Capítulo 12.

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    Sento novamente no sofá, e nesse exato momento a campainha toca.      

   Estou radiante. Uma felicidade que não cabe dentro de mim. Um momento que aguardo ansiosamente todas as vezes que meus pais dão recado. Quase sempre, mas não mensalmente.

   Quando podem, costumam vir duas vezes ao mês, mas infelizmente as coisas não estão indo muito bem na empresa, então esses momentos em família estão cada vez mais demorados de se acontecer.

   Admito que essas "faltas" me incomodam um pouco. Toda essa ausência me deixa deslocada, pois sempre estive acompanhada pelos meus pais na minha infância, e essa mudança de rotina na adolescência me deixa um pouco mal. Sim, ultimamente ando muito mal. Tudo me deixa extremamente abatida. Não sei se é por isso, e espero que não seja esse o caso.

   Corro em direção à porta e me deparo com meus pais. Lá estão eles.

   Dou um abraço apertado nos dois, e todo aquele sentimento de tristeza vai embora, ao menos por algum tempo.

-Como você está, querida? –Pergunta minha mãe, fabulosa como sempre.

Receio em dizer que estou péssima, porém, imagino que eles já devem ter problemas demais para solucionar. Como havia dito, "não quero ser um fardo para ninguém."

-Estou bem! Principalmente agora! –Abro um sorriso de orelha a orelha.

   Meu pai sempre foi muito observador, assim como eu. Ou eu, assim como ele. Aproveitando a visita, ele dá um "passeio" pela casa, para ver se está tudo em ordem. Minha mãe e eu sentamos no sofá, e ela faz perguntas do tipo: "Como você está?" "Como anda a escola?" "E seus amigos?". Mas em nenhum momento cita o Thomas em uma de suas perguntas.

-O Thomas está bem. Trabalhando duro, mas bem. Ah, e acho que ele está namorando, pois sai quase toda noite. –Digo, feliz.

-Oh, que legal. Bem, você cresceu bastante não é? –Minha mãe diz friamente, força um sorriso e muda de assunto em instantes. Isso me incomoda muito porque nenhum deles me diz o motivo de tanta secura e ignorância a respeito do meu irmão.

-Sim, cresci. O Thomas está juntando um dinheiro para fazer um curso da cidade. Ele está se empenhando muito nisso, espero que resulte em alguma coisa. A senhora também espera, certo?

-Eu desejo a ele o que eu desejaria para qualquer pessoa. Georgia, estamos falando sobre você. Não mude de assunto quando falo sobre algo que realmente me interessa. –Seu olhos estão cravados nos meus. Uma expressão de nervosismo ameaça aparecer em seu rosto. Essas frases me machucaram mais do que um tapa.

   Não sei se vou suportar passar mais alguns minutos junto à essas pessoas. Aos meus pais, especificamente.

   Uma preocupação toma conta de mim, e quero poder abraçar meu irmão. Por um lado, sinto pena dele por não ter um bom relacionamento com nossos pais, porém, por outro lado, fico feliz ao saber que não precisa lidar com isso diariamente e que não sabe o que falam sobre ele. Ao menos é o que eu imagino.

   Minha mãe tenta mudar de assunto, mas percebe que estou um pouco abalada após ouvir aquelas palavras vinda dela, então adianta nosso passeio chamando o meu pai para irmos logo para algum tipo de restaurante.

-Querido, acho melhor procurarmos um lugar mais reservado para almoçar. Não gosto de ambientes muito abertos ao público. –É a primeira vez que ouço minha mãe falando dessa maneira.

-Por que não podemos comer em lugares abertos? Sempre fizemos isso. –Pergunto.

-Porque sim, meu bem. Não quero comer em um lugar exposto. Algum problema com isso? –Ela me responde com uma pergunta. Quando minha mãe faz isso significa que fui estúpida. Concordo.

   Sou direcionada ao carro. Entro e fico quieta no banco de trás. Não faço questão de perguntar onde estamos indo, isso não me interessa.

>>>>

   O passeio foi tranqüilo. Depois daquele ataque de esquisitice meus pais agiram normalmente e conseguimos ter uma tarde divertida, por incrível que pareça. Fomos ao shopping e ficamos por lá até dar ar hora de irmos embora. Comprei algumas coisas que estavam faltando no meu armário e assistimos a um filme no cinema. Nem nos importamos com o filme, afinal, estávamos nos divertindo como sempre, mais nada importava naquele momento.

   Eles me deixaram em casa as cinco e depois foram embora.

   Thomas está no sofá, parece um pouco feliz. Seu trabalho na empresa acaba as quatro e ele costuma ficar na casa dos seus amigos até mais tarde, não sei por que hoje foi diferente.

-Eles não vieram se despedir de mim? –Sua pergunta é referente aos nossos pais. Balanço a cabeça negativamente. –Ah, isso não é novidade pra mim.

   Fico triste por ele. É provável que não esteja triste, pois como disse isso não é nenhuma novidade. E não é mesmo.

   Sento ao seu lado, deixando minhas coisas num canto. Por alguns minutos, ficamos em silêncio, mas depois Thomas recomeça a falar.

-O que você comprou? –Conheço meu irmão mais do que qualquer coisa existente nesse planeta, e por isso sei que ele jamais perguntaria isso se não estivesse com uma vontade absurda de conversar.

   Não quero falar sobre o que eu comprei, mas já que insiste.

-Ah, coisinhas de menina, como diz a Miriam. –Nós dois rimos.

   Voltamos ao silêncio. Ouvimos somente o barulho da TV. Não agimos como estranhos, mas estamos perto disso.

-Thomas, por que você não conversa com nossos pais?... –Ele quer mudar de assunto. Interrompo. –Eu sei que eu já perguntei isso várias vezes, mas você nunca me responde direito, sabe? Diretamente. Eu quero que você seja claro comigo. –Digo, da forma mais calma possível.

   Percebo Thomas está desconfortável.

   Como eu sou idiota! Meu irmão estava feliz, apenas curtindo o silêncio e eu apareci com uma pergunta dessas. Eu tenho que controlar minha curiosidade.

   Para não deixar a situação mais embaraçosa, tiro da sacola as coisas que eu comprei e mostro para Thomas. Mesmo sabendo que isso não é do interesse dele, nossa conversa vai tomar um rumo diferente e vamos terminar o dia bem.

   E é isso que acontece. 








   Oi, Georgiars! Sentiram saudades de capítulos novos? Espero que sim.
   Pois bem, vocês lembram que no recadinho que eu dei eu disse que não teríamos capítulos   postados nos dias "oficiais", digamos assim. E eu disse também que talvez demoraria, né? Acho que eu estava errada! 
   Então aproveitem esse capítulo novo, e como já sabem, se gostarem: curtam, compartilhem e comentem. 
   Até mais, pessoal.

GeorgiaWhere stories live. Discover now