Deu tempo do intervalo e eu ia saindo da sala de aula com a Sarah, mas me lembrei que havia deixado o dinheiro na minha mochila. Pedi à ela que me esperasse e fui até minha bolsa. Olhei rapidamente para Victor, que continuava sentado no canto, escrevendo alguma coisa em seu caderno. Peguei o dinheiro e voltei para perto de Sarah.
-Vai lá falar com ele - aquilo me pegou de surpresa.
-Oi?
-Você me ouviu bem - eu a ouvi, apesar de estarmos sussurrando no meio da sala de aula ainda.
-Mas por que eu?
-Por que é o único que "conhece" ele - quando ela disse conhece, fez aspas com os dedos.
Fiz uma cara de quem não queria ir, mas ela insistiu e eu fui. Cada vez que eu me aproximava dele meu coração disparava. Eu ficava mais nervoso. Começava a contar os dedos.
Ao me aproximar dele, tropecei e quase cai - eu e meus dois pés esquerdos - mas, por pouco, ele não viu. Me aproximei dele e sentei na mesma cadeira que eu havia sentado antes, na aula de biologia.
Ele ficou me olhando e eu não sabia o que falar. Aqueles olhos azuis - que belos olhos azuis - me lembravam a corda do céu.
Se ele não pigarreasse, eu continuaria a observá-lo.
-Oi - eu disse.
-Oi.
-Hum... - eu não sabia o que falar - Então... você é de onde?
-Sou de uma cidade aqui do interior.
-Ah, por isso o sotaque - ele tinha um sotaque arranhado, meio que puxando algumas letras.
-Sim.
-Por que você veio morar aqui? Desculpa!
-Por que a desculpa?
-Sei lá! Soou estranho a forma como eu falei. Parece que eu não quero você aqui.
-E você me quer aqui?
Fiquei sem responder nada, mas ele continuou:
-Desencana - disse ele, depois deu um sorriso - Então... meu pai foi transferido para cá e como eu vou ter mais oportunidades aqui, ele aceitou e, como você sabe, nos mudamos ontem.
-Ah sim.
Depois que eu respondi, ficou aquele vácuo. Eu não disse nada e nem ele, ficamos apenas nos encarando. Senti minhas bochechas ficarem quentes. Desviei o olhar e olhei para trás, para ver se Sarah ainda estava na sala. Mas não, ela não estava.
-Hum... Você quer ir na cantina? - perguntei.
E ele apenas concordou com a cabeça. Saímos e vi Sarah sentada em uma cadeira conversando com algumas pessoas da nossa sala. Assim que ela me viu, tentei ir em direção a ela, mas ela meneou a cabeça e depois se virou. Olhei para Victor, que ainda estava atrás de mim. Fui até a cantina e pedi dois salgados e dois refrigerantes.
-Eu pago - disse ele já pegando o dinheiro do bolso.
-Não! Eu te convidei, eu pago.
-Da próxima vez eu pago.
Fiquei apenas olhando ele e depois dei o dinheiro para a moça da cantina. Entreguei a ele o salgado e o refrigerante, depois andamos até chegar em uma mesa vazia. Comemos em silêncio por um tempo.
-Seu pai trabalha em que?
-Como? - perguntou ele, depois de engolir um pedaço de seu salgado.
-Você disse que seu pai foi transferido para cá. Ele trabalha em que?
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Garoto Da Casa Ao Lado
Storie d'amoreSentimentos á flor da pele, borboletas no estômago e uma certa excitação. Arrepios pelo corpo e uma troca de olhares capaz de seduzir a qualquer um. Um olhar marcante e penetrante atingindo o auge. Um toque capaz de eletrizar cada parte mais distant...