{nota: Certo, pessoal. Notem que os acontecimentos da história oscilam entre 2010 e 2011, então, obviamente, as narrações de 2010 se tratam de flashback <3}
São Paulo, 01 de maio de 2010.
Rodovia Rodoanel Mário Covas. 05h55.
Isabel's POV
"Meus pais iam me matar. Sim, eles iam. Eu tinha quase certeza.
Pisei no acelerador, tentando forçar o carro a ir mais rápido, mas aquilo obviamente não aconteceria. Então, como a verdadeira desistente que sou, andei por mais dois quilômetros e parei no acostamento para assistir o Sol nascer.
Desliguei o carro e saí do mesmo, indo me sentar no capô. Eu tinha uma garrafa de Askov nas mãos e nada seria mais interessante do que aproveitar a solidão.
Eu tinha um carro 1.0 que se negava a passar dos 100 km/h e precisava chegar em Piedade, no interiorzinho de São Paulo, em menos de meia hora. Além dos meus pais caóticos que me consideravam a ovelha negra da família.
É, ficar sozinha bebendo era uma boa ideia.
Eu conseguia ver por entre alguns cumes as primeiras luzes solares iluminando o céu. Era uma cena bonita e eu quase não imaginava que estava no estado de São Paulo. Longe de toda a metrópole barulhenta, tínhamos aquela beleza simples que ninguém admirava. E quem diria? O nascer do Sol no meio de uma rodovia poderia, sim, ser emocionante.
Uma foto ia cair super bem.
Eu desci do capô disposta a procurar minha câmera, mas aí ouvi um barulho de motor estacionando logo atrás de mim. O Fox prateado se encostou por ali mesmo e eu caminhei até ele, parando perto da janela do motorista.
O vidro da janela começou a descer.
– Quebrou o carro? – Adivinhei, me inclinando para enxergá-lo.
Era um cara bonitinho. Cabelos escuros, curtos e lisos. Estava usando um óculos de sol àquelas horas da matina, mas, mesmo assim, combinava muito com a barba por fazer.
– Não, ainda bem. – Ele respondeu, um ar brincalhão no rosto, e me pediu licença.
Eu ergui minhas mãos, sentindo que ele era um cara meio nojentinho, e saí de perto da porta.
Ele saiu do carro, espreguiçando o corpo - magrelo, mas não seco - e o pescoço - atraente, muito atraente. Caminhou até o próprio capô e se sentou lá, puxando um bloquinho e uma caneta do bolso.
Eu franzi o cenho.
– O que você está fazendo?
– Uma lista. – Ele respondeu e tirou os óculos para me analisar. Eu me aproximei vagarosamente, parando perto dele, enxergando o azul que suas íris emanavam. – É um hobby meu.
– Fazer listas às seis horas da manhã em dias de feriado? – Adivinhei, brincando.
– Não. – Ele sorriu de canto. E que sorriso. – Fazer listas.
Assenti lentamente, bebendo mais um gole da minha vodka terrível e barata.
– E seu hobby? Beber às seis horas da manhã em dias de feriado? – Me perguntou, se achando o engraçadinho que não era. Mas era bonito, então eu deixei passar.
– Só quando meus pais estão furiosos o suficiente para eu não ter coragem de visitá-los.
– Então você é o tipo de filhinha má? – Deduziu, parando de me olhar para olhar o nascer do Sol que eu tanto estava apreciando.
– Não! – Eu respondi com tom de indignação. Mas era só um cara bonito anotando coisas num bloquinho, então eu dei por ombros. – Você tem um hobby estranho, portanto sua opinião não me importa.
– Certo... – Ele riu, olhando minha cara de tacho com atenção antes de anotar uma última coisa no bloquinho. – Eu sou o Bernardo. E você é a....
– Isabel. Qual é a lista da vez, Bernardo?
Seus olhos azuis fizeram questão de me perfurar enquanto um sorriso se formava na lateral de sua boca fina. Eu paralisei por um instante, admirada com tanta beleza num cara só. Só acordei mesmo quando ele respondeu minha pergunta, dando um tom sugestivo às próprias palavras.
– As paisagens mais bonitas de todas. – Disse, simplório. E eu simplesmente concordei, virando-me para admirar a beleza do Sol surgindo entre as montanhas."
Oh, eu odiava listas. Tanto quanto odiava estar atraída por Bernardo.
Ele não tinha nada do que uma garota poderia querer. Claro, era bonito demais. Mas muitos homens também eram, e tendo o corpo que eu tenho - sem me gabar, é claro - eu poderia arranjar outro marmanjo sem muito esforço. Mas a gente não tinha química, a gente tinha choque, e tudo era muito estático entre nós. Não havia meio-termo. Éramos oito, éramos oitenta; éramos tudo e nada ao mesmo tempo. Se conversando já era bom, imagina na cama? Eu tive que dar o braço a torcer e passar o meu telefone pra ele. Claro que dei a desculpa de querer saber como a lista de Paisagens Mais Bonitas de Todas estava indo, bem como ele assegurou que só manteria um tipo de contato restrito com "garotas loucas que se embebedam às seis da manhã".
Claro que a gente foi pra cama no primeiro encontro.
E terminamos o nosso pseudo relacionamento logo depois disso.
Ele comentou casualmente sobre a porcaria da lista de Mulheres Que Eu Mais Que Beijei.
Oh, eu fiquei puta. E dei-lhe uma bofetada.
Meu ódio por listas começou por aí. Minha loucura com Bernardo também.
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Tudo de Mim
Short StoryEspontâneo. É assim que Isabel definiria seu relacionamento com Bernardo. Tudo havia acontecido de forma repentinamente natural. O mais estranho era que, mesmo após todo esse tempo, eles ainda continuavam juntos. "Entrelaçados aos lençóis um do o...