8. Nos conformes

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{nota: Eu só queria dizer que vocês têm muita sorte, pois minha beta me obrigou a não ser uma Shonda Rhimes da vida. Bem... quem pescou, pescou. Acabei de dar o maior spoiler de TdM ever.}

Pinheiros, 16 de agosto de 2011.
Hospital Metropolitano. 23h12.

A enfermeira, Cássia, estava hesitante.

– Me fala. – eu pedi, a agonia transbordando em minha voz. – Por favor, Cássia...

Ela mordeu o lábio duas vezes antes de sair da entrada do quarto e caminhar até a minha cama.

– Tudo bem. – respirou fundo. – A Isabel teve uma hemorragia cerebral.

– Isso é...

– Ruim. – ela explicou, parecendo cabisbaixa. – Eu sou muito fã de romances, seu Bernardo.

– Não diz "seu Bernardo", eu devo ter uns três anos a mais que você.

– Tudo bem. – repetiu, respirando fundo novamente. – Eu sou fã de romances, de histórias de amor, e eu não quero que nada de mal aconteça à senhorita Isabel.

– Você precisa se acalmar, Cássia. Eu estou ficando assustado. – adiantei, embora calmo. Os remédios ainda estavam controlando o nível de dopamina no meu sangue, não era possível. Eu queria sair correndo dali enquanto gritava por Isabel. Onde nós estávamos com a cabeça ao discutir no meio do trânsito? E por causa da melhor lista de todas? Ela era louca, por acaso?

Eu entortei o nariz, parando com as divagações mentais.

Eu também era louco. Teria sido muito mais fácil se eu simplesmente pedisse, não agindo como o covarde que eu sabia que era. Mas Isabel era tão especialista em me dar foras que o medo foi o sentimento que imperou sobre mim. Talvez, se eu a irritasse com mais uma das minhas listas, ela estivesse amolecida e excitada o suficiente para aceitar meu pedido. Agir daquele jeito doido - que eu tinha aprendido com ela - parecia a solução mais viável.

E olha no que deu o que era pra ser um pedido de casamento.

Meu interior se estremeceu ao notar que, àquela altura do dia, eu não tinha ideia de como estava o amor da minha vida.

– Me diz como ela está, Cássia. – eu implorei.

How many times do I have to tell you

(Quantas vezes eu terei que dizer)

Even when you're crying you're beautiful too

(Mesmo quando você está chorando, você é bonita)

The world is beating you down

(O mundo está te massacrando)

I'm around through every mood

(Eu estou ao seu lado a qualquer momento)

You're my downfall, you're my muse

(Você é minha ruína, minha musa)

My worst distraction, my rhythm and blues

(Minha pior distração, meu ritmo e tristeza)

I can't stop singing

(Eu não consigo parar de cantar)

It's ringing, in my head for you

(Está tocando uma música em minha cabeça para você)

– Eu falei com o neuro. – Cássia voltou ao meu quarto com um sorriso mínimo de esperança no rosto. Eu prontamente me ajeitei na cama, sentando-me para ouvi-la melhor. – Como ela desacordou repentinamente, decidiram não levá-la para a tomografia de emergência. Era justamente por causa disso que Isabel estava em observação. Os exames demorariam e ela poderia sofrer algum dano, então... – hesitou, olhando-me nos olhos antes de ter coragem de falar. – Então ela está numa sala de cirurgia neste exato momento e eles estão procurando o foco hemorrágico.

– E o que isso significa? – eu perguntei. A verdade é que eu sentia medo. Se algo acontecesse, eu nem sabia o que faria. A culpa daquilo era minha? Eu não tinha ideia. Só Isabel poderia me explicar as coisas e ignorar meu monte de perguntas, minha necessidade de saber de tudo como realmente ocorreu. Só ela conseguia me acalmar, trazer um pouquinho de sua falta de sentido para o meu mundo de lógica. Eu precisava dela. – Cássia, ela vai ficar bem?

– Ela vai ficar bem. – Cássia respondeu, fazendo-me suspirar. Um alívio mínimo, pelo menos. – Mas nós precisamos esperar os resultados. Você sabe, Bernardo, estamos falando do cérebro de uma pessoa. Tudo é muito complicado.

– Eu... – baixei meu olhar, sentindo-me confuso. E com fome. – Eu sei.

– Eu vou checar seus sinais vitais e trazer algum lanche, tudo bem? – a enfermeira me lançou um sorriso de mãe, quase que confortante. – Precisamos de você descansado, então eu vou te sedar assim que tudo estiver nos conformes.

– Que conformes? Eu devidamente alimentado ou minha namorada nos meus braços, de onde nunca deveria ter saído?

O silêncio respondeu muito mais cruelmente do que qualquer palavra faria.

– Nos conformes... – eu ouvi Cássia repetir, mas foi mais para ela do que para mim.

Eu fechei os olhos, sentindo todo o meu corpo doendo, com a preocupação falando muito alto e me deixando em estado de alerta. A verdade era que eu não queria comer, descansar ou saber se ficaria bem. Eu só me importava com Isabel. Desde que ela estivesse bem, tudo estaria bem.

My head's under water

(Minha cabeça está debaixo d'água)

But I'm breathing fine

(Mas eu estou respirando bem)

You're crazy and I'm out of my mind

(Você é louca e eu estou fora de controle)  

Tudo de MimOnde histórias criam vida. Descubra agora