Pinheiros, 16 de agosto de 2011.
Hospital Metropolitano. 20h08.Isabel's POV
Os bipes disparados me acordaram.
Àquela altura do campeonato, eu já devia estar um trapo. Os cabelos desarrumados, as roupas sujas de sangue, a cabeça doendo como nunca e vários arranhões no rosto. Mesmo assim, eu tentei me arrumar. Tentei parecer um pouquinho mais apresentável, mas aquela tala do meu braço era tesuda demais para que eu conseguisse.
Aquela disparada de monitores significava que Bernardo estava acordando (era o que a doutora Rosa, responsável pelo caso dele, havia dito). Então era um bom sinal. Eu ia ver seus olhos lindos, falar com ele e deixar de me sentir sozinha. E brigaria com ele por ser preguiçoso ao ponto de dormir a tarde toda.
Ok, eu não ia brigar com ele. Capaz de eu chorar na frente dele.
Oh, Deus. Os remédios que me deram estão me afetando.
– Pazzini, oi... – Eu abri um sorriso enorme, apoiando-me na cama dele e aproximando meu rosto para bem pertinho do seu.
Os olhos se estreitaram, abrindo em seguida. Tão azuis como nunca foram.
Mesmo com os olhos caídos, a pele branca, a boca rachada e o rosto cheio de machucadinhos, ele ainda era meu Bernardo. E olhava pra mim.
– Bel... – Murmurou fraquinho, ininteligível.
– Shh. – Coloquei o indicador sobre seus lábios, sentindo meus olhos marejarem ao que um sorriso se formava do meu interior ao exterior. – Não fala, não. Você passou por bons bocados.
Ele tentou sorrir, mas notou o tubo que estava na própria boca. Começou a se agitar, assustado com tudo aquilo, e eu apertei o botão para chamar a enfermeira.
– Calma, Bê. Você foi entubado porque não conseguia respirar sozinho, mas parece que isso mudou... – Eu alarguei meu sorriso, segurando seus braços para que ele não se movesse. Os tubos poderiam machucá-lo, então ele tinha que ficar calmo. – Que tipo de doido sobrevive à vários choques no corpo, huh?
A enfermeira entrou no quarto, finalmente, e sorriu ao notar Bernardo acordado.
– Eu vou tirar os tubos, tudo bem? – O avisou com cautela.
Eu assisti, mesmo que com agonia, todo o procedimento. E me aliviei ao ouvir o suspiro de alívio que saiu dos lábios de Bernardo.
– Se precisarem de alguma coisa, me avisem. – A enfermeira avisou. Eu consenti, vendo-a deixar o quarto.
– Você sofreu duas paradas cardíacas. – Eu contei, sentando-me na ponta da cama dele. Peguei um de seus braços e comecei a acariciar. – Mas sobreviveu, não sobreviveu?
– O que... – Bernardo obviamente estava confuso. Eu balancei a cabeça, compreendendo o lado dele. Eu também ficaria doida da vida após acordar num hospital com uma doida falando que eu sofri paradas cardíacas. – O que aconteceu com seu braço?
Eu sorri com a preocupação primordial dele.
– Fratura. – Expliquei, balançando minha tala. – Não foi exposta, infelizmente. Teria sido legal.
– Você...
– Sim, Bernardo, eu estou bem. – Rolei os olhos. – Você pode, por favor, ficar quieto? Eu estou tentando te explicar o que houve.
– Tô com fome.
– É claro que está. – E, mais uma vez, eu rolei os olhos. – Eu vou falar com a enfermeira...
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Tudo de Mim
Short StoryEspontâneo. É assim que Isabel definiria seu relacionamento com Bernardo. Tudo havia acontecido de forma repentinamente natural. O mais estranho era que, mesmo após todo esse tempo, eles ainda continuavam juntos. "Entrelaçados aos lençóis um do o...