É estranha a sensação de "morrer", num segundo, é tudo agonia, dor, sofrimento e no segundo seguinte, não há mais nada. Não há dor, mas não há prazer, não há tristeza, mas não há felicidade... Enfim, morrer é basicamente isso, é não ter mais nada, pelo menos era assim que eu achava que fosse.
Estava em um lugar a meia luz, andando meio sem rumo, tentando entender o que estava acontecendo e aonde eu estava, era tudo muito estranho, mas eu sentia a presença de algo estranhamente familiar. Vi de longe os contornos de algo que se assemelhava a um ser humano, então fui me aproximando cautelosamente, sem ao menos desviar o olhar, por precaução, embora algo me dizia que eu não precisava ter medo. Conforme fui me aproximando, esses contornos humanóides foram tomando forma e se pareciam com uma criança, o que me deixou mais curiosa e ansiosa para chegar logo perto dessa pessoa.
Quando cheguei perto o suficiente, a pessoinha se virou e a reconheci de imediato, Melany.
- Olá Elsa! Quanto tempo... - se aproximou e pegou minha mão, entrelaçando nossos dedos, me olhando sorrindo alegremente.
- o que está fazendo aqui? - perguntei confusa -você está morta também?
- morta? - e começou a rir, me deixando mais confusa ainda. Sua risada lembrava sinos de vento - não estou morta. E nem você...
- ah... Não? Então, como...? - perguntei, me sentindo mais confusa ainda.
- você está sonhando, aliás, nós duas estamos.
- mas como isso?
- eu não entendo muito bem. Ainda não aprendi muita coisa, mas eu chego lá... Eu preciso lhe dizer uma coisa importante - disse ela, em um tom sério.
- sim...?
- Elsa, as coisas estão ficando muito complicadas, o Olimpo está se agitando. Eu sinto que vai acontecer algo muito terrível, porém não sei o que ou quando. Sei que no acampamento está tudo bem, mas aqui fora as coisas estão começando a sair do controle, muitos monstros estão renascendo, monstros que deveriam levar anos para voltar...
- mas Melany, como sabe...?
- não tenho muito tempo, só por favor, diga a Quiron o que eu lhe disse e também peça a quem você conhece para se preparar... - apertou levemente a minha mão, me olhando fixamente e de uma maneira tão intensa que eu sabia que ela estava falando a verdade.
- tudo bem, eu aviso... Você está bem?
- estou.. Agora eu preciso ir, e você também. .
- espere, como vou saber que isso não é um sonho? Que foi tudo real?
- ah Elsa - sorriu para mim carinhosamente - só porque é um sonho, não significa que não seja real.. soltou minha mão e pegou sua pulseira que havia vários pingentes, retirou um pingente em formato de folha e colocou em minha mão, a fechando em seguida - a próxima vez que nos vermos, você me devolve... tá bem?
- certo, mas...
- até a próxima Elsa, e muito boa sorte no seu caminho...
Então tudo apagou de novo e me vi sentada no meio de uma nevasca, estava muito frio e só havia gelo para qualquer lugar que eu olhasse. Me levantei e olhei ao redor, tentando entender o que estava acontecendo e então me dei conta que eu estava em cima de um lago congelado. Continuei tentando entender tudo aquilo, e ainda procesar o que Melany havia me dito, quando a temperatura pareceu cair ainda mais, a nevasca subitamente cessou e eu senti uma presença tão fria quanto a própria neve. Me vire e a vi.
- mãe?
Era ela, a moça de meus sonhos. A moça que tanto me mandou ir para o acampamento, que apareceu em meus sonhos por semanas.
- Sim... - apesar de sua voz ser suave, seu tom de voz, assim como seu olhar, era frio, distante. Havia uma intensidade em seu olhar que quase me deixou desconcertada - a garotinha já lhe disse o que precisava saber. Nesse caso, a única coisa que tenho a lhe dizer é, não importa quantas vezes a neve caia, ela permanece forte e mortal - fez um movimento com a mão e em meu braço surgiu uma pulseira de gelo - mantenha-se viva e dê seu melhor, mostre que a neve é poderosa sem deixar de ser bela... - e ao dizer isso, simplesmente desapareceu em meio a uma nevasca. Antes que eu pudesse dizer ou sequer pensar em mais nada, acordei.
