{nota: Dedicado à qualquer pessoa que um dia sonha em ter alguém que te complete o suficiente ao dar tudo de si.}
Pinheiros, 16 de agosto de 2011.
Hospital Metropolitano. 23h49.
Eu consegui convencer Cássia - bastaram alguns argumentos fofinhos sobre amor e perseverança - de que estava bem e precisava ver Isabel. Eu sinceramente não sabia como havia engolido o desespero que me cercava para tentar agir como se nada de alarmante tivesse acontecido. Tudo o que eu sentia, dos pés à cabeça, era um terrível frio. Como se a todo tempo Isabel estivesse por perto me iluminando e, agora, não houvesse mais ninguém ao redor. A falta que ela fazia era sufocante. Eu precisava vê-la a qualquer custo, mesmo que isso significasse pôr meu lado de romântico incurável para fora.
Nem todo homem se orgulha dos seus meios, mas são os fins que sempre prevalecem. A gente só olha para a linha de chegada, não se importando em que artimanhas usará para chegar lá. Porque o objetivo final é o que importa. Especialmente pelo amor, somos capazes de tudo. Por Isabel eu já havia passado por tanta coisa - e levado tantos foras. Eu continuava ali, no entanto. Porque aquela moleca era a minha linha de chegada. Eu sentia isso desde o começo.
E ali, bem quando eu estava próximo do fim, eu descobri que valia a pena sim.
"Eu amo você, Bernardo Pazzini."
Oh, sim. Ela tinha dito com todas as palavras, bem no pé do meu ouvido. Foi a última coisa que dissera antes de apagar - como se fosse, no fim das contas, a última coisa que importava. E me era o que importava. O amor dela. O meu amor para com ela. O nosso amor. Mesmo com todas as complicações, as dificuldades em arrumar um rótulo para o que Isabel+Bernardo significava, as frescuras que ela e eu conseguíamos inventar na hora em que as coisas eram simples demais para nós. Mesmo com tudo isso. Eu a amava tanto e ela me amava mais ainda. Éramos diferentes, sempre fomos. Ela, de humanas; eu, de exatas. Mas e daí? Éramos nós dois, comuns e especiais ao mesmo tempo, imperfeitamente perfeitos um para o outro. Com um sussurro de "eu amo você", Isabel admitira que, apesar das dificuldades, o amor havia florescido entre nós e isso era tudo o que realmente importava.
Então, pela primeira vez na vida, eu concordava plenamente com as atitudes dela.
Cause all of me
(Porque tudo de mim)
Loves all of you
(Ama tudo de você)
Love your curves and all your edges
(Ama suas curvas e seus limites)
All your perfect imperfections
(Todas as suas perfeitas imperfeições)
Isabel se parecia com um anjo.
Eu nunca achei que fosse usar um adjetivo tão delicado para descrevê-la, mas ali estava. Adormecida, calma e angelical. Minha moleca, o motivo das minhas dores de cabeça, dormindo em uma cama que não pertencia a nenhum de nós. E me doía tanto, tanto notar aquilo. Como é que nós saímos do posto de casal problemático para o casal com futuro trauma emocional?
A vida poderia pregar peças tão engraçadas e tão de repente.
Eu me aproximei do leito um pouco cambaleante, visto que não queria chegar perto de Isabel numa cadeira de rodas e, mesmo assim, ainda estava fraco e sentindo dores em todos meus músculos existentes. Parei próximo a cama, bem próximo do rosto de minha Isabel, e toquei seu rosto com suavidade.
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Tudo de Mim
Short StoryEspontâneo. É assim que Isabel definiria seu relacionamento com Bernardo. Tudo havia acontecido de forma repentinamente natural. O mais estranho era que, mesmo após todo esse tempo, eles ainda continuavam juntos. "Entrelaçados aos lençóis um do o...