3-Tênis

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Deu tempo do intervalo e eu ia saindo da sala de aula com a Sarah, mas me lembrei que havia deixado o dinheiro na minha mochila. Pedi à ela que me esperasse e fui até  minha bolsa. Olhei rapidamente para Victor, que continuava sentado no canto, escrevendo alguma coisa em seu caderno. Peguei o dinheiro e voltei para perto de Sarah.

-Vai lá falar com ele - aquilo me pegou de surpresa.

-Oi?

-Você me ouviu bem -  eu a ouvi, apesar de estarmos sussurrando no meio da sala de aula ainda.

-Mas por que eu?

-Por que é o único que "conhece" ele - quando ela disse conhece, fez aspas com os dedos.

Fiz uma cara de quem não queria ir, mas ela insistiu e eu fui. Cada vez que eu me aproximava dele meu coração disparava. Eu ficava mais nervoso. Começava a contar os dedos.

Ao me aproximar dele, tropecei e quase cai - eu e meus dois pés esquerdos - mas, por pouco, ele não viu. Me aproximei dele e sentei na mesma cadeira que eu havia sentado antes, na aula de biologia.

Ele ficou me olhando e eu não sabia o que falar. Aqueles olhos azuis - que belos olhos azuis - me lembravam a corda do céu.

Se ele não pigarreasse, eu continuaria a observá-lo.

-Oi -  eu disse.

-Oi.

-Hum... - eu não sabia o que falar - Então... você é de onde?

-Sou de uma cidade aqui do interior.

-Ah, por isso o sotaque - ele tinha um sotaque arranhado, meio que puxando algumas letras.

-Sim.

-Por que você veio morar aqui? Desculpa!

-Por que a desculpa?

-Sei lá! Soou estranho a forma como eu falei. Parece que eu não quero você aqui.

-E você me quer aqui?

Fiquei sem responder nada, mas ele continuou:

-Desencana - disse ele, depois deu um sorriso - Então... meu pai foi transferido para cá e como eu vou ter mais oportunidades aqui, ele aceitou e, como você sabe, nos mudamos ontem.

-Ah sim.

Depois que eu respondi, ficou aquele vácuo. Eu não disse nada e nem ele, ficamos apenas nos encarando. Senti minhas bochechas ficarem quentes. Desviei o olhar e olhei para trás, para ver se Sarah ainda estava na sala. Mas não, ela não estava.

-Hum... Você quer ir na cantina? - perguntei.

E ele apenas concordou com a cabeça. Saímos e vi Sarah sentada em uma cadeira conversando com algumas pessoas da nossa sala. Assim que ela me viu, tentei ir em direção a ela, mas ela meneou a cabeça e depois se virou. Olhei para Victor, que ainda estava atrás de mim. Fui até a cantina e pedi dois salgados e dois refrigerantes.

-Eu pago -  disse ele já pegando o dinheiro do bolso.

-Não! Eu te convidei, eu pago.

-Da próxima vez eu pago.

Fiquei apenas olhando ele e depois dei o dinheiro para a moça da cantina. Entreguei a ele o salgado e o refrigerante, depois andamos até chegar em uma mesa vazia. Comemos em silêncio por um tempo.

-Seu pai trabalha em que?

-Como? - perguntou ele, depois de engolir um pedaço de seu salgado.

-Você disse que seu pai foi transferido para cá. Ele trabalha em que?

O Garoto Da Casa Ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora