Imaginação

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Na minha frente, Henri acendia um cigarro, a fumaça se unindo ao corpo enevoado do gato.

Sopro a cara do gato, fazendo a névoa de seu corpo tremeluzir e desaparecer.

- você é real? - perguntei ao vento.

- você é? - o gato apareceu atrás de mim.

- eu sou! - respondi chateada, como poderia um gato feito de fumaça questionar a minha existência?

- se você é, eu também sou! - ele respondeu, novamente sumindo e aparecendo em outro lugar.

- você não é real! - exclamo. - você é apenas um fruto da minha imaginação!

- e o que não faria de você um fruto da minha imaginação? - ele rebate sumindo e aparecendo na ponta do convés do barco.

- o fato de que eu é quem estou imaginando!

- a questão não é quem está imaginando e sim o que está acontecendo com a imaginação. Vejamos, - ele se aproxima de mim. - se é você quem está imaginando, você pode controlar essa alucinação. Então tente... Vamos lá! Imagine algo.

Paro e penso, o que eu poderia imaginar?

Então imagino um prato de torta cair na cara do gato. Mas nada acontece. Imagino otras coisas. Lápis voadores, centopéias gigantes, elefantes dançarinos, submarinos amarelos, mas nada. Nem uma gota do que imaginei aconteceu.

- já imaginou, querida? - ele pergunta ao me ver frustrada pelo esforço inútil.

- sim! - respondo me sentando no piso de madeira do convés. - mas até agora nada!

- então porque é você quem não está imaginando. - ele fala e aparece no meu colo como o Cheshire sólido de antes. Ele se eriça e mia como um gato bravo, em seguida ele pula na minha cara, cravando as suas garras na minha face. Rasgando a minha epiderme, sujando seu pelo cinzento com meu sangue vermelho. Então grito.

♠♠♠

Quando abro os olhos, ainda estou no barco. Procuro por Cheshire em cada canto do convés. Encontro o gato comendo ração e ronronando. Ao seu seu lado estava ele: Henri. Me olhando um pouco assustado.

- está tudo bem? - ele pergunta.

- acho que sim! - respondo. Olho em volta nenhum sinal de ninguém, eu sabia que Maressa e Isabel estavam na cabine... - onde estão ou outros?

- Cody e Thommo? - ele perguntou e eu fiz que sim com a cabeça. - eles começaram a se amassar e foram para a popa do barco. Faz uma meia hora, não voltaram ainda...

- nossa... - digo sorrindo. - quanto tempo eu passei dormindo?

- uma hora... Por aí. - ele botou mais um pouco de ração na mão e deu para Cheshire. - você estava dormido, mas de vez em quando você falava algo tipo, "quem está imaginando?"...

Começo a rir.

- as coisas estão estranhas... Não sei nem se nós dois à sós aqui no convés é real. - eu disse isso, mas imediatamente eu me arrependi.

Ele se levantou e veio em minha direção, seus cabelos estavam balancando contra o vento do convés.

- você queria que fosse real?

Ele tragou o cigarro e soltou a fumaça.

- queria! - respondi.

Ele aproximou o rosto do meu e me levantou.

- então é real! - ele disse.

Ele me puxou pela cintura e me beijou. Estendi o braço e segurei a sua nuca. Ele tinha gosto de ácido e fumaça de cigarro. O melhor beijo da minha vida.



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