A caçadora

Um passeio à enfermaria

Graças aos deuses que havia alguém gritando. Quer dizer, não pela pessoa, mas Jack quase me beijou!
Bem, corremos na direção dos gritos e nos deparamos com uma garota de aparência frágil, loira, completamente assustada com uma única adaga na mão e um ciclope enorme, tinha quase 3 metros. Eu e Jack nos olhamos.
- distrai ele que eu vou por trás - disse a ele - tira ele de perto dela ta bem? - antes de esperar resposta, corri para trás do ciclope, tentando me ocultar pelas árvores. De relance, pude ver Jack chamando a atenção e o ciclope se virando pra ele.
Vi uma árvore que dava bem atrás dele, meio difícil de escalar, mas era mais alta também... Sorri e comecei a subir a árvore, sem pensar muito bem no que eu estava fazendo. Quando cheguei a uma altura que estava acima do ciclope, verifiquei onde estava Jack e a loira, ela se escondeu atrás de uma árvore e ele estava desviando dos seus ataques.
Embainhei minha espada, saltei para cima do ciclope e enfiei a espada nas costas dele, que urrou de dor e se virou com uma rapidez que eu não imaginava, acabei não conseguindo me segurar e cai de pé, torci meu tornozelo ao mesmo tempo que Jack gritava meu nome. Nesse meio tempo, o ciclope virou para mim e avançou em minha direção, toquei em meu colar para ativar o campo de proteção, orando aos deuses para que realmente funcionasse e criei um espinho de gelo para me ajudar a me defender, mas quando o ciclope se aproximou o suficiente para me atacar, urrou novamente, ergueu os braços para atrás da cabeça. Aproveitei que ele se distraiu e corri com o espinho e enfiei em seu joelho, e, enquanto ele ficava confuso, Jack se aproximou e, com uma espada, cortou a perna dele por trás, a mesma que eu havia enfiado o espinho. O ciclope cambaleou e caiu sentado, Jack desviou e deu a volta correndo, atacando ele pelos lados, aproveitei e dei a volta também, tirando minha espada que ainda estava fincada em suas costas, enquanto o ciclope urrava e tentava nos acertar com as mãos, as abanando freneticamente. Infelizmente, ele acaba me acertando e eu sou lançada para trás, bato as costas numa árvore e perco o ar por alguns segundos.
Só deu tempo dele comemorar poucos segundos, Jack ficou furioso e se lançou sobre ele, desferindo um ataque e cortando sua cabeça. O ciclope caiu de costas e pouco tempo depois, virou pó.
Eu lutava para respirar, minha vista estava meio turva e pude ouvir passos correndo até minha direção. Vejo Jack correr e se ajoelhar ao meu lado.
- Elsa... Elsa você está bem?
Tento responder mas acabo tossindo, a garota chega logo atrás, meio receosa e quieta.
- ah meus deuses - ele se vira pra garota - está bem? Consegue andar?
- s-sim...
- então vamos - se inclina e me pega no colo, eu até queria protestar, mas mal podia respirar, quem diria reclamar.
Então ele foi rápido como o vento me levando para a enfermaria, pude ver a garota atrás dele, correndo para acompanha-lo.
- vai ficar tudo bem... - dizia sem parar, não sabia se ele falava isso para mim ou para ele.
Enfim, chegamos na enfermaria, Jack me deixou numa maca e chamou a Nathaly aos gritos. Ela apareceu e veio logo me ajudar, mas pude ouvir ela reclamando com ele, para não gritar na enfermaria. Logo depois que ela cuidou de mim, fiquei estranhamente bem, como se nada houvesse acontecido, então ela me explicou que esse dom ela conseguiu ao se tornar seguidora de Asclépio, e foi logo ver se a loira estava bem. Jack veio ao meu lado e passou a mão em meus cabelos com cuidado.
- como se sente?
- estou ótima, na verdade é como se nada tivesse acontecido.. - olho por trás dele -e a garota?
