A loucura

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Começo a pensar seriamente em me mudar para a enfermaria. Por algum motivo que desconheço, sempre acabo lá.
Brincadeiras à parte, Nath me fez ficar lá até o dia seguinte, e só depois de uma minuciosa análise, me deixou ir embora. Obviamente fui direto para meu chalé, estava implorando por um banho gelado bem demorado para me ajudar a clarear a mente. Fui andando distraída, sem prestar muita atenção das pessoas o meu redor, e acabei esbarrando sem querer em alguém e fui para trás, devido ao impacto, e quando percebi quem era fechei a cara.
- hey! Olha por ond.... Elsa? Você melhorou! - diz Jack, numa expressão que misturava alívio com... vergonha?
- não que te faça diferença mas sim, estou ótima... - olho para o lado dele e vejo uma garota de cabelo vermelho e olhando feio para mim - está com fome, querida?
A garota me olha, claramente confusa:
- com fome?
- sim... cara feia pra mim é fome.. - aponto na direção do refeitório - p refeitório é naquela direção, caso não saiba.. melhor você se alimentar..
Antes dela responder, Jack foi mais rápido, e cortou o assunto.
- Alessa, vamos... é melhor.. - me lançou um olhar estranho e saiu puxando a garota. Mais pra frente, ela entrelaçou os dedos nos dedos dele e foram de mãos dadas.
Aquilo foi a gota d'Água pra mim. Decidi que eu não iria mais ter nenhum sentimento por ele, até porque ele obviamente já havia partido pra outra (se é que havia pensado em mim, claro) e estava muito bem.
O resto do caminho foi um borrão, cheguei no chalé sem perceber e fui direto para o banho, onde fiquei um tempão deixando a água cair em minha cabeça. Quando terminei, fui para o quarto e me larguei na cama, com a toalha enrolada nos cabelos e enrolada no roupão, não estava nem um pouco a fim de me vestir, peguei o livro que estava lendo (ou tentando, já que minha dislexia me dava problemas) e me encostei na cama de maneira confortável, abri o livro na página que estava lendo e prossegui minha leitura.
Permaneci lendo por um tempo, até que escuto um barulho na janela. Paro e ergo o olhar, e lá estava quem? Julian...
- mas que raios ele está fazendo? - pensei, enquanto me levantava e ia até a janela. A abro e coloco a cabeça pra fora, então ele sorri e diz:
- Rapunzel, Rapunzel, jogue-me seus cabelos...
Reviro os olhos, me segurando para não rir e faço sinal pra ele entrar, mas como ele estava com preguiça de dar a volta, entrou pela janela mesmo.
- Existe uma coisa mágica e revolucionária chamada porta... ela serve para você passar de um lugar ao outro...
- incrível, magnífico, espetacular... mas eu não ia dar a volta e... - olha para minhas roupas - lindo roupão... não sabia que você gostava de ursinhos... - diz sorrindo e olha pra mim.
- Cala boca Julian... - dou um soco nele - o que você quer? - digo, cruzando os braços.
- vim ver como você está...
- estou ótima.
- BEEEEEEEEEEEEEEEP
Arregalei os olhos devido ao susto, obviamente ele começou a rir de mim enquanto eu me perguntava furiosamente o que foi aquilo.
- Sabia que Nêmesis é a deusa da Justiça, além da vingança?
- sim..
- então. .. eu sei quando alguém mente pra mim - pisca e vai até minha cama, coloca o marcador de página no livro, na página que eu estava lendo, e fechou o livro em seguida - ou seja, pode me falar o que você tem... - diz olhando pra mim. Suspiro e fico o olhando.
- mas por que quer saber isso? Não vai fazer diferença nenhuma na sua vida.
- porque ao contrário do que possa parecer, me importo com você... se você não tá boa, eu quero ajudar.. mas tem que me contar antes né?
- tá bem, espera - vou resmungando me trocar (bem longe da vista dele, obviamente) e volto, mas quando chego perto da cama, Julian me puxa e me coloca sentada ao seu lado.
- então. .. pode falar..
Comecei a contar pra ele, não sei porque mas ele me inspirava muita confiança, o tipo de confiança que nunca tive por homem nenhum, nem mesmo Jack. Era como se eu tivesse mais que um amigo, que eu tivesse um irmão, um parceiro.
Assim que terminei de contar tudo a ele (tudo mesmo, até o que eu achava que sentia por Jack), ele fechou os olhos e suspirou:
- olha... não é por nada não, mas não acredita muito nele tá? Ele tem costume de dar em cima de várias garotas...
- mas você também faz isso.
- mas eu não dou esperança pra elas... quando esperança gosto, gosto, quando não, não gosto... não dou falsas esperanças. .. as garotas com quem acabo me relacionando, sabem muito bem onde estão se metendo.. a única que realmente deixei a cachorrice de lado, foi Emma... e olha só! Ela não está comigo... - desvia o olhar e diz com certa amargura na voz - talvez não era mesmo pra dar certo...
Fiquei meio sentida com isso. Julian era paquerador (ainda se usa esse termo?), muito paquerador, mas ele era gentil e sempre disposto a ajudar, não queria que ele ficasse mal.
- Bem... se não deu certo, segue em frente. Tenho certeza que ainda vai encontrar alguém que cuide de você como merece.. - me permiti um sorriso fraco e ele o retribuiu.
- Valeu Elsa, você não é tão rainha do gelo coração de pedra quanto pensa.
- ah nossa, obrigada pela parte que me toca.. - rio baixo - só não espalha, se todos descobrem isso, minha reputação vai pro espaço.
- Pode deixar - ele ri e vem até mim - acho que precisamos fazer uma loucura, pra esquecer essas pessoas que partiram nossos corações...
- loucura...? Tipo o que? -o olho, meio curiosa e com um leve temor do que ele queria.
- tenho uma idéia. . Mas precisamos falar com uma pessoa..
- Julian... o que você tá querendo fazer?
- Já vai saber.. vem comigo - me pegou pela mão e sai me puxando direto para o Artes e Ofícios e vai diretamente até uma garota que estava sentado num canto.. - Hey Day, tá ocupada?
A garota parou o que estava fazendo e olhou pra ele, em seguida olhou pra mim e depois para nossas mãos (que por algum motivo, ele ainda segurava).
- Eae Julian, depende... O que tu quer?
- então. .. tá vendo a Elsa aqui? Minha amiga, gente boa e tal... nós dois estamos pensando em fazer uma coisa.. - olha diretamente para mim e sorri - você ainda faz tatuagens?
Olho pra ele como quem diz "você tá louco?" e me afasto um pouco.
- você tá doido?
- não loira, estou falando bem sério. .. é uma ótima idéia, veja só... - e começou a dar vários motivos de porque fazer uma tatuagem era uma ótima e grande ideia, e continuou falando e falando e falando. Na verdade ele só parou de falar quando eu concordei.
Pensa em uma criança quando ganha doce. Então, não é nem perto da felicidade que Julian estava, ele simplesmente estava radiante e ficou tão feliz por eu concordar que me abraçou e começou a me girar ali. Pobre Day, acabou ficando de lado ali, observando e mascando seu chicote quase entediada.
Depois de toda essa algazarra, ela nos ajudou a escolher qual era a melhor tatuagem para cada um, Julian decidiu fazer uma balança, que simboliza a justiça, em seu antebraço direito, eu decidi fazer alguns flocos de neve nas costas, pouco abaixo de meu ombro, e então ele fez primeiro. Confesso que não esperava aquela reação, ele praticamente chorou de dor (só não caiu lágrimas, mas dava para ver a dor em seus olhos), e assim que terminou, era minha vez. Fiquei meio na dúvida se era realmente necessário passar por aquela dor, era desnecessária, estava quase desistindo. Mas Julian me fez mudar de idéia, novamente, e disse que iria ficar comigo o tempo todo, e eu podia até segurar a mão dele e apertar quando eu sentisse dor.
- Okay - digo e suspiro - vamos antes que eu desista...
Me deitei na maca improvisada que Day havia preparado e me lembrei que teria que tirar a camisa pra fazer. Olhei pra Julian e falei pra ele me esperar lá fora, e apesar dele não ter gostado da idéia, concordou e disse que ficaria de guarda pra ninguém entrar ali. Achei delicado da parte dele, mas antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, Day começou...
Nunca mais faço isso. Sério. Isso é sadismo, e eu não sou sádica, nem de dor eu gosto. Resumindo, foram as piores 3 horas e meia que passei desde que cheguei no acampamento, mas devo confessar que o resultado foi... Maravilhoso! Fiquei absolutamente encantada, a tatuagem era linda, pena que ficava em um lugar onde eu não tinha como deixar exposto, mas ainda sim fiquei feliz (mesmo depois da dor que passei).
Agradeci a Day e fui atrás do Julian, e acabei o encontrando discutindo com um garoto. Nem quis me meter, de longe fiz sinal pra ele e comecei comecei a ir pro meu chalé. Logo ele já estava do meu lado.
- e então? Como foi?
- dolorido, sangrento e mais dolorido... pelo menos ficou linda.
- quero ver.
- NÃO!
- osh. .. não grita.. e por que não posso ver? - diz chateado.
- porque... eu não vou deixar você ver quase nua... tá doido?
- aff para de graça e coloca um biquíni.. vai, não é justo você ver a minha e eu não ver a sua...
"Touché", pensei. Suspiro e olho pra ele.
- eu te odeio.. - entro no meu chalé e vou direto pro meu quarto, lógico que enrole veio atrás.
- então. .. vai deixar né?
- cala a boca e fica ai quietinho.. -aponto pra cama, pego meu roupão e a parte de cima de um biquíni e vou pro banheiro.
Coloco e fico me odiando por fazer isso... o que eu estava pensando? Acho que eu estava começando a ficar doida, só podia ser isso. Volto para o quarto de braços cruzados.
- só pra ficar registrado, qualquer gracinha e eu arranco seus olhos e eu enfio... aonde não bate sol...
- nossa fica calma, só quero ver a tattoo, loira - diz rindo.
- tá bem...
Vou até ele, me sento na cama e viro de costas pra ele, abro o roupão e abaixo um pouco, o suficiente pra ele ver a tatuagem.
- uou... tá perfeita...
Sorrio comigo mesma pelo elogio e sinto um toque quente nas minhas costas. Me arrepio toda e olho pra ele por cima do ombro.
- o que você tá fazendo? Quer morrer?
Ele ri e responde, ainda sorrindo:
- só quis ver como ficou... tem que cuidar direitinho e passar a pomada pra ajudar na cicatrização. .. - ele sobe o roupão com cuidado e arruma sobre meus ombros. Sorrio e me viro pra ele.
- obrigada Julian... você tem sido muito bom comigo...
- que isso loira, eu gosto de você. Apesar de querer me matar com frequência - rimos juntos - sei que não faria isso...
- e como sabe..? - olho pra ele meio maligna.
- porque eu vejo isso em você. .. - ele leva a mão em meu rosto e o acaricia -você se fecha porque deve ter sofrido.. mas eu consigo ver através dessa muralha de gelo que você se esconde atrás.
Fico meio perdida, não consigo pensar direito então fecho meus olhos e suspiro.
- você não tem idéia do que eu passei...
- se um dia quiser conversar sobre isso, só me chamar.
- certo... - abro os olhos e sorrio - obrigada por tudo, mesmo...
Fui dar um beijo no rosto dele (não sei o porque, mas fiz assim mesmo), e ele sorriu, colocou a mão em meu queixo.
- não me mata, okay?
E me beijou.

A caçadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora