{nota: Oh, sim. Este é o penúltimo capítulo.
Meus dedos até formigam em hesitação. O fim tá logo ali, à um capítulo de distância, e eu tenho certa dificuldade em aceitar finais. Uma pena que, assim como o verão, histórias também precisam chegar ao fim.
Aproveitem a viagem.}
Pinheiros, 17 de agosto de 2011.
Hospital Metropolitano. 01h34.
Isabel's POV
Deus, eu queria que a história de quase ir pro céu fosse verdade. Seria melhor que toda essa dor de cabeça que insiste em me fazer sofrer desde que acordei.
Acontece que, sendo desastrada feito eu, é claro que uma hemorragia cerebral ia aparecer no meio do caminho para me dar um susto. É claro que eu ia parar numa sala de cirurgia sem a minha própria autorização, além de ter o meu cérebro exposto para uma porção de médicos. Fazia todo sentido do mundo. Mas o neurologista havia dito que ainda havia um coágulo mínimo de sangue na minha cabeça, então eu tinha que evitar emoções fortes e atividades físicas (o que inclui sexo) nos próximos dias. "É tudo pra você melhorar logo, Isabel", o médico boa pinta disse, "Você já é uma vencedora de ter aguentado tantas horas sem ter nenhum derrame".
Oh, tudo bem. Sou uma vencedora e estou numa cama de hospital. Faz mais sentido ainda.
A enfermeira Cássia entrou no meu campo de visão, e logo meus sentidos se alarmaram.
– Cadê ele? – eu perguntei.
– Você não tinha que ficar calma? – ela perguntou, confusa.
– Se você me conhecesse, nunca perguntaria algo do tipo.
– Tudo bem. – Cássia sorriu, divertindo-se comigo. Como enfermeira do Bernardo, ela provavelmente já sabia de todas as minhas manias e defeitos. – Seu namorado mandou te entregar. – e foi aí que eu vi vermelho.
Espere, espere. Eu não estou morrendo ou tendo outra hemorragia no cérebro. Mas eu tenho que admitir que quase me irritei com a visão do bloquinho de listas do Bernardo bem na minha frente.
– Aquele nerd vai embora e me manda isso – pausa para enfatizar o desgosto. – como compensação?
– Ele disse pra você abrir na página marcada. – Cássia explicou, insistindo que eu pegasse o maldito bloquinho.
– Não.
– Isabel... – ela tentou, um sorriso típico de coitadinha no rosto.
– Não, enfermeira. – eu insisti. – Eu já sei de cabo a rabo o que tem nessa coisa.
Cássia se retraiu após ver em meus olhos que a vontade de ler aquilo era mínima. Então, depois de checar meus sinais vitais e meu soro, além de deixar um biscoitinho, se retirou do quarto.
Eu suspirei, me sentindo exausta.
Parando para reparar no dia anterior, eu notei que haviam muitas coisas fora do lugar. Eu deveria estar em casa à essas horas, assistindo minhas séries antes de finalmente dormir. Mas não. Um acidente veio e, bam, minha rotina saiu dos eixos. O bloquinho de listas do Bernardo havia feito nossa discussão começar, mas, aí...
Eu paralisei, o olhar pousando logo naquele monte de papel que ele carregava pra todo lado.
Mas aí o Bernardo tinha começado a gritar comigo e jogou na minha cara que aquela lista que ele tanto queria que eu visse era a pior de todas. Porque era sobre mim.
Mordi o lábio, me sentindo afobada.
E aí a curiosidade matou o gato.
Só você, nerd...
Peguei o bendito bloquinho e abri na página onde tinha um post-it grudado.
Paisagens Mais Bonitas de Todas
1. A noite quente de um píer do Guarujá, São Paulo.
2. Fim de tarde na Avenida Paulista, São Paulo.
3. Terraço da casa da vovó Ana, Alagoas.
4. Vista de cima da London Eye, Londres.
5. Reflexo da janela do meu quarto nos dias nublados, São Paulo.
6. O nascer do Sol em meio às montanhas do Rodoanel, São Paulo.
7. Isabel Alves.
8. Aonde quer que Isabel Alves esteja.
"Eu me cansei dos pedidos de namoro, então mudei minha abordagem. É o seguinte, Isabel: você tem seis opções. São cinco lugares maravilhosos em que eu já estive. Infelizmente, não foi com você. O sexto foi onde nos conhecemos, então não vale. A sétima paisagem é a melhor de todas, mas você só precisa de um espelho para contemplá-la.
Que tal me fazer o homem mais feliz de todos ao viver todos os dias com a paisagem 8?
É simples. Casa comigo em uma das paisagens mais bonitas de todas.
E isso não foi um pedido.
Sim, minha teimosa. Eu tô mandando de novo."
I give you all, all of me
(Eu te dou tudo, tudo de mim)
And you give me all, all of you
(E você me dá tudo, tudo de você)
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Tudo de Mim
Short StoryEspontâneo. É assim que Isabel definiria seu relacionamento com Bernardo. Tudo havia acontecido de forma repentinamente natural. O mais estranho era que, mesmo após todo esse tempo, eles ainda continuavam juntos. "Entrelaçados aos lençóis um do o...