Seu pêlo era tão brilhante quanto a mais pura seda. Seus olhos vermelhos como sangue me fitavam fixamente enquanto caminhávamos de mãos dadas pela noite. Eu sentia sua pata peluda repousada em minha mão. Eu sentia o cheiro de pêlo e ouvia o tic tac do relógio no bolso de seu paletó. Como poderia isso parecer tão real?
- para onde você está me levando? - ouso perguntar.
Ele retira o relógio do bolso e dá uma conferida.
- você já foi lá várias vezes, Alice! - ele me olha e baixa as orelhas.
- como você sabe? - pergunto observando o modo como ele consegue se equilibrar nas patas traseiras enquanto segura a minha mão.
- eu sei porque você sabe! - ele ri. - não é obvio?
Não! Penso. O óbvio não existe mais em minha cabeça.
Uma coruja pousa à nossa frente e nos observa passar.
- então... Você está me levando para o buraco?
ele acente com a cabeça.
- você conhece todo o caminho.
Atrás de nós a coruja guincha ferozmente e abre a suas assas. Seu grito é tão alto e tão intenso, que tenho que soltar a pata do coelho para tapar os ouvidos com as minhas mãos. O grito ainda continua alto, isso faz com que eu me sinta tonta. Meus olhos começam a virar. Tropeço por cima do coelho, desabamos no chão e ambos começamos a rolar até cair no buraco.