Você está Louca!

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Volto até a mesa onde o Coelho havia deixado o livro e percebo que ela está dez vezes maior do que antes, mas o livro continua lá em cima, porém também dez vezes maior.

Olho em volta e vejo que tudo está dez vezes maior. Prateleiras, livros, escadas e até mesmo a estátua ranzinza. Então entendo que tudo está do tamanho normal, eu que diminuí dez vezes e estou aqui no chão parecendo uma barata.

- mas que porra! - grito.

A estátua se move e me fita com seus óculos de bronze.

- garotinha, eu já falei que você tem que fazer silêncio? - ela retira os óculos - nós estamos em uma biblioteca, ora bolas! Qual é seu problema?

- meu tamanho! Estou pequena! - digo olhando para a imensidão de bronze que me fita.

- problemas com altura? Você pode procurar por uma solução na seção de livros sobre bolos do crescimento. - ela aponta na direção onde fica.

Reviro os olhos e vou até lá. É muito longe e minhas pernas não aguentam andar tudo isso. Então me deparo com uma pequena mesa, - na altura correta para alguém do meu tamanho - em cima dela uma enorme fatia de um bolo branco e reluzente. "Coma-me" lia-se em uma plaquinha enfiada no bolo.

Como no livro! Penso.

Pego um pedaço da enorme fatia e enfio na boca. Tem um sabor amargo e doce. Ele era quente e frio. Era sólido e líquido. Engoli.

Assim que pisquei os olhos eu estava do tamanho normal. Não. Eu não estava no tamanho normal. Eu estava enorme. Minhas pernas haviam derrubado inúmeras prateleiras de livros. Eu estava totalmente encurvada e eu abraçava meu próprio corpo, pois se eu movesse os meu braços poderia acabar derrubando mais prateleiras.

Um ruído metálico soava logo abaixo. Em baixo da minha coxa para ser mais exata, eu sentia aquilo se mexer. Tentei levantar a perna, mas não tinha onde colocá-la, então tateei com a mão e retirei debaixo dela a bibliotecária de bronze. Ela cabia na palma da minha mão.

- sua maluca! Você destruiu a minha biblioteca! - ela tentava ficar em pé na minha mão mas não conseguia. - você é louca! Louca! Você está louca!

A sua voz ríspida. Os seus gritos. Ela está me chamando de louca! Eu não sou louca! Penso.

Começo a chorar.

- se eu sou louca você também é! - digo isso e atiro a pequena bibliotecária no chão. Ela sai escorregando pelo piso, emitindo mais sons metálicos e soltando faíscas.

As lágrimas escorrem pela minha face com um par de cachoeiras em fluxo ilimitado.

Muita água. De onde viera tanta água?

- pare de chorar! - a bibliotecária gritou enquando praticamente nadava tentando proteger os livros. - você vai molhar tudo sua louca!

Então chorei mais ainda.

A água já estava em meu pescoço. Agora entrando pela minha boca. Prendi a respiração e fechei os olhos. A água já havia tomado conta de tudo, e eu não aguentava mais prender o ar em meus pulmões.

Então soltei o ar e deixei a água invadir os meus pulmões.

- Alice! - a voz de Isabel gritara em algum lugar distante.

AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora