11. Ontem, hoje e amanhã

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{nota: Lhes apresento o capítulo final de Tudo de Mim.}


Dois meses depois...

Osasco, 20 de outubro de 2011.
Cidade das Flores. 09h22.

Bernardo's POV

Ah, sim. A agonia me consumia constantemente.

– Eu fiz outra lista. – contei ao entrar no quarto.

Era uma lista simples, essa. A última por um tempo. Eu só precisava de algo para separar minha mente dos últimos meses conturbados e ter noção certa do que era o meu presente atual. Só alistei um monte de coisas junto pra tentar entender alguma coisa. Qualquer coisa.

Porque Isabel, pelo jeito, eu nunca entenderia.

O silêncio era sepulcrante, quase tão comportado quanto nossa cama nos últimos tempos. Mas tinha uma diferença: sem sexo por ordens médicas; sem conversas por... Por quê, meu Deus? Por quê? Isabel tinha mesmo que nascer toda complicadinha?

– Mais uma? – ela perguntou. Estava sentada na ponta da cama, as pernas cruzadas enquanto tentava ajeitar um coque firme no cabelo. Era o primeiro dia em que poderia trabalhar desde o acidente. Nossas vidas, finalmente, iam voltar ao normal. Toda a família preocupada já tinha voltado de onde veio e as engrenagens poderiam voltar a girar.

– Sobre aquilo que é de repente. – expliquei e fui me sentar ao lado dela. O colchão se mexeu, trazendo o corpo dela pra mais perto do meu, mas não causou nenhuma mudança nas nossas feições. – Você também está nessa lista.

– Jura?

Não tinha nada de empolgação no tom de voz dela.

– É. – concordei seco, começando a fazer o nó na minha gravata.

Alguns segundos se passaram antes da voz de Isabel surgir no quarto.

– E nessa lista você também me obrigou a casar com você? – alfinetou.

Revirei os olhos.

– E se fosse?

– Incrível, Bernardo. – ela riu, seca. – Completamente romântico.

– Só não supera a sua super delicada falta de resposta. – adicionei, começando a me irritar, e terminei o nó italiano.

Quando eu fui me levantar e sair batendo o pé, no entanto, Isabel me puxou de supetão.

A gente caiu na cama, e ela se arrastou lá pro meio. Eu fiquei meio perdido, não sabendo o que estava acontecendo, mas aí ela desfez o nó da minha gravata em menos de dois segundos.

– Isabel! – reclamei abismado.

– Fica quieto, seu falastrão. – ela pediu, e de novo meu puxou. Mas, dessa vez, pra cima dela.

Com um pouco de esforço, visto seu tamanho pequenino perto do meu, ela nos virou. E de repente estava em cima de mim, me olhando com uma fúria que eu jurava não entender, se desfazendo de cada botão da minha camisa enquanto mordia o lábio com força.

– A gente não vai transar! – me manifestei, pronto para afastá-la de mim.

– Por que não? – a lunática reclamou. – Eu já posso trabalhar, então posso transar!

– Mas eu não quero. – segurei seus pulsos, impedindo-a de me despir. – Você nem respondeu ao meu pedido!

– Você não pediu nada! – Isabel protestou. – Foi uma ordem ridícula e estúpida!

– Eu nunca te forçaria a nada!

– Eu sei. – ela rolou os olhos, balançando os pulsos para eu soltá-la. Eu era forte, portanto em nada surtiu. – Bernardo...

– Você não vai me seduzir. – declarei em firmeza, mais para me convencer do que tudo.

Isabel sustentou o olhar duro e irredutível por alguns segundos, até que eu vi um brilho mínimo surgindo no canto de suas órbitas castanhas.

Foi rápido e estranho.

Num minuto estava em cima de mim, doida para foder; no outro, continuava em cima de mim, mas chorando feito bebê.

– O que... o que foi? – eu fiquei louco de preocupação, é claro. Comecei a achar que era algo sobre o cérebro dela, algum problema médico, algo que aconteceu porque eu neguei as vontades dela. Não sei. – Isabel, eu... – alcancei o rosto dela com uma mão, fazendo-a me olhar.

– Eu quero. – ela admitiu, soando como se estivesse sendo derrotada. – Eu quero me casar com você. A ideia de querer me casar com você me assusta. Mas eu quero, e eu muito provavelmente vou. Só não agora. E nem nos próximos anos.

Eu quase sorri feito um maluco com o efeito que aquelas palavras causaram em mim.

– Eu... – Isabel estava hesitante, mas tão adorável quanto nunca esteve. Se soltou facilmente dos meus braços e passou uma das mãos pelo meu peito, acariciando-me suavemente. – Desculpa, Pazzini.

Saiu da cama, começando a arrumar a saia abarrotada e os fios de cabelo que haviam se soltado.

Em suma: Isabel era a minha Isabel agora, seria amanhã, e continuaria sendo a mesma Isabel quando nos casássemos. Era exatamente isso o que eu queria da minha vida. Ela não podia mudar nunca, porque era daquele jeito que eu a amava. E ela tinha que entender aquilo.

Quando eu finalmente me dei conta da realidade, me levantei da cama num pulo e abracei o corpo de minha moleca por trás. Ela deu um pulinho, assustada, e então respirou em alívio.

– Sabe, minha linda... – eu comecei, o rosto encaixado no ombro dela para falá-la delicada e lentamente no ouvido. – Eu conheço casais que ficaram noivos por anos. – beijei o começo de seu pescoço, inebriado com o cheiro do perfume de sândalo que ela usava. – A gente não precisa de nada disso agora. Precisamos de outras coisas, Isabel. Eu dou tudo de mim, você dá tudo de você. É tudo o que precisamos.

– Fisicamente falando? – Isabel arriscou, a voz rouca e falha. Eu conseguia ver seus pelinhos se arrepiando conforme eu tocava pontos estratégicos de sua cintura. Só fazia sorrir, vendo o quanto nós dois necessitávamos um do outro.

– Isso também. – avisei, concordando, ao que mordi o lóbulo de sua orelha. Minhas mãos, atrevidas e carinhosas, procuraram pela barra de sua blusa. – De preferência agora. Que tal?

Isabel se voltou do meu abraço e, virando-se para mim, iluminou o melhor dos sorrisos no rosto.

– Acho que concordo com você dessa vez, Pazzini.

E logo nossos lábios se misturaram terna e maravilhosamente.

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