sala e meu irmão alerta.

-Um pote de sorvete? A mamãe iria ficar...

-"Uma fera". É, eu sei. Mas só pegue sua colher e coma, por favor. Mamãe. –brinco, e ambos caímos na gargalhada.

Comemos e dormimos ali mesmo. Com a TV ligada e com a sujeira do sorvete que devoramos. Eu precisava disso. Precisava muito. 




GeorgiaWhere stories live. Discover now