7-Gol

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O 6° e o 7° tempo seriam de educação física. Os meninos faziam junto com as meninas. Havia uma quadra poliesportiva e uma área ao lado dela. Ano passado, a professora deu apenas futsal e pouquíssimas aulas com conteúdo diferente. Os meninos jogavam futsal na quadra e as meninas jogavam vôlei, queimada e outras coisas na área ao lado. Às vezes invertiam: os meninos jogavam vôlei ou queimada e as meninas futsal. Eu ia para o lado onde não tinha futsal, então, geralmente, eu fazia educação física com as meninas. Não era estranho eu fazer as aulas com elas. Bem, no começo o pessoal até estranhou. Uns caras retardados, metidos a machões, ficaram tirando gracinha da minha cara mas, nem ligava e eles pararam.

-E agora, suas roupas? - perguntei para o Victor.

-Vou conversar com o professor...

-Professora - o corrigi.

-...com a professora e tentar explicar para ela.

Balancei a cabeça e Sarah, Victor e eu fomos ao vestiário. Levei minha mochila e Sarah a dela pois as nossas roupas estavam dentro. Sarah entrou no vestiário feminino e eu no masculino, enquanto que o Hugo ficou do lado de fora nos esperando. Troquei de roupa e fiquei esperando a Sarah. Assim que ela saiu, fomos para a sala de aula, deixamos nossas bolsas e fomos para a quadra. Chegando lá, alguns caras da nossa sala junto com os de uma outra turma (como nossa turma era pequena, fazíamos educação física com o pessoal de outra sala) já jogavam futsal. Fomos em direção a professora para explicar o motivo do Victor fazer educação física de calça e camisa normal de aula. Ela aceitou a explicação, mas na próxima educação física ela queria ver ele de farda apropriada pra os exercícios. Ele concordou e ficamos sentados na arquibancada ao lado da quadra.

-Outro time aqui comigo - gritava um garoto perto da gente.

-Vai lá Victor jogar com eles - disse para ele.

-Não sei se devo ir.

-Por que? É uma boa hora de se entrosar com os outros meninos - disse Sarah.

-E, além do mais, você sabe jogar futebol. Eles vão gostar de ter você no time.

Ele hesitou, mas foi. Chegou com os caras lá e fez aqueles toques de mãos, típicos de garotos. Depois foram para dentro da quadra e ficaram esperando um time perder para o deles entrar. De vez em quando ele me olhava e eu sorria. Era perceptível o nervosismo dele. Quando olhei para o lado, Sarah me olhava estranho.

-Que foi? - perguntei.

-Vocês estão estranhos... - disse ela, franzindo o cenho.

-Então... - dei uma pausa - era sobre isso que eu queria falar com você.

Ela se aproximou de mim e disse:

-Fala logo, fiquei mais curiosa ainda.

Olha me olhava com aqueles olhos escuros.

-Então... sabe... o Victor... - dizia eu lenta e pausadamente.

-Fala logo Matheus, não enrola!

- A gente ficou ontem! - joguei, assim, na lata.

Ela arregalou os olhos, pensou um pouco e depois disse:

-Ah, dava de perceber que ele curtia quando eu vi ele te tocar no canto da boca.

Eu apenas dei um sorriso leve. Nos abraçamos e ela disse no meu ouvido:

-E agora? Será que dessa vez vai?

-Não sei. Você sabe como eu sou: difícil, chato, dramático... e por aí segue uma lista.

-Dá uma chance! Quem sabe dessa vez você desencalha?

-Ha-ha-ha! Você fala isso como se eu estivesse procurando um homem para eu ficar me agarrando por aí.

-E não tá? - disse ela com um sorrisinho na boca.

-Cala boca!

Ficamos rindo e voltei a olhar para a quadra. Um time havia perdido e a equipe na qual o Victor ficou já jogava na quadra. Eu não entendo coisa alguma de futebol, então não sei dizer o que eles estavam fazendo.

Victor parecia ter ficado menos nervoso. Ele gritava para os meninos passarem a bola para ele mas, acho que ainda não confiavam nele para fazer isso. Hugo continuava correndo pela quadra. Pediu para passarem a bola para ele, pois estava perto do gol mas ninguém passou e o time adversário pegou. Dava de perceber que ele havia ficado com raiva. Correu para cima do menino que estudava em outra sala e roubou a bola dele. Os meninos pediam para passar a bola, mas ele fez o mesmo que os outros faziam com ele. Chegou perto do goleiro, que avançou. Victor fez uns passos com os pés e depois chutou. Gol para o time do Victor. Os meninos da minha sala ficaram olhando, enquanto que Victor voltava para o meio da quadra. Ele olhou para o lado e eu o aplaudi, mas sem fazer barulho. Ele ficou rindo e depois voltou a olhar para os adversários.

Não teve aquela comemoração que geralmente acontece quando alguém marca gol, mas eles continuaram a jogar. Victor pediu a bola e dessa vez eles passaram para ele. Hugo avançou, só queo pessoal da outra sala já estavam atentos e foram para cima dele. Victor olhou para o lado e passou a bola para o menino que estava gritando por novos jogadores para o time dele. O menino chutou e marcou gol. Dessa vez teve comemoração. Eles gritavam e corriam pela quadra. O menino que fez o gol foi em direção do Victor e pôs o braço em volta do pescoço dele. Isso me causou um leve desconforto, mas ele só estava comemorando.

Sarah percebeu que eu tinha ficado estranho e disse:

-Bora para a nossa educação física.

Levantei e fui.

Não, eu não fiquei com raiva e nem puto com ele. Só me senti desconfortável por que um desconhecido tocou nele. Já tinha um pessoal jogando vôlei na área ao lado. Pedimos para entrar em algum time e nos puseram. Não éramos os melhores, muito menos os piores, mas alguns gostavam de nos ter em seus times. Ficamos jogado por um bom tempo. Depois, percebi que o Victor estava me olhando de dentro da quadra. Talvez eles tivessem dado um tempo para beber água ou descansar, sei lá. Sorri para ele porém, voltei a prestar atenção no jogo.

Ficamos jogando até o fim do tempo de educação física. Victor conversava com os meninos do time dele, enquanto que Sarah e eu fomos ao vestiário trocar de roupa. Quando saí, ele e Sarah estavam encostados na parede. Quando me viram, pararam de conversar e ficaram me olhando. Viram que eu não fiz nada e ficaram se entreolhando.

-Bem gente, eu tenho de ir. Meu pai já deve estar me esperando. Beijos - ela chegou mais perto do Victor, o abraçou, deu um beijo na bochecha e depois falou algo. Ele ficou imóvel porém, logo em seguida concordou com a cabeça. Ela veio até mim, me abraçou, beijou minha bochecha e foi embora.

O que ela falou para ele?

O Garoto Da Casa Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora