2. Modo emergência

88 6 7
                                    

Isabel's POV

A única certeza que eu tive ao abrir os olhos foi a de que eu sou muito cagona.

Minha cabeça estava doendo, e muito. Eu tive que piscar algumas vezes para conseguir entender que aquele pesadelo estava acontecendo. Havia um zumbido me impedindo de conseguir ouvir com clareza o barulho das ambulâncias se aproximando. Eu tentei me mover, mas um dos meus braços não obedeciam aos meus comandos. E foi quando eu virei a cabeça para o lado que tudo ficou pior.

Bernardo não parecia Bernardo. Tinha tanto sangue ali que eu não conseguia entender direito se aquilo era mesmo real. Os olhos azuis estavam fechados, denotando sua inconsciência profunda. A camisa social branca agora estava escura e rasgada, mostrando hematomas de seu corpo. O airbag do carro me impedia de ver o estado de suas pernas, e a porta do motorista parecia o imprensar.

Eu demorei alguns segundos para compreender.

– Pazzini! – Tentei gritar, me sentindo imersa na pior das realidade possíveis. – Acorda, seu idiota! ACORDA!

Ele não reagia a nenhum dos meus estímulos. Meu braço esquerdo estava imóvel, então eu não conseguia tocá-lo para saber se ele estava vivo. Meu estado era crítico demais para que eu conseguisse notar se ele ainda respirava, o que me deixou tão assustada quanto nunca estive. Eu queria tomar alguma atitude, fazê-lo acordar, fazê-lo se mexer, fazê-lo entender que eu estava ao lado dele e aceitaria qualquer tipo de lista trouxa que ele sugerisse. Mas eu não podia. E, então, nada poderia ser feito.

Eu suspirei, sentindo minha cabeça latejar.

Cinco segundos depois, estava chorando feito bebê.

Cagona. Eu disse que sou cagona.

– Moça!

Meus olhos pesaram, dificultosos em se abrir, e eu enxerguei a sombra do que parecia ser um monstro. No fim das contas, era só um homem em trajes de bombeiro.

– Você está sentindo as pernas? – Perguntou ele, cauteloso, aparecendo no buraco do que um dia foi a janela do carro. Eu assenti, sentindo cada um dos meus músculos inferiores doerem. – Ótimo. Isso significa que não sofreu danos graves. – Era óbvio que ele estava falando aquilo apenas para me acalmar. – Você consegue ver seu amigo?

– Sim. Ele está desacordado, eu...

– Shh, se acalme. – O bombeiro tinha um tom sereno. Eu o bateria se ele continuasse daquele jeito, visto que a situação era caótica demais e que Bernardo poderia estar morrendo e era simplesmente impossível manter a calma. – O meu nome é Fábio e eu vou te ajudar. Seu senso de equilíbrio pode estar confuso, então eu vou explicar a situação em que vocês se encontram. Tudo bem?

– Tudo. – Sibilei, fraca.

– O ônibus se chocou contra vocês. Não estava em alta velocidade, mas o impacto foi contra a porta do motorista, então seu amigo está desacordado e provavelmente quebrou alguns ossos. Além do que, pelo pouco que conseguimos ver, as pernas dele estão presas contra a ferragem do veículo. – Eu engoli em seco, sentindo dor por mim e por Bernardo. – O carro de vocês capotou duas vezes e parou virado de lado, é por isso que você está olhando para cima e vendo o Sol e a mim no mesmo lugar. Isso é ruim, porque a assistência ao seu amigo, que está mais ferido, será mais difícil, já que ele está contra o chão.

– Vocês precisam ajudar ele primeiro! – eu insisti, confusa demais para entender tudo. Então o carro estava de lado e eu tinha sobrevivido à um capotamento? – O Bernardo não pode morrer, moço...

– Ele não vai morrer. – O bombeiro, Fábio, assegurou.

– Você promete?

– Pela minha própria vida. – E então logo eu, a pedra em pessoa, confiei. Porque era a única coisa que eu tinha no momento: esperanças de que a porcaria do Bernardo sobrevivesse. – Mas eu vou precisar da sua ajuda.

Tudo de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora