Capítulo 15.

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                Não entendi o porquê de toda a surpresa que irradiava a sala. Todos alí já lidaram com novos alunos e esse era só mais um.

Os outros fitavam o tal de "Théo" como se ele tivesse algo de especial, ou que fosse, não sei. Era possível saber que sussurravam seu nome juntamente a outras coisas que imaginavam que o garoto tinha.

Já eu não dava muita bola para o mesmo, só estava disposta a começar com a aula para poder ir embora. Diria que até o professor ficou atônito ao descobrir o nome do fulano.

Théo se sentou e esse foi o ponto de partida para desencadear a aula.

A matéria era inglês, que eu gostava muito. Me saia muito bem nas atividades, recebendo diversos elogios sobre tal. Mas dessa vez, por algum motivo, eu não parava de encarar o menino loiro que sentara na última fileira, também na última carteira, ao meu lado. Obviamente eu não dava pista de que o estava observando, fazia isso de maneira disfarçada. Confesso que ele era bonito. Sim, como os outros. Ou quase. De qualquer forma, era bonito. Tinha o cabelo jogado na cara, bastante atraente e que chamava a atenção. Sabia disso pois eu não era a única que o fitava descontroladamente.

Chegou um momento que ele me olhou de relance. Corei em fração de segundos. Mira notou minha ação, já que me cutucou exasperadamente.

-O que é? –Me viro para poder olhá-la.

-Eu sei o que você estava fazendo, e não tente desmentir pra mim. –Ela diz, convicta.

Era de se esperar que ela dissesse isso. Afinal de contas, Miriam me conhece melhor do que eu mesma. É estranho afirmar uma coisa dessas, porém, que a verdade seja dita.

-Eu só estava olhando.

-Olhando? Você estava o enforcando pelos olhos. Acha que eu não saquei? –Miriam solta as palavras um pouco alto demais.

Semicerro meus olhos, a encarando com um olhar espantoso, o que a faz se esgueirar lentamente. Sinto-me por vencida por tê-la temido.

Torno a prestar atenção na aula, sabendo que na saída minha amiga estaria lá para me encher de perguntas.

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E é exatamente isso que acontece. Miriam, num pulo, sai da aula logo atrás de mim, sendo nada discreta e me sufocando com seus questionamentos adolescentes.

-Eu sei que você está gamada nele. –Cantarola.

Me viro para ela, incrédula com sua alegação ridícula.

-O que? Que droga você fumou hoje?

Ela me mostra língua.

-Por que não parou de secar o garoto?

SECAR? EU NÃO ESTAVA SECANDO NINGUÉM!

Explodo em risadas.

-Eu não estava secando ele coisa nenhuma. –Falo assim que termino minha sessão de gargalhadas.

Caminhamos até o ponto de ônibus, ainda conversando sobre o menino. Carlos se aproxima de nós, me abraçando por trás.

-Olá, gatinhas. –Ele nos cumprimenta. Carlos é uma peça. Só lhe dou permissão para me chamar assim, com tanta ousadia, porque é meu amigo.

O cumprimentamos de volta e rapidamente a nossa carona chega. Subimos no mesmo e escolhemos sentar no fundo, para conversarmos melhor.

Nosso papo é certeiro. Continuamos falando sobre o Théo. Me estranho por não estar incomodada com isso, já que papear sobre garotos não é minha praia.

-Você viu? A Georgia estava secando o Théo. –Afirma Miriam.

-Já disse que não estava secando ninguém!

Carlos ri da nossa pequena discussão, pois nos conhece tão bem a ponto de identificar uma briguinha forçada.

O ônibus atrasa três minutos. É um acontecimento diferente, sendo que ele jamais nos deixa na porta um segundo a mais sequer. Descubro o motivo quando um loiro sobe as escadinhas e se acomoda nos fundos do transporte, assim como eu e meus amigos.

O olho de soslaio e sinto uma pontada de vergonha por razão alguma. Nunca fiquei com garoto nenhum. Não ficar, tipo namorar, pra ser direta, mas já dei uns beijinhos em festas que hoje, me arrependo em ter ido. Beijar garotos anônimos em festas anônimas é uma das mil coisas que eu risco da minha lista de afazeres.

Miriam se estica pra ir conversar com ele. Em certos momentos eu gostaria de ter esse seu atrevimento, e esse momento é um deles.

-Oi, meu nome é Miriam. Amiga da Georgia, a garota morena de cabelos lisos que senta do seu lado nas aulas de segunda. –Miriam solta as palavras numa pressa e vontade de dizê-las. E saber que meu nome está no meio disso me faz tremer.

Dou um chute de leve na sua canela insinuando a parar de falar. Meu ato é notável, de forma que Théo me olha e lança um sorriso de lado. Imagino que sua mente esteja gritando em risadas, totalmente contrária do que sua atitude quer representar.

Coro pela segunda vez e sorrio também, para disfarçar. Antes que minha amiga possa falar mais alguma baboseira, o ônibus dá uma arrancada e finalmente segue em direção à nossas casas.

-Já sabem meu nome. –Théo diz. Sua voz de perto é ainda mais suave de ouvir.

Rimos pela ironia do garoto.

-Por que se sentou aqui? –Miriam pergunta.

-Hm... Achei vocês legais. E diferentes do resto. Pensei em fazer amizade na sala, mas iria ser muita "pra frenteza" minha. –Ele diz me olhando.

-Não somos legais. Somos estranhos. –Digo, tentando entrar na onda.

-Não concordo. –Ele rebate. –Vocês são legais, estranhos... E bonitos. –Théo termina a frase num sussurro.

Distinguir minha cor acabou de se tornar um desafio, pois passei de corada para um vermelho pimentão. 

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⏰ Last updated: Jul 13, 2016 ⏰

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