"Suas mãos tocam meus cabelos e sinto um tipo de energia estática percorrer meu corpo. Sua respiração agora muito próxima a minha não deixa a entender o que acontecerá a seguir. Nossos corpos se encontram e se chocam e tudo é sensação. Sua boca na minha me deixa sem ar, suas mãos percorrem meu corpo e não sei mais dizer onde estão, somos apenas um. "
E então eu caio do sofá.
Ele está ali dormindo na mesma posição em que eu me lembro que estava antes de eu cair no sono como uma garotinha. Tive um sonho, um tanto estranho e agora sinto minhas bochechas vermelhas, como se ele pudesse ler minha mente... Ele não pode, não é?
Nossa parece que já é dia. Caramba a aula. Tenho que sair daqui. Estou com pena de acorda-lo, ele parece tão confortável nessa posição, sentado no sofá com uma perna sobre a outra. Ok, ele não parece confortável, mas sinto vergonha de falar com Gustavo depois desse "sonho impuro".
A energia finalmente voltou, posso reparar pela pequena luz no canto da televisão. Saio com o máximo de cuidado, sem fazer barulho algum, o que é um milagre para a garota desastre aqui.
Enfim consigo fechar a porta silenciosamente, suspiro, consegui!
***
Saí de casa correndo e por sorte cheguei a faculdade no horário certo.
Era obvio que a primeira aula tinha que ser de literatura, outra feliz coincidência não é mesmo? Sério acho que se deus existe ele definitivamente está lá em cima apontando e rindo da minha cara.
Todos os meus colegas já estão na sala, engraçado o professor Gustavo ainda não chegou.
Me sento ao lado da Blue e ouço ela me contar toda sua rotina matinal, fingindo que tenho interesse por isso. Ela bem que podia parar de falar em café da manhã, só está me lembrando o quão faminta estou agora, sai tão rápido que mal pude beber água.
Já se passaram quinze minutos desde o horário que estava na programação do dia para essa aula.
O Gustavo chegou, e bem ele não parece muito feliz.
- Bom dia turma, desculpem-me pelo atraso, houve um problema com o meu despertador, não irá se repetir.
Ele está me olhando com uma intensidade que quase me assusta, preciso olhar para os lados para ter certeza que só eu estou notando, e bem, as pessoas ao meu redor estão indiferentes a esses olhos verdes, só não consigo entender como elas fazem isso.
- E aí, Cool, babando no professor "gatxinho"!
- Quem, o que? Eu, eu não, eu eim...
Tento disfarçar fazendo minha melhor cara de "não ligo para isso" que mais parece cara de "sou um pato e tenho cólica renal".
- Que negócio é esse de Cool?
- Sabe, você é uma garota legal, so cool for the roça, achei que esse seria um bom apelido.
- Ei, eu não venho da roça.
- Diga isso para todas as pessoas que conhecem a sua cidade, por favor.
Eu não consigo evitar rir dessa piada, mesmo que eu tivesse contado realmente de onde venho maioria das pessoas nessa sala ia dizer que nunca ouviu falar.
Essa aula está realmente entediante, perdi minha parceira de conversa, por que bem, acreditem ou não ela está babando na carteira ao meu lado, para falar a verdade ela está até mesmo sussurrando em uma língua semelhante ao russo.
Sinto algo gelado em minhas costas e me viro lentamente, se for um monstro é melhor que seja assim, lentamente, não?
Encontro um par de olhos azuis que na verdade parecem um pouco envergonhados.
- O que você estava fazendo? Você colou um chiclete em mim, não foi?
- Ei calma, não colei chiclete nenhum não... Na verdade... hã...
- Fala logo, acho bom você não ter cuspido nas minhas costas.
A essa altura eu já imagino qualquer coisa.
- A, não, éca, na verdade, eu tenho T.O.C., transtorno obsessivo compulsivo e não consigo ver as coisas fora do lugar, e bem, a etiqueta da sua blusa estava pra fora, não consegui evitar, eu tinha que devolvê-la seu lugar de origem!
Juro que estava pronta para entrar em uma briga mas não pude segurar a gargalhada depois de ouvir ele falando isso de maneira tão cômica, ele parece meio assustado e eu não consigo evitar sentir simpatia por um desajustado, sinto meio que a aquela sensação de "bem-vindo ao clube".
- Então, você me desculpa?
- Não depois da aula vou ali à reitoria te denunciar por abuso sexual.
- Pelo amor de Deus, não faz isso não, eu nem fiz nada, eu te pago um café se você quiser, levo até suas coisas, não faz isso.
Eu juro que não esperava que ele fosse surtar, quase pude ver lágrimas nos olhos dele.
- Calma cara, eu estava só brincando, conhece sarcasmo?
- Sério, não se brinca com isso.
Esse menino está me divertindo bastante, não consigo segurar o riso vendo o bico em seu rosto.
- Mas e aquele café? Ainda vai rolar?
- Depois do que você me fez passar acredito que você não mereça.
Agora sim ele está parecendo uma pessoa normal.
- Com licença, estou atrapalhando vocês em algo? Quem sabe eu não saio da sala para que o casal possa conversar mais à vontade?
Eu não consigo acreditar que Gustavo está falando conosco, principalmente quanto quase a turma inteira está dormindo ou conversando.
Depois de ter levado pito como criança de primeira série apenas fazer minha cara de pato com cólicas renais e virar-me para frente até que a aula termine.
***
Até que enfim acabou!
Sinto de novo a mão gelada nas minhas costas, já sei o que esperar dessa vez. Me viro, mas o rapaz não está mais lá. Estranho, se não fosse totalmente sem sentido eu diria que ele desaparatou.
Me levanto e começo a organizar meu material, aproveito para me esticar.
- Ei Cool, o que é isso nas suas costas?
Faço um contorcionismo, mas consigo puxar uma folha grudada na parte de trás da minha camisa, na verdade não é uma folha, é uma nota de dois reais e ei, tem algo escrito:
"Obrigada por não me denunciar, tome seu café. PS: Me chamo Erik "
É claro que agora estou com um sorriso meio bobo no rosto, esse garoto é muito fofo.
Vou andando na frente enquanto Blue ainda pega suas coisas, e sinto um calor já conhecido, Gustavo se aproxima e diz baixinho, de maneira que ninguém mais ouça:
- Muito obrigada por me acordar essa manhã viu?
Ele realmente não parece estar de bom humor.
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Descolada
RomanceA vida de Guinevere virou de cabeça para baixo quando ela decidiu que era hora de dar adeus a pequena cidade de interior em que vivia para estudar na cidade mais movimentada do estado. Já sabia que as coisas seriam diferentes no começo, mas não imag...