- nem me lembrei dela.. - se vira e a observa junto a Nathaly. Elas ficam um tempo conversando e caminham até nós. A garota, meio tímida, nos olha.
- muito obrigada pela ajuda... Se não fossem vocês, acho que eu não estaria mais aqui..
- não há de que - sorrio fraco - como se sente?
- estou bem, eu só torci o pulso e tive alguns arranhões, e você? Parecia que não conseguia respirar..
- ah estou ótima, Nathaly é muito eficiente... Obrigada Nathaly, por tudo..
- ah imagina, não fiz nada demais - mas notei que havia um certo orgulho na sua voz, estava fazendo o que gostava, sorri para ela.
- bem, como se chama? Nunca te vi por aqui... - disse Jack, olhando a garota.
- Sou Amberly... Amberly Schreave, filha de Selene. Cheguei há alguns dias, não sabia que seria atacada ao entrar na floresta.
- bem, seja bem vinda, sou Jack Frost, filho de Bóreas... - sorri e a garota retribui o sorriso. Fiquei calada, só observando. Não queria me intrometer na conversa deles, não fui convidada a participar, na verdade. Olhei para Nathaly e ela pareceu perceber como eu me senti.
- e essa é Elsa, filha de Quione... E eu, Nathaly, mas eu havia dito.. - e começou a rir baixinho, como se tivesse feito uma super piada, mas queria mesmo era descontrair.
- ah.. Muito obrigada a você também Elsa... - se aproximou e pegou minha mão, sorrindo de maneira gentil, mas logo soltou, afinal, minha pele era fria como gelo.
- tudo bem, só fiz o certo... - me levanto.
- hey, aonde pensa que vai?
- Jack, estou com fome... E aqui acho que não tem comida...
- então vamos ao refeitório... Vem Amberly, Dory também, vamos todos comer algo...
Fiquei meio sem reação, não era lá minha ideia comer em bando, mas as duas aceitaram então tive que concordar. Suspirei e comecei a andar para fora da enfermaria, indo em direção ao refeitório, calada, ouvindo os dois conversando. Por algum motivo aquilo me irritou, e Nathaly veio até mim e começou a conversar comigo, acho que ela percebeu que eu não gostei nada daquela intimidade toda dos dois.
Chegando no refeitório, fomos até a mesa da Nathaly que era a mais próxima e começamos a comer. Permaneci calada, perdida com meus pensamentos, Nathaly também,e os dois ainda conversando. Depois de um tempo, não aguentei mais, me levantei, pedi licença me retirei. Estava quase no meu chalé quando Jack apareceu atrás de mim.
- nem se despediu de mim...
- você estava muito ocupado conversando com a garota.
- Amberly...
- ah nossa, que grosseria a minha, com a Amberly - reviro os olhos e continuo andando.
- não precisa ter ciúmes, sabe...
- eu não estou com ciúmes.
- e eu não sou filho de Bóreas.
- ah, ache o que quiser... Não me importo - chego na frente do chalé e coloco a mão na maçaneta para abrir a porta, quando ele pega minha mão livre e me puxa com delicadeza.
- sabe o que eu lembrei?
- que eu tenho mais o que fazer?
- que não terminamos nossa conversa... Um ciclope meio que atrapalhou...
- não, na verdade, terminamos sim... Abençoado seja o ciclope...
- não diga isso.. - se aproxima de mim, me olhando fixamente.
- o que foi...?
- já disse que você foge demais?
- já... E eu já disse que você é irritante?
- não... - sorri e se aproxima mais. Sinto um leve pânico e viro o rosto - Jack...
- diz... - não se afasta e permanece me olhando.
- não... Eu não... Eu... Eu nunca... - e senti minhas bochechas esquentarem de novo, junto a uma nova onda de medo, incerteza e vulnerabilidade me inundando. Ele sorriu.
- entendo... Mas sabe... Para tudo tem uma primeira vez... - colocou a mão em meu queixo, me fez olha-lo e reduziu nossa distância a nenhuma. Fechei meus olhos e senti nossos lábios se tocarem.