CERTO DIA, CHEGOU OUTRA LISA. Nós a chamávamos pelo nome
completo, Lisa Cody, para diferenciá-la da verdadeira Lisa, que ficou sendo
simplesmente Lisa, como uma rainha.
As Lisas se tornaram amigas. Uma de suas atividades prediletas era conversar
por telefone.
As três cabines telefônicas perto das portas duplas, com fechaduras duplas,
constituíam nossa única privacidade. Podíamos entrar nelas e fechar a porta. Até
mesmo a mais maluca de nós podia se sentar em uma das cabines e manter uma
conversa particular, ainda que consigo mesma. As enfermeiras possuíam listas
dos números aos quais podíamos ter acesso. Quando pegávamos o fone, a
enfermeira atendia.
— Alô – dizíamos. — Aqui é a Georgina (ou a Cynthia, ou a Polly). Quero
ligar para o 555-4270.
— Esse número não consta da sua lista – dizia a enfermeira. E cortava a linha.
No entanto, restava ainda o silêncio empoeirado da cabine e o aparelho preto,
antigo, com sua aresta dorsal bem pronunciada.
As Lisas conversavam por telefone. Cada uma entrava em uma cabine,
fechava a porta sanfonada e berrava dentro do fone. Quando a enfermeira
atendia, Lisa gritava "sai da linha". E as Lisas continuavam o papo. Às vezes se
xingavam aos berros, outras vezes expunham, aos berros, seus planos para aquele
dia.
— Quer ir jantar no refeitório? – berrava Lisa Cody.
Contudo, Lisa, por estar confinada ao pavilhão, tinha de berrar de volta algo
como:
— Pra que você quer comer aquela gororoba com aquele bando de psicóticas?
Ao que Lisa Cody respondia, aos berros:
— O que você pensa que é?
— Uma sociopata! – gabava-se Lisa.
Lisa Cody ainda não recebera seu diagnóstico.
Cynthia era depressiva; Polly e Georgina eram esquizofrênicas; eu tinha um
transtorno de personalidade. Quando recebi meu diagnóstico, ele não me pareceu
grave, mas, com o tempo, acabou soando mais agourento que o das outras.
Passei a achar que minha personalidade era como um prato ou uma camisa com
defeito de fabricação e, consequentemente, inútil.
Depois de mais ou menos um mês conosco, Lisa Cody recebeu seu
diagnóstico. Também era uma sociopata. Ficou feliz, pois queria ser igual a Lisa
em tudo. Lisa não ficou tão feliz, pois, até então, fora a única sociopata do grupo.
— Somos uma raridade – disse-me certa vez. — E geralmente somos homens.
Depois que Lisa Cody recebeu seu diagnóstico, as Lisas começaram a criar
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Garota, interrompida
ChickLitAS PESSOAS ME PERGUNTAM: como você foi parar lá? O que querem saber, na verdade, é se existe alguma possibilidade de também acabarem lá. Não sei responder à verdadeira pergunta. Só posso dizer: é fácil.