Capitulo 04

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Daniel ria baixinho enquanto eu trancava a porta e saia do gramado da sua casa.

Fomos juntos até a minha casa com ele rindo da minha cara e eu louco pra rir com ele. Mas não fiz! Meu orgulho não deixou!

-Já disse que não teve graça, Dani! -bufei, quando entramos em minha casa e nos tranquei lá dentro.

Pronto! Agora eu o tinha só pra mim!

-Tem sim, senhor Lopes! -ele afirmou, balançando a cabeça. -Você acharia muita graça se visse sua própria cara quando esbarrou no gato do vizinho.

-Eu tenho alergia à gatos! -retruquei. -E, aliás, o que o gato do vizinho fazia na sua casa?

-Ah, eu cuido dele. O senhor Fagundes tem Alzheimer e se esquece de dar comida e água pro pobre bicho.

Sorri pra ele que tinha um olhar super sério.

-Você é tão lindo... -murmurei.

Ele corou fortemente e negou com a cabeça.

-Sei que não sou. Por favor, não faça isso pra me agradar.

-Não estou fazendo isso pra te agradar, Dani!

-Está sim!

-Não estou!

Ele baixou a cabeça e suspirou.

Fui até ele, pensando em uma saída rápida pra situação. O que havia de errado com esse garoto?

Então a resposta veio tão rápido quanto a pergunta: tudo. Havia tudo de errado.

-Vi os desenhos no seu "quarto". -fiz aspas, porque aquilo era uma dispensa, não um quarto.

-Viu?! -ele se alarmou.

-Vi. Você desenha muito bem. -lembrei do meu desenho e ia abordá-lo sobre isso, mas ele falou primeiro:

-É só um passatempo. Às vezes meu pai me tranca lá por horas e então eu tenho que fazer algo pra passar o tempo. -ele riu baixinho, da própria piada.

-Daniel! Não ria como se fosse algo normal! Seu pai é um doente, psicótico! -o balancei, com irritação.

-É normal pra mim, senhor Lopes. -ele sorriu, fracamente. -Eu vivo com ele desde sempre. Minha mãe sumiu e eu não tinha escolha! Tive que aguentar tudo que o envolvia. Ele me ameaça, senhor Lopes. Me bate. Me maltrata... estou habituado. -passou a mão no meu peito, causando-me um arrepio. -Não tenho raiva dele. -finalizou.

-Não tem?

-Não. O compreendo. Sinto pena dele. Compaixão.

-Como pode dizer isso, Daniel? Que estupidez! -rosnei.

-Ele ainda a ama e eu sou um símbolo do abandono dela. Minha mãe. Tive sorte dele não me matar quando eu era menor.

O tirei do chão, o pegando no colo e o abracei. Com força! Ele correspondeu ao meu abraço, enterrando seu nariz no meu pescoço e inspirando profundamente. Fiz o mesmo com ele.

-Não vamos falar nisso hoje, tudo bem? -ele pediu baixinho, enlaçando suas pernas na minha cintura.

-Claro, Dani... claro. -o apertei em meus braços.

Podia passar a eternidade ali, com meu rosto enterrado naquele pescoço.

Seus cabelos eram um pouco grandes e transbordavam um aroma tão delicioso quanto o exalava do seu pescoço.

Me excitei, apesar de meu consciente dizer que aquela não era a melhor hora pra fazer sexo com ele.

-Por que você desenha a si próprio? -retornei com o assunto enquanto eu caminhava pra cozinha com ele ainda no meu colo.

CORAÇÃO DE VIDROOnde histórias criam vida. Descubra agora