Capítulo 3 - Oh, Velha Amiga

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Após o fim da maratona levanto-me do sofá, apesar de não me apetecer nada. Lembro-me que combinei ter uma chamada de Skype com a Nikki.

A Nikki (era) a minha melhor amiga. Conheci-a no oitavo ano. Ficámos na mesma turma. Eu sempre tive o sonho de ter uma banda: ter fãs, fazer música fixe, ir em tour pelo mundo inteiro e espalhar o amor pela música. Um dia, no fim da aula de Educação Física, fomos para o balneário e foi aí que ouvi a sua bela voz. Como cantava mesmo bem, perguntei-lhe se queria fazer parte de uma banda. Ela disse que sim.

O problema é que a pequena Annika não sabia (e eu também não queria admitir, para dizer a verdade) que eu não sabia tocar nada. Nada mesmo. Nem um único instrumento. Então o nosso primeiro ensaio foi um prato.

Passo a explicar: ela chegou à sala de música vazia (que eu muito responsavelmente aluguei) e, pouco tempo depois começou a cantar uma música que combinámos.
Eu, feita esperta, comecei a tocar viola a fingir que sabia. Graças a Deus que ela não ficou chateada.
Depois disso pedi ao meu pai para me inscrever em aulas de música. Aprendi a tocar guitarra, bateria e baixo. Penso que os ensaios seguintes correram melhor, visto que já sabia tocar qualquer coisa. Ainda fizemos umas canções juntas. Catorze, acho.

Um dia veio toda contente com o PC na mala. Liga-o e põe-me a conversar com duas raparigas: uma inglesa e uma luso-australiana. A Annika disse que eram amigas dela que tinha conhecido na net. Começámos a ensaiar por videochat. Houve alturas em que me levantei a horas estapafúrdias, tipo às quatro da manhã, com os meus pais (que na altura já estavam separados) porque estava a fazer um barulho enorme por causa dos ensaios. Isto contribuiu muito para a nossa separação.
Quer dizer, nós não nos separámos oficialmente, mas ao longo do tempo parámos de ensaiar juntas. Nunca mais falámos. A não ser com a Nikki. Com ela ainda falei (e falo), mas muito raramente. Hoje é uma dessas raras ocasiões.

À medida que oiço o som da notificação, atendo a sua chamada de Skype.

- Olááá meu moranguinho! Tudo bem contigo?

- Ya. Como é que vai isso?

- Olha-me para este anel gigante! - Mostra-me a sua mão com a manicura feita e um anel com um diamante enorme. Credo, nunca vi nada assim.

- Wow. Foi o Stefan que te deu? - É o namorado dela. Noivo agora, suponho.

- Sim! Ele é um querido, não é? - Suspira admirando a jóia no seu dedo.

Analisando bem o anel, vejo que além de ter um diamante gigante ainda tem pedrinhas de ouro branco e outras pedras preciosas à volta.

O sueco é mesmo ricalhaço. - Penso. O problema é que pensei, mas foi alto. Ups.

- Ele não é sueco, é dinamarquês. - Diz ela rindo à gargalhada. - E o estágio dele já acabou à um ano.

- Ah desculpa.

- Não faz mal.

- Também já não falamos à mais ou menos um ano...

- Pois... Beeeem, falando em estágio, adoraram-no lá e agora é chefe do departamento de cirurgia plástica! Claro que foi com um pouco de ajuda da minha mãe haha - A mãe dela, Cristianne Natasha, é uma magnata do imobiliário desde que me lembro. Podem deduzir que a escola em que eu andei é daquelas em que os meninos chiques andam.

-Que bom.


- Ai não pareces nada interessada! O que é que se passa contigo?


- Sei lá, estava a pensar no esquesitóide que me abordou hoje de manhã.

- Credo! Sabes, as grandes cidades são mesmo assim, já devias saber. Bom, seja como for falei com as nossas amigas estrangeiras e elas têm umas saudades imensas! Querem voltar a juntar a banda, o que é que achas?

- Ya, na boa. Também queria fazer isso há algum tempo.

- Ótimo! Temos de combinar um café! O que andas a fazer? Eu ultimamente tenho estado por cá a fazer desfiles e photoshoots pequenas. Nada de grande dimensão. Ah, no Verão passado estive em Milão nuns desfiles. Foi fantástico!


- Eu ando por aqui... Quer dizer, acabei de cá chegar portanto quase ainda não tive tempo para respirar.


- Então 'môr? - O noivo da Annika aproxima-se e dá-lhe um beijo na bochecha. - Tudo bem Lou?

- Tudo fixe.

- Temos de ir Nikki. A senhora do catering já ligou umas 7 vezes e diz que já tem tudo pronto, está à nossa espera.


- Nem acredito! Ela que espere. Também esperei oito meses e meio para nascer mas aqui estou eu.

Depois de uma breve conversa com a moça do telefone Stefan responde:

- Babe, ela diz que já combinámos à muito tempo e há outro casal que quer os serviços dela no mesmo dia. Portanto senão te despachares ela vai optar por eles...

- Ai é? Então vamos ver que é a mais teimosa! Cancela tudo! Hei-de procurar outra pessoa que não seja tão casmurra e impaciente!

- Tens a certeza?

- Sim! - Annika volta-se para mim - Pronto, às vezes uma pessoa precisa de se chatear... Por falar em casamento, queres vir? Até agora só temos 245 pessoas que confirmaram que iam... Vou estar muito sozinha! - Diz a fazer beicinho.

- 'Tá bem 'tá. - Digo desinteressada. Odeio casamentos, se calhar foi por ver os meus pais e tios a casarem e divorciarem-se como se não fosse nada de mais.

-  Oh vá lá! Vem por favor... Quem sabe, podes encontrar o homem dos teus sonhos - Diz com um sorriso sugestivo e abanando as sobrancelhas.

-  És mesmo casamenteira Nikki. Aliás, és tu que te vais casar. Não é preciso arranjares um casamento para mim também.

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Novo capítulo! Demorou mas foi ;)


TroublemakerOnde histórias criam vida. Descubra agora