Estava deitada, com uma dor horrível na minha cabeça, que parecia pulsar de tanto que latejava. Tentei me sentar mas não consegui, então fiquei deitada.
- Veja só quem acordou...
Virei o rosto e lá estava Nathaly, do outro lado da enfermaria. Logo que disse isso, veio rapidamente em minha direção, sorridente, como se tivesse ganhado o prêmio de melhor semideusa do mundo. Se aproximou, colocou a mão em minha testa e depois em meu pescoço, me senti um pouco desconfortável, mas não disse nada.
- como se sente?
- minha... cabeça... dói...
- imagino que sim... - coloca a mão em minha testa, fecha os olhos e sua mão começa a emanar uma aura num leve tom de amarelo, minha cabeça começa a formigar e a dor vai embora - como se sente? - pergunto tirando a mão de minha testa.
- estou bem, nossa obrigada...
- você se lembra o que aconteceu?
- bem pouco... estava lutando com uma harpia e depois apaguei, só lembro disso.
- hum.. Então. .. sobre a harpia, ela enfiou as garras nas suas costas, o único problema é que suas garras contém veneno.
- então. .. eu estou envenenada?
- não mais... Por sorte eu tenho alguns antídotos aqui e pude te curar antes de maiores estragos. E com maiores estragos eu quero dizer morte...
- ah certo... e... Como eu vim parar aqui?
- ah bem... alguém lhe trouxe... matou matou a harpia e trouxe você para cá pouco tempo depois que desmaiou...
- e quem foi...?
- bem... - olha para trás - espere um pouco, vou chama-lo... ele está preocupado e vai gostar de saber que acordou.. - diz com um sorrisinho que não pude identificar e saiu.
Fiquei me perguntando quem poderia ter feito isso... Talvez Jack, ele estava me seguindo, eu acho... pelos deuses do Olimpo, como eu queria que não fosse ele. Escuto um barulho e vejo Nathaly entrando com Julian, que sorriu logo que me viu.
- vejam só quem finalmente decidiu acordar - veio e se sentou nos pés da maca que eu estava estava e ficou me olhando - você está bem?
- estou... Você que me ajudou?
- sim... eu estava passeando e vi você indo pra floresta, parecia meio abalada. Então fiquei com medo de algum monstro te atacar e te segui... parece que agi certo - diz com um sorriso no rosto.
- nossa, muito obrigada mesmo...
- ah não precisa agradecer a mim, agradeça a Dory.
- Dory?
- Eu juro que eu vou te matar Julian - diz Nathaly com uma expressão que era um misto de raiva e vontade de rir. Julian não aguenta e cai na risada, puxa ela é aperta as bochechas dela.
- que bonitinha ela tá com raivinha.
- me... solta... seu... idiota... - diz ela tentando se soltar, então noto uma garota sentada numa maca ao lado da minha, loira, olhava para eles com uma expressão de puro ódio, raiva e tristeza. Não entendi... aliás eu já não estava entendendo mais nada.
Os dois ficaram ali por um tempo, ela lutando para se libertar e ele é a segurando e rindo, parecendo duas crianças. Fiquei os observando, sorrindo, eles eram tão alegres, era contagiante. Então depois de um tempo, parece que cansaram e ele a soltou, ela o fuzilou com o olhar e se virou para mim.
- esse animal me ouviu cantando e agora fica me zuando... o acampamento todo agora só me chama assim. ..
- mas... Por que Dory?
- porque ela estava imitando um peixe peixe e cantando "continue a nadar, continue a nadar" no meio da enfermaria - diz Julian rindo.
- não era pra você ter visto isso.
- não devia ficar fazendo isso na enfermaria então.
- não vou discutir, você é ridículo... - revira os olhos e sai dali.
- ai, eu estou no meio de uma D.R., acho melhor eu desmaiar de novo...
- não, somos apenas amigos... - olha em direção a garota e de repente fica sério. A garota se levanta e sai dali mancando, sem nem ao menos nos olhar.
- isso sim foi uma D.R. silenciosa - resmungou baixinho.
- acho que eu estou meio grogue, não estou entendendo nada mais... - me deito e coloco a mão sobre os olhos.
- não não Elsa... É que... - para de falar e fica em silêncio, estranhei e tirei tirei a mão do rosto, notei que Jack estava ali, então foi a minha vez de fechar a cara. Ele veio, olhou com ódio para Julian Julian e voltou a me olhar.
- Oi. .. Como está?
- estou viva... o que quer aqui?
- vim ver se estava bem...
- já viu, agora pode ir cuidar da sua vida...
- nossa, eu fiquei preocupado, você foi correndo pra floresta e...
- e a culpa é de quem? Quem foi que agiu feito um babaca? Acho que não fui eu né...
- então.... - ele fica meio sem graça e coloca a mão na nuca - descobri que era mentira...
- uau... Como você é inteligente! Não era melhor ter acreditado em mim? Graças a isso eu quase morri...
- eu sei... desculpa eu...
- sai daqui... me deixa, eu não quero falar com você tão cedo - disse, virei rosto e fiquei em silêncio.
- t-ta bem... - se vira e vai saindo, mas para e olha pra mim - sinto muito... mesmo... - sai dali e eu suspiro.
- hey... ce tá legal? - olho pra Julian e o vejo me olhando preocupado, sorri fraco.
- você, Julian, você.... - disse sorrindo fraco e ele sorriu de volta.
- achei que era filha de Quioe, não de Atena..
- achei que você iria falar as palavras corretamente...
Ele mostrou a língua e se manteve olhando pra mim, começou a fazer carinho na minha canela, sem motivo aparente.
- e você. ..? Aquela garota parece que mexeu com você...
- Emma... tive uns probleminhas com ela.. É minha ex...
- ah... -foi só o que consegui dizer.
- ela não é uma garota muito delicada... mas não se importe com isso, ela estava com apquela cara por causa da Nath, tem ciumes dela...
- mas... Se vocês não namoram mais...?
- ela tem ciumes desde sempre, o que não tem lógica porque a Nath é como uma irmã, e ela gosta do Pietro, nada a ver eu e ela - encolhe os ombros - apesar dela ser muito bonita, há outras garotas bonitas no acampamento - e sorri pra mim.
Desvio o olhar, não sei se aquilo foi para mim, ou se ele apenas é fofo mesmo. Mas achei melhor não comentar nada a respeito, nem mesmo o olhar. Seria melhor pra mim, tendo em vista que o único garoto com quem me relacionei (um beijo é se relacionar?) fez a gentileza de ser um completo idiota. Realmente, homens são estúpidos, e quanto mais distante eu ficasse deles, melhor seria para mim.
- bom loira, eu tenho que terminar minhas tarefas, mas eu volto assim que eu terminar. Não se esforce muito eu descanse tá bem? -se levantou, veio até mim eu me deu um beijo no topo da minha cabeça - se precisar de qualquer coisa, me chame...
Então ele se vai,antes mesmo de eu dizer qualquer coisa. Fiquei parada olhando por onde ele saiu, tentando entender o que havia acontecido ali, pensando, super distraída, quando vejo um pingo de gente entrando com uma enorme bandeja cheia de comida nas mãos.
- Oi Elsa, tá com fome né, eu sei,eu também... - e se senta na maca olhando pra mim - pode pegar a Nath não vai brigar não, ela vai mandar você comer, mas tem que ficar boazinha pra ir no refeitório. . Então eu trouxe comida pra você.
Ester era tão fofa, como pode uma filha de ares ser assim? Sorri e peguei uma panqueca e assim que mordi um pedaço, percebi o quão faminta eu estava, então devorei tudo um pouco mais rápido do que eu pretendia, e Ester, claro, me ajudou a comer também, e então fiquei sentada ali, ouvindo ela tagarelar sobre o que aconteceu no tempo em que ela fiquei desacordada. Quando Nathaly voltou, brigou com Ester por comer minha comida, mas deu risada e comeu também, e então ficamos nós três ali sentadas conversando e em as duas me contando histórias malucas de coisas que aconteceram no acampamento antes de eu chegar por lá, o que rendeu uma tarde inteira de conversas.
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A caçadora
FanficA história de Elsa, filha de Quione, uma jovem de 18 anos que passou muitas coisas durante sua infância e adolescência. Quando uma moça aparece em sonho e insiste para que ela vá para o "Acampamento Meio-Sangue", é que ela descobre que sua vida está...