Lucie

51 17 9
                                    

— Peixe boi boia Lurie? — Wada pergunta em cima de mim.

Pisco os olhos e bocejo. Por quanto tempo eu dormi? Encaro o teto por alguns segundos.

— Bom dia — aperto-a contra mim em meio a um abraço preguiçoso— não boia não, quer dizer, só se ele estiver morto.

Sakura anda pelo quarto resmungando sobre sua meia estar em algum lugar, depois volta pelo mesmo caminho reclamando que está atrasada, sinto cheiro de coisa queimando e então a ouço praguejar em voz alta.

Wada corre de um lado para o outro como um esquilinho que tomou cafeína demais. Sinto seus pés baterem contra o assoalho de madeira e então de um minuto para o outro não tem mais barulho. Elas se foram, Sakura deve ter levado Wada para a escola.

Sinto meu corpo estalar conforme me mexo, estou me quebrando ou é impressão minha?

— Lucie? — a mãe de Misaki para na porta enquanto me sento sonolenta — amanhã começam as suas aulas e... eu gostaria de perguntar algo.

— É claro — sorrio timidamente para ela, desde quando alguém fala docemente comigo desse modo? Por quanto tempo não tive uma mãe?

Cruzo as pernas e bato na coberta em minha frente para que ela se sente ali.

Ela sorri.

— Você conhece alguém além da sua família?

Será que ela sabe?

— Bem... agora sim — sorrio fracamente — eu não estudava em uma escola.

Me remexo desconfortável.

— Não estudava? — ela alisa a colcha.

— Sempre estudei em casa com madame.

Seus olhos viajam até as cortinas.

— E seus pais?

Sinto uma espécie de abismo abrindo dentro de mim, como se o ar me faltasse e eu fosse um pequeno peixinho dourado tirado de dentro da água para morrer na praia.

— Bem... eles...

— Lucie? — alguém me chama da cozinha — você está aí?

Olho para ela em um pedido de desculpas.

— Ouça... você tem a mim agora Lucie — suas mãos finas e macias cercam as minhas — estou aqui para você.

Ela pisca e em seguida desaparece pela porta. No seu lugar ouço Hiro desejar um bom dia pelo corredor e entrar no quarto.

— Bom dia flor do dia! — sorrio para ele.

— Isso me lembra da Misaki — me espreguiço sentindo Hiro me observar — eu queria conhecê-la pessoalmente, sabe?

Ele acena que sim. Pulo da cama em meu pijama gigante e procuro pelas pantufas de pandas.

— Você vai gostar dela — ele da de ombros — ela é ótima, e legal.

— Sinto que sim, mas parece que ela está tão distante de mim —procuro pela mochila que trouxe de Paris — apesar dela ela tecnicamente estar bem longe... mas...

Só então percebi que Hiro me encarava com seus olhos puxados, mas nem tão puxados. Ele era bonito, cabelos pretos, lisos e repicados, os olhos escuros, o rosto fino, mas ao mesmo tempo suave. Tudo nele era novo, não como Arthur e seu jeito certo de se fazer tudo ou querer as coisas organizadas, mas estava mais para... leve. Paciente e ao mesmo tempo feliz, como se nada pudesse apagar isso do seu rosto.

Des(conhecidas)Onde histórias criam vida. Descubra agora