Lucie

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A Constelação de Orion brilhava na noite fria de inverno. Ela era linda, tanto a escuridão vasta do céu como também as estrelas que nele brilhavam.

Pela janela do meu quarto eu podia ver o mundo, todo colorido e ao mesmo tempo em preto e branco.

- Lucie? - Antonie me chamou com as mãozinhas grudadas na porta aberta, sua cabeça mal chegava a fechadura, as vezes ele ficava nas pontas dos pés para abri-la - estou com sono.

Ele coçava os olhos já vermelhos de sono. As vezes o meu mundo se tornava colorido assim do nada quando olhava para ele, talvez ele seja todo o motivo da minha vida. O amor que sinto por ele muitas vezes me deixa aflita e com medo. Medo de perdê-lo como eu perdi o meu pai...

- Você quer ver? - aponto para o telescópio - Hoje o céu está limpo.

Antonie sorri pulando em minha cama. A janela fica ao lado dela, e para facilitar as coisas, deixo o telescópio fixo na beirada da vidraça.

Assim posso olhar para as estrelas quando quiser. É algo bom de se pensar, ter todas elas ali.

- Olhe.. - digo baixo enquanto ele olha pela pequena lente - não é lindo?

Ele sorri e se senta ao meu lado na cama fofinha.

- Não da pra comer? - ele junta as pontinhas dos dedos.

- Você quer comer as estrelas? - rio da sua cara de desentendido.

- Eu não posso?

Olho para o relógio no criado mudo. Já é tão tarde, eu nem ao menos vi o tempo passar.

- Você pode. Um dia vou trazer uma para você, que tal isso?

- Pode ser uma grande?

- Vou pensar no seu caso - pisco para ele - agora venha dormir Antonie.

Ele nem ao menos espera que eu ajeite o travesseiro e pula em seu lugar. Não sei quando isso começou muito bem, mas Antonie dorme comigo a um bom tempo. Talvez ele tenha desistido de passar as noites sozinho em seu quarto azul. Eu não o culpo.

As vezes eu também me sinto sozinha e com vontade de chorar. Também não gosto de pensar que um dia, não vou estar aqui para cuidar dele. Talvez devesse pregar meus pés por aqui, assim Antonie não sofrerá nunca mais, nunca será deixado por mais ninguém.

O pior de se viver, é ser esquecido quando menos se espera, e então do dia para a noite você se torna memória e aos poucos, some.

- Lucie! É a mamãe! - Antonie pulava todo feliz em frente ao notebook.

Corro para perto da mesinha de centro e me cento no chão de tapete fofo. Olho para ela, mamãe. Fazem dois longos anos que ela decidiu por vez continuar com aquilo tudo. Eu havia sido contra, não queria a mesma coisa para ela, não o mesmo destino que papai teve.

- Como está aí na NASA? - pergunto dolorosamente, por dentro quero muito chorar e dizer que senti a sua falta, mas se eu o fizer, o que Antonie pensará? Que eu sou uma boba chorona!

Seus olhos estão cansados, mas não deixam de conter aquele brilho carinho que sempre me deixou feliz.

Quando ela partiu, levou junto o meu coração. E ela nem mesmo pediu permissão.

Naquele dia ela jurou que voltaria logo, que viria para nós. Mas isso já faz tanto tempo... até mesmo meu irmãozinho se esqueceu daquela promessa.

Mas eu não. Ainda me lembro de tudo, das coisas que queria ter feito, como por exemplo ter implorado muito mais para que ela ficasse, tudo o que eu fiz não foi suficiente, mesmo assim ela partiu. E agora aqui estou eu, me segurando para não desmoronar na sua frente.

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