6. A verdade antes do choque

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Pinheiros, 16 de agosto de 2011.
Hospital Metropolitano. 20h13.

Isabel's POV

Ele cutucou meu braço, me fazendo despertar do devaneio.

Eu não entendia. Minha cabeça doía tanto que eu era transportada para um mundo de lembranças? O quê? Como assim? Por quê?

Era estranho, no mínimo. Mas era uma delícia também. Ainda mais momentos como aquele.

– Oi?

– Você está bem? – Bernardo perguntou.

– Eu tô, sim. Eles me deixaram em observação, mas não tenho nenhum ferimento grave.

– Isso é louco.

– Eu sei. – Concordei, sabendo exatamente do que ele falava. Há algumas horas nós estávamos brigando e sendo nós mesmos e, então, paramos num hospital, fisicamente ferrados. – Acho que nunca mais vou deixar você dirigir...

– É só parar de brigar comigo. – Bernardo aconselhou, o ar de sabedoria que ele não tinha imperando.

– Você é um idiota. Fica me falando daquelas listas, e eu...

Eu parei pra pensar, interrompendo eu mesma minhas frases.

Bastou uma pontada na minha cabeça para eu lembrar que Bernardo estava me depravando e me xingando quando nós sofremos o acidente.

Oh, eu quis culpá-lo. Mas então percebi que ele só estava dizendo verdades.

De tanta gente que já tinha entrado na minha vida, ele foi o que durou mais tempo. Eu sabia que conseguia interpretar o capeta quando queria, então Bernardo conseguia interpretar um anjo também – para me conter, me impedir; ser o meu oposto. Porque eu era insuportável quase sempre. Então, de certa forma, ele teve o direito de perder a paciência. Mesmo que tenha me magoado de forma surpreendente.

– Bel. – Ele me chamou, de novo me cutucando.

– Eu. – Pisquei, olhando-o nos olhos.

– Você deixou eles te examinarem ou correu pra ver como eu estava?

– Os dois.

– Certeza?

– Certeza, ué. Eu tava lá. – Revirei os olhos.

– Eu sei muito bem como você é teimosa e persuasiva. – Bernardo implicou.

– Mas eu...

– Você devia chamar a enfermeira. Pra você.

– O quê? – Imagine uma cara de espanto: a minha. – Por quê?

– Precaução. – Ele respondeu, sorrindo minimamente.

Eu bufei, voltando a andar pelo quarto.

– Por favor... – Bernardo pediu baixinho. Eu parei, olhando para ele. Deitado, quietinho, todo fofinho naquela camisola de hospital...

Não seja cruel, Isabel.

– Tá. – Declarei emburrada. – Mas só porque você quer.

É claro que ele sorriu, todo vitorioso. Era do feitio de Bernardo Pazzini.

– Bel...

– O quê? – Eu estava quase irritada. Mas era meu normal com Bernardo.

– Vem aqui. – Ele pediu. Eu obedeci, por falta do que fazer. – E me abraça.

– Por que eu te... – Fui interrompida pelo braço dele. Me agarrou nas costas e me puxou para ele, me fazendo sentir o calor de seu corpo.

Eu paralisei.

Antes não fazia sentido, mas se tornou tão real desde então. Eu havia ficado sem aquele calor, sem aquele nerd que adora me irritar, sem tudo o que o nosso pseudo relacionamento significava. E a única coisa que piscava em minha mente eram os dizeres "como eu consegui ficar sem tudo isso?". De repente, tudo o que importava era o Bernardo e o abraço quentinho dele. Porque o importante era que estávamos juntos, brigando ou não, bem ou não, mas estávamos juntos econtinuaríamos juntos.

Minha cabeça latejou, doendo mais uma vez. E ainda estávamos abraçados.

E, então, latejou de novo. E eu continuava perdida em seus braços.

Senti mais uma pontada na cabeça, sentindo meus sentidos falharem. Mas Bernardo estava ali, me segurando, e tudo era tão confortável. A dor não importava.

– Isabel? – Ele sussurrou contra meu ouvido.

E minhas pernas fraquejaram. Eu me agarrei em seu pescoço, me segurando, mas eu sentia que explodiria a qualquer momento. E, se isso fosse acontecer, que eu dissesse o que tinha que dizer.

– Eu amo você, Bernardo Pazzini.

E eu realmente explodi.




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