- eu liguei tanto para você! O que houve com seu celular?! Só dava desligado! - minha mãe disse abrindo a porta e me puxando para dentro de casa. - onde você estava?!- ela não me esperou responder- Eu liguei para a polícia eles procuraram você, mas...
- você o quê?! - grito interrompendo-a.
- olha Alice, você nunca mais... - ela me olha de cima para baixo e esquece o que ia dizer. - porque você está toda molhada?!
Ignoro suas broncas e viro as costas para ela, andando em direção ao meu quarto. Quando estou subindo o primeiro degrau da escada, ela me puxa pelo cabelo e me derruba no chão.
- você está fedendo a maconha! - fico deitada no chão, ela se agacha ao meu lado, apontando o seu dedo na minha cara. - você estava se drogando, Alice?! Que porra eu fiz para merecer uma filha como você? - ela se levanta e passa as mãos no rosto, como se estivesse enxugando as lágrimas. - olha, você me deixou muito preocupada! Eu... Eu deixei de ir ao trabalho hoje... - viro as costas para ela ainda deitada no chão. Ela se ajoelhou no chão, e puxou meu rosto para ficar rente ao dela - você nunca mais vire as costas para mim, entendeu? - fechei os olhos. - olhe para mim! - ela apertou mais meu rosto em sua mão - se você pensa que vai sair de casa para usar drogas com as sapatonas, você está muito enganada! Você só vai sair por aquela porta quando eu bem entender... Ouviu?! - fico calada. - ouviu, Alice? - assunto com a cabeça e começo a chorar.
Ela se levanta, pega uma bolsa que estava em um cabide perto da entrada e sai de casa batendo a porta e trancando-a.
Fico em posição fetal, não eram mais as minhas roupas que estavam molhando o chão, agora eram as minhas lágrimas. Os soluços invadem minha respiração. A única vontade que eu tinha agora era de me matar.
Olho em direção à cozinha e vejo um cepo repleto de facas prateadas em cima do balcão. Me imagino cortando meu pescoço, o sangue banhando chão de madeira. Limpar meu sangue seria o último ato que ela faria por mim.
Me levanto tonta. Minha cabeça doía, meu corpo doía. Ficar em inércia no chão me matou mais do que a queda no buraco.
Cambaleio até a cozinha, meu tênis molhado se arrastando no chão. Minha bolsa ainda pendurada em meu ombro, sacudia ao meu passo.
Entro na cozinha e me apoio na pia. Fico encarando o cepo. Com qual dessas facas eu vou me matar? Não importa, a morte tem que ser certa e rápida.
Ando até o cepo e escolho a maior delas. Seguro firmemente em meu punho. Engulo em seco. Fecho os olhos. Levanto a faça em riste no meu pescoço. É agora.
- Alice, você não vai fazer isso!
Me assusto. Derrubo a faca e caio no chão, olhando em volta.
- quem está aí?! - pergunto ao nada.
- sou eu, o coelho branco! - vejo um figura branca me olhar pela janela da cozinha.