16 O Flagra

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Acordei tentando lembrar a última vez que conversei com meu pai. A última vez em que conversei de verdade, sem uma discussão estragar tudo.

Minha vida estava péssima. Morar ali não ajudava. Eu dava com meu pai apenas uma palavrinha por dia. Ás vezes nem isso.

Era terça, já tinha dormido ali por quatro noites, mas parecia que foi uma eternidade.

Não conseguia parar de pensar em mais nada a não ser Isaac e Jacob. Como eles estariam. Se estariam melhor. Como se sentiam.

Coloquei meu uniforme, e dentro da mochila meu uniforme de ginástica. O treino das líderes de torcida era hoje, e o de ontem eu tinha faltado. Uma desvantagem de ser líder de torcida: ter responsabilidades a mais do que o comum.

No último dia de aula, terá a festividade anual do colégio. Isso tem todo ano. O tão falado show de talentos! Os alunos se inscrevem e no dia tem que fazer suas apresentações para as pessoas presentes. As líderes de torcida obrigatoriamente tinham que fazer a dança de abertura, e como faltava menos de um mês, já estávamos começando a treinar. O pior de tudo, é que não contava como apresentação. Era uma mera obrigação nossa que não valia de nada.

Quem quisesse se apresentar de verdade, teria que se desdobrar, para fazer sua segunda apresentação. Lógico, que para mim, eu jamais me apresentaria por conta própria.

Deixei o quarto e fui para a sala de jantar. Estava morrendo de fome. Encontrei apenas o cômodo vazio, com o barulho do mar ecoando ali pela janela. Optei por ir para a cozinha. Tinha uma porta no canto da imensa sala de jantar. Deduzi que ali fosse a cozinha. Acertei. E para minha surpresa, encontrei Isaac ali. Apenas ele, na bancada... cozinhando.

Cozinhando? Como se estivesse perfeitamente bem, e não estivesse machucado.

Estava como se estivesse em seu quarto sozinho. Com uma calça moleton verde escura e sem camisa. Cabelos úmidos e desengrenhados. Isaac estava de costas, e não percebeu eu chegando. Arrisquei um...

- Bom dia!

Ele não respondeu. Estranhei. Apenas me aproximei da bancada para ver o que ele fazia. Ele estava fazendo panquecas. O cheiro era irresistível. Despertou mais ainda minha fome.

- Posso te fazer uma pergunta?

- Já fez - ele respondeu imediatamente sem tirar a atenção do que fazia.

Franzi a testa. O que deu nele? Por que usou tanta arrogância?

Segundos depois, ele voltou atrás:

- Desculpa - se redimiu, ainda frío - Fala logo o que você quer...

Estranhei mais ainda, porém, continuei:

- Você cozinha?

- Os empregados responsáveis pela cozinha estão de folga. E como eu sei cozinhar bem, ou eu vinha fazer comida, ou todos morriam de fome.

Uau! Ele sabia cozinhar. Poucos homens faziam isso.

- Nossa... Então deixa eu te ajudar... - falei pegando uma frigideira no armário, afinal ele não o único que sabia cozinhar.

- Não! - exclamou pegando a frigideira da minha mão - Não precisa. Eu faço sozinho.

Engoli em seco. Não estava reconhecendo-o. Ele é sempre tão meigo. E agora... Tem algo errado aí.

- Posso te perguntar outra coisa?

Ele respirou fundo e assentiu parecendo irritado.

- Se está tão recuperado a ponto de cozinhar, por que não vai para a escola?

Meu Infinito (SENDO REESCRITO)Onde histórias criam vida. Descubra agora