Um anjo mortal

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Gabyelly

Eu não fazia ideia que o Lookwod tinha uma irmã, principalmente uma gêmea, ele largou a mão da loira oxigenada que me encarava enquanto meus olhos vasculhavam cada milímetro do rosto da irmã do Pedro, à semelhança entre eles era quase inacreditável, mas ela parecia frágil, quase doce. Pedro a abraçou e beijou sua testa, quase derrubei a faca que eu ainda estava segurando. Ela o abraçou e colocou o rosto pequeno no peito dele, as mãos dele acariciavam seus cabelos negros como os dele. Não tinha visto uma coisa dessas nunca na minha vida, um traficante, perseguido por matar dezenas de pessoas e traficar mulheres sem piedade estava acariciando sua irmã gêmea na frente de todos. Meu queixo caiu. Ela soltou dele e me olhou com um sorriso quase como se sentisse pena de mim. Pedro e os meninos foram para a sala de jogos e Alex saiu rebolando da cozinha. Revirei os olhos.

-Gabyelly Cooper, certo? -Ela sorriu, ergui uma sobrancelha. Que merda é essa? Gêmea do bem e gêmeo do mal? É isso mesmo? O destino só pode estar de brincadeira com a minha cara. -Meu nome é Selena, não precisa me olhar assim. Não sou como eles. –Ela riu quase como se achasse graça na minha situação embaraçosa. 

-Sim, sou a nova diversão do seu irmão. -Ela riu e eu revirei os olhos, examinei ela mais uma vez, era impossível que fossem tão parecidos. -Não é como ele? A ovelha negra da família é?

Ela deu de ombros, claro que era, a doce menininha na família assassina, quase como se seu irmão tivesse sugado cada gota de maldade dela, seus olhos demonstravam compaixão e eram verdadeiros. Ou pelo menos era o que me parecia.

Mas com 16 anos meu pai nunca me deixou ter esperanças para as pessoas ou não as que eram assim, pelo menos. O grande problema de ser quem eu sou é que você nunca vê esperança nas pessoas, meu pai nunca me deu esperanças de nada, simplesmente triste, mas realístico, evita que você caia e quebre o nariz na dura realidade que as coisas são, pessoas como o Pedro não merecem mesmo esperança. 

-Digamos que não puxei esse lado deles, sou mais minha mãe. Acho que você sabe quem era. –Seus olhos estavam distantes de mim.

Era óbvio que sabia, Lilian Lookwod, nunca tinha feito mal a um pombo, mas não sabia da sua dublê do bem que estava me olhando agora. Examinei a ficha dela mais de mil vezes, não achei nada, nenhuma falha na perfeita aparência divina dela. Como pode se casar com ele? Como pode deixar que essa merda acontecesse com seu filho? Sabia que ela tinha morrido a dois anos atrás, provavelmente tinha criado Selena porque não tinha registros de mais uma Lookwod na família e como Lilian era privada disso tudo Selena certamente era também.

-Sei, eu sei sim. –Decidi encurtar minha resposta.

Seu sorrisinho doce desapareceu e ela olhou nos meus olhos como se quisesse alguma coisa.

-Sinto muito por tudo isso. De verdade. –Aquele sorrisinho de piedade apareceu em seu rosto de novo

-Nada que vá me matar, parece que seu irmãozinho adora um jogo. -Coloquei o resto dos legumes na tigela azul e virei para a dublê Lookwod. -Seu pai, e seu irmão dão uma bela equipe, aliás até o final o ano não vai ver mais eles. Sabe o que vai acontecer. –Ela mordeu o lábio inferior.

-Pedro não é assim. -Selena se sentou num banco vermelho e cruzou os braços em cima do balcão de mármore frio. -Ele não é assim, não como meu pai. Nem sempre é o que parece Gaby.

-Entenda, -Tentei manter a calma- eu cumpro ordens, leio o que está em uma ficha que é entregue a mim com tudo que seu irmão aprontou. Minhas ordens foram claras, e vou cumpri-las. Depois vou atrás do seu pai.

-Vai mudar de ideia, você vai perceber Gaby, ele é bom quando quer.  -Ela se levantou, e me olhou com o canto dos lábios franzido.

-É, nas horas livres ele mata pessoas.

Destinos traçados(andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora