DAISY ERA UM EVENTO SAZONAL. Todo ano, ela chegava antes do feriado
de Ação de Graças e ficava até depois do Natal. Houve um ou outro ano em que
também veio no seu aniversário, em maio.
Sempre conseguia um quarto só para ela.
— Alguém quer dividir um quarto? – perguntou a enfermeira-chefe certa
manhã de novembro, durante nossa reunião semanal.
Foi um momento de tensão. Georgina e eu, que já dividíamos um quarto, nos
deliciamos com a confusão.
— Eu! Eu! – disse uma, levantando a mão. Era a namorada de um marciano
e, além disso, tinha um pênis pequenininho, que adorava exibir. Ninguém nunca
quis dividir o quarto com ela.
— Eu dividiria, se alguém quisesse, mas é claro que ninguém vai querer, nem
eu vou obrigar ninguém a isso. – Essa era Cynthia, que voltara a falar depois de
seis meses em estado de choque.
— Eu divido com você, Cynthia – acudiu Polly .
No entanto, isso não resolvia o problema, pois Polly já ocupava um quarto
duplo. Sua companheira era uma anoréxica nova chamada Janet, que precisava
ser alimentada à força toda vez que seu peso descia abaixo de 34 quilos.
— Eu vi quando ela se pesou, ontem: 35 quilos e meio – disse Lisa em voz alta,
inclinando-se para mim. — Vão ter de entubá-la no fim de semana.
— Trinta e cinco e meio é o meu peso ideal – disse Janet. Contudo, dissera o
mesmo de 38 e 37 quilos e, consequentemente, ninguém queria dividir o quarto
com ela.
No final, juntaram duas catatônicas, e o quarto de Daisy ficou pronto para sua
chegada em 15 de novembro.
Daisy tinha duas paixões: laxantes e frango. Toda manhã, ia para a sala das
enfermeiras e batucava o balcão com os dedos pálidos e manchados de nicotina,
pedindo impacientemente um laxante.
— Quero o meu Colace – sibilava. — Quero o meu Ex-Lax.
Se houvesse alguém ao seu lado, Daisy dava uma cotovelada nas costelas ou
pisava no pé. Detestava que se aproximassem dela.
Duas vezes por semana, o pai, cujo rosto lembrava uma batata, trazia um
frango inteiro, que a mãe assara e embrulhara em papel-alumínio. Daisy
colocava o frango no colo e o afagava por cima da embalagem, correndo os
olhos pela sala, louca para que o pai partisse e a deixasse dar cabo do bicho. O
pai, porém, queria ficar o máximo possível, pois era apaixonado pela filha.
— Ele não consegue acreditar que foi ele quem a gerou – explicou Lisa. —
Quer trepar com ela para se certificar de que ela existe.
— Mas ela fede – protestou Polly . De fato, Daisy cheirava a galinha e merda.
— Ela nem sempre fedeu – disse Lisa.
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Garota, interrompida
ChickLitAS PESSOAS ME PERGUNTAM: como você foi parar lá? O que querem saber, na verdade, é se existe alguma possibilidade de também acabarem lá. Não sei responder à verdadeira pergunta. Só posso dizer: é fácil.