Corada

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Henri. Esse era o nome dele. Foi a a primeira palavra que ele disse quando se aproximou de mim e estendeu o braço para apertar a minha mão.

Alice. Esse era o meu nome. Foi a segunda palavra que ele falou. Antes mesmo que eu a falasse como resposta à primeira palavra que ele disse.

Ele se agachou e aproximou o rosto do meu. Prendi a respiração. Os olhos. Aqueles olhos viciados em me fitar, estavam o fazendo profundamente. Num movimento rápido com o braço, ele pegou uma cerveja ao meu lado e se levantou.

- você ainda não está com a pupila dilatada!

Soltei o ar dos meus pulmões. E dei um gole na cerveja.

- ela vai ficar! - respondi.

As pessoas no barco - até mesmo o gato - observavam a cena. Isso fez com que minhas maçãs do rosto corassem. Sorte que luz no local era pouca, eles não poderiam me ver ficando vermelha.

Maresasa apresenrou ele ao grupo. Henri cumprimentou os outros e se sentou do outro lado do barco, bem à minha frente. Todos estavam com latinhas azuis de cerveja na mãos, conversando ou curtindo o som que Isabel botara para tocar, aquela playlist.

Cheshire se aninhou em meu colo, ele aprecia satisfeito em ter comido. E queria retribuir isso se alisando em minhas coxas. Acaricio ele.

-agora que todos estão aqui, que tal droparmos?! - Isabel pergunta.

Todos assentem e pegam suas cartelas. A minha estava um pouco amassada, mas nada que estragasse tudo. Pego uma unidade, ponta da cartola do chapeleiro maluco. E ponho na língua. O sabor do ácido se espalhando pela minha boca, como uma gota tinta em um copo de água. Eu não via a hora para visitar O País das Maravilhas.

Olhei para Henri, ele também colocava uma unidade na boca, mas, em seguida, ele colocou outra. Continuei olhando para os seus olhos. Ele fez um gesto com a cabeça, como se dissesse que eu também colocasse mais uma unidade na língua. O fiz, realizei todo o processo, desde pegar o papel até fazê-lo sumir na minha boca, olhando em seus olhos. Ele sorriu.

Isabel havia entrado na cabine com Maressa, só os deuses sabem o que elas foram fazer lá dentro. Cheshire estava dormindo em meu colo, seus pêlos balançando no vento. Seu queixo apoiado em minha coxa. Cody encarava Thomas de forma estranha. Da mesma forma que Henri me encarava, e Thomas retribuía o olhar de Cody, da mesma forma que eu retribuía o olhar de Henri. De vez em quando eles sorriam um para o outro, e voltavam a beber as suas cervejas. Mais um casal?

Olhei para o céu. Ele estava mais estrelado do que de costume. As estrelas pareciam conectadas, se movendo, formando linhas no céu escuro da noite. Formando constelações.

- Porquê você está olhando para as estrelas? Você está perdida? - era uma voz grossa e baixa, como um ronronar de um gato.

Olhei para o lado, era Cheshire. Ele estava pairando no céu noturno. Sorrindo. Ele estava sorrindo.

Olhei em volta, eu não estava mais no barco. Eu estava lá. Lá onde eu queria estar.

AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora