1. Colisão

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Osasco, 16 de agosto de 2011.
Avenida Internacional. 11h45.

Isabel's POV

– Eu fico me perguntando quando você vai parar com essas porcarias.

– Isabel. – Eu revirei os olhos. Bernardo adorava usar aquele tom repreensor comigo, mas a criança da história sempre era ele. Aquele filho de uma... – Você me conheceu e eu estava fazendo uma lista. Admita, você as adora.

– Eu as odeio. – O interrompi com um tom de ultraje. Ele desviou o olhar da frente por um instante, me lançando aquelas sobrancelhas grossas arqueadas. – Ódio é uma palavra forte. Eu não as odeio, mas, sinceramente, não vou com a cara delas.

É claro que ele riu.

– Estamos falando do meu hobby ou de uma pessoa? – Bernardo brincou.

Eu me encolhi no banco, preferindo assistir os comércios da paisagem urbana de Osasco passarem perante meus olhos. Tudo seria melhor que olhar para o projeto de nerd infantil que insistia em me pegar ocasionalmente.

Porque, sim, eu sou do tipo que odeia a palavra namorado. Odeia a definição de namoro. Odeia tudo que precisa ser nomeado ou explicado - o que, inevitavelmente, inclui listas. E, olhe só, a porcaria do Bernardo Pazzini não pensa assim! Que sorte a minha de achar um cara tão ao contrário de mim, huh?

Não. Porque eu sou birrenta e só fazemos brigar. E transar.

– Eu só estou dizendo que... – Bernardo tentou, o tom soando mais suave do que antes. Eu o olhei de relance, vendo-o inseguro sobre continuar ou não.

– Está dizendo que precisa da minha ajuda em mais uma porcaria de lista. – Adivinhei.

O expiro profundo que inundou o carro em seguida me fez saber que sim, ele queria exatamente aquilo.

– Não, eu não vou te ajudar. – Eu adiantei.

– Por favor, Bel...

– Não, Bernardo.

– Vai ser a última vez. – Ele prometeu, me olhando quando paramos num farol. Aqueles olhos azuis irritantes quase me fizeram ceder. Por que ele tinha que ser tão insuportável e ao mesmo tempo tão bonito? – Eu prometo que...

– Você sempre diz que vai ser a última vez. – O cortei, impaciente.

– Eu prometo que só te peço ajuda em listas importantes. – Bernardo conseguia ser muito irritante. Mais que eu. E depois se dizia o mais calmo de nós. – É sério, Isabel, essa é a principal lista da minha vida.

O carro voltou a andar, o que fez com que ele parasse de me olhar para dirigir.

Ainda bem, porque eu me vi transparecendo o mais profundo ciúme. Ciúme de uma porcaria de lista. Oh, tinha que ser o Pazzini pra me fazer passar por uma dessas...

– É incrível como você consegue dedicar tanto carinho à essas porcarias. – resmunguei irritada, abraçando minha bolsa contra meu colo. Mais algumas esquinas e eu estaria no trabalho, livre de qualquer nerd de cabelos castanhos e olhos azuis para me atormentar. Era só aguentar mais um pouquinho, um mínimo pouquinho.

Um pigarro dele me fez voltar a reparar na vida real.

– O que é, droga? – Ralhei.

– Eu já te pedi em namoro quantas vezes?

Oh, aquela pergunta. Eu simplesmente a odiava. Quase tanto quanto odiava os dizeres "quer namorar comigo?". E Bernardo sabia muito bem.

Ok. À merda com a paciência.

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