Jack

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Ainda tenho que decidir o que fazer da vida. Talvez seja cedo, afinal, tenho somente 18 anos, mas pode ser algo maravilhoso ou devastador.
Bem, errei de novo ao achar que eu não me surpreenderia, e essa talvez tenha sido a surpresa mais agradável e inusitada na minha vida.
Voltei para a arena, feliz ao pensar que eu poderia me tornar uma caçadora. Cheguei, desembainhei novamente a espada e comecei a atacar os bonecos com mais vontade, usando vez ou outra meus poderes.. Então eu senti que alguém me observava e me virei para olhar ao redor, um garoto na arquibancada, me olhava atentamente. Fiquei meio receosa, minhas experiencias com pessoas do sexo masculino não haviam sido exatamente boas.
Ele ficou me olhando por um tempo, e, depois ele sorriu de lado e inclinou levemente a cabeça para a esquerda, com se me analisasse. Cruzei os braços e fiquei o encarando, e sinceramente, não havia nada em meu rosto que indicasse que ele seria bem vindo para falar comigo. Mas aparentemente isso não fez diferença alguma, pois ele se levantou e veio caminhando até mim.
Me mantive ali, mostrando que não queria conversa, mas obviamente ele não percebeu ou não se importou. Chegou na minha frente e ficou me olhando, com aquele sorriso presunçoso de quem sabe das coisas.
- então... Temos uma novata hein?
- desculpe - respondi seca - mas eu tenho um nome, então, seja ao menos educado e não me trate por "novata", não lhe ensinaram bons modos?
Ele arqueou uma sobrancelha e sorriu mais ainda.
- olha, sabe que tem razão? - fez uma leve reverência e disse - sou Jack, Jack Frost, filho de Bóreas... E você é...?
- Elsa, Elsa Watson, filha de Quione... - ainda de braços cruzados, o encarando.
Ele se endireitou e limpou uma poeira invisível de seu ombro esquerdo.
- bem, senhorita Elsa, seja bem vinda ao acampamento meio-sangue. Ouvi o chilique da Liz, afinal, ela não é exatamente discreta e chama bastante atenção - me olha ainda sorrindo de lado - já você é discreta, mas, não deixa de chamar atenção.
- ah não? Não me lembro de ficar dando pulinhos, batendo palmas ou algo do tipo. Não sou aparecida.
- não foi o que eu disse...
- mas foi o que pareceu, quando disse que eu "chamo atenção" - digo fazendo aspas com os dedos.
- bem, não foi nesse sentido... Digamos que, você irradia uma certa frieza... - diz e começa a me rodear.
Tive que me conter para não enfiar a espada nele. Respirei fundo...
- talvez por eu ser filha da deusa da neve...? Ou talvez por eu não ter o mínimo interesse em conversar...?
- ah, mas apesar de seus imensos esforços, estamos aqui, trocando algumas palavras... - para na minha frente e se inclina um pouco sobre mim, fixando seus olhos azuis nos meus - e suponho que isso seja uma conversa, ou diálogo, se preferir chamar assim...
Dou um passo para trás, não gostava de ninguém invadindo meu espaço, ainda mais pessoas mais altas que eu, mas sustentei o seu olhar.
- infelizmente, está certo... Agora, pode me dizer o motivo de estarmos conversando? Isso não ficou exatamente claro para mim..
- bem... Ao contrário de algumas pessoas, eu estou sendo gentil - pude sentir a cutucada que ele me dava, mas ele não parecia se importar por eu estar sendo seca e até meio grossa.. Tive que o parabenizar mentalmente, foi a primeira pessoa que não importou por eu ser assim e que não me tratou mal em resposta ou me largou sozinha.
- ah sim, não sabia que tinha que ficar distribuindo sorrisos as pessoas... Isso é regra do acampamento? Acho que Liz deixou escapar essa.. - digo ironicamente.
- ah não, isso se chama gentileza. E, embora você não tenha sido exatamente gentil, estou disposto a perdoa-la - disse como se ele estivesse me dando o maior presente do mundo.
- nossa, que honra! Como você é incrível Jack! - reviro os olhos.
- eu sei, e nem te mostrei a melhor parte ainda...
Sua maneira de agir meio que quebrou minhas pernas. Isso era completamente estranho para mim. Então eu me dei conta que ele também era filho de um deus que tinha algo a ver com a neve, alias, o pai dele também era pai de minha mãe. Talvez ele estivesse acostumado com essa frieza, e isso acabou me desarmando.
- sabe... Talvez eu não esteja interessada... - disse e me virei, voltando minha atenção para o boneco. Não, não o via como uma ameaça, pelo menos, não do tipo de ameaça que iria me matar.
- mas talvez... - disse ele e correu entrar na minha frente e voltou a sorrir de lado - você só esteja com medo...
- medo? Eu? Você não me conhece... - tentei desviar dele, mas ele entrou na minha frente novamente.
- talvez não... Mas talvez isso possa mudar... - sorri e vira de lado e estende a mão - que tal um passeio? Assim posso conhece-la e você pode me conhecer també...
Aquilo me deixou meio estranha. Por que uma pessoa que não me conhece, uma pessoa que eu tratei com indiferença, alguém tão (odeio admitir) encantador, queria me conhecer? Meus instintos diziam que ele realmente estava sendo genti. Suspirei e concordei com a cabeça, mas não peguei sua mão.
- certo, mas depois você me deixa em paz?
- tudo que quiser, milady... - pisca para mim e começa a caminhar... - então, de onde vem...?
- bem... - vou caminhando ao seu lado, mas a uma certa distância - vim do Canadá... E você?
- ah eu vivi lá por um tempo... Na verdade, viajei bastante, mas sempre no extremo norte... Como deve imaginar, não sou muito adepto ao calor...
- sim... - concordo e continuo andando, me perguntando o porque eu concordei com aquilo...
- então, o que mais? Me fala de você .. Sua idade, seus sonhos... Quero conhece-la...
- e por que todo esse interesse em mim? - o olhei desconfiada....
- digamos que de todas as garotas com quem falei, você foi a única que me tratou mal..
- mas eu não...
- ah vamos, você não foi exatamente simpática. Foi?
- bem... Não, mas depois de tudo que eu passei, não posso sair dando sorrisinhos a qualquer um que se dirige a mim...
- touché, milady... - diz e sorrio, meio triunfante - e posso saber o que de tão ruim você passou?
- primeiro, não sei se posso confiar em você... e segundo, não me chame de milady, não te dei liberdade para isso.
Achei que ele fosse parar, mas ele fez algo que me surpreendeu. Ele sorriu...
- bem, e como posso chama-la? Elsa? Ah eu gostaria de lhe chamar de uma forma única, não sou como os outros...
- isso é visível... Qualquer outro teria me deixado em paz ou tentado me matar... E Elsa é meu nome, seria bom usa-lo.
- ah, não... Vou pensar em algo, enquanto isso, vou chama-la de Elsa, mas não se acostume...
- vem ca, qual é a sua? - paro e fico o encarando
- desculpe?
- porque tudo isso? Não fique jogando esse charminho barato em cima de mim, não sou como as outras garotas que são tontas o suficiente para cair nesse seu galanteio...
- isso eu já reparei, você é difícil... - ele sorri - aparentemente fazer você gostar de mim vai ser um desafio...
- e por que eu gostaria de você? É presunçoso, levemente arrogante e é grisalho!
- ah, isso? - aponta para seus cabelos - eu nasci assim... Não sabia que não gostava, mas terá que se acostumar, gosto de meu cabelo assim...
- não tenho que me acostumar, e você ainda não me respondeu, por que eu gostaria de você?
- bem... Não há um motivo para se gostar de outra pessoa... Apenas há a atração... E você não para de me olhar...
- você está na minha frente, e é no minimo desagradável conversar com alguém sem olhar a pessoa, não?
- mais uma vez, está com a razão... Não foi o que eu quis dizer, mas, tudo bem, se faça de desentendida... Agora eu posso leva-la a um lugar?
- depende o que você quer...
- só quero lhe mostrar uma vista... Vamos, você já veio até aqui e se realmente não quisesse, já teria ido embora ou nem teria aceito o convite.
Ótimo, mais uma vez ele tinha me desarmado. Quis me virar e sair dali, deixa-lo ali com sua arrogância. Mas algo não me deixou, talvez a curiosidade, talvez o fato dele ser diferente, não sei... Na verdade, eu queria que alguém me notasse, mas não precisava ser um homem. Eu queria uma amiga e consegui a Liz, sem contar Jolie. Mas, embora ainda não soubesse o motivo, decidi concordar em continuarmos esse tal passeio.
- o que quer me mostrar? Esta longe?
- não.. Está logo ali... Venha... - e voltou a caminhar, aparentemente feliz por ter vencido a discussão... Sem muita opção, o segui.
Quando chegamos, eu fiquei olhando...
- o que exatamente é isso...?
- é estranho mas... Se chama Punho de Zeus... Mas o legal é lá em cima, consegue escalar?
- sim... E isso pode?
- claro... Vamos - e começou a subir... Mais uma vez, o segui... Subi com um pouco de dificuldade, mas no fim, chegamos lá e nos sentamos lado a lado.
Olhei a paisagem e notei que prendi a respiração por um tempo...
- que vista linda!
- sim... Sem duvida é uma bela vista... - disse, mas não olhava para a paisagem.
Corei um pouco, me odiei imensamente por isso... Me chinguei de tudo quanto é nome... Obviamente, não olhei pra ele, e fingi não ter ouvido seu comentário.
- aqui é meu lugar favorito no camp... Sempre me refugio aqui...
- entendo o por que... E agora quando eu tiver que te procurar, venho aqui primeiro..... - mais uma vez me chinguei... Por que eu disse aquilo? O que estava acontecendo?
- certamente... E tenho razões para crer que você também virá se refugiar aqui....
- sim...
- bem.. Sempre que quiser companhia, podemos nos refugiar juntos...
- é... Talvez...
Ele sorriu e, ainda não entendi o porque ele fez isso, e principalmente, o porque não impedi, mas ele pegou minha mão e ficou me olhando, acho que esperando que eu soltasse. Mas, o olhei e a sombra de um sorriso se passou por meu rosto. Entrelacei nossos dedos e olhei pra frente.
- não se acostume Jack Frost. Não costumo deixar que me toquem...
- talvez, Elsa Watson, porque você não está acostumada... Mas, pretendo mudar isso... - disse confiante demais.

A caçadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora