Livro 1: Ar

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Eram quase oito horas quando a notificação chegou em seu smartphone. A chuva não dava trégua. Havia chovido o dia todo e ao que tudo indicava, iria continuar assim pelo resto da noite.
Próximo à janela, MacMiller via todo o movimento dos belorizontinos à noite.

Em um apartamento simples e pouco mobiliado, localizado no bairro nobre de Belo Horizonte, ele mora com sua esposa, Susan. O lugar é formado por um quarto de casal, outro de solteiro, cozinha conjugada com a copa e um banheiro no fim do corredor. Simples, pacato e suave. Tudo o que Jonatan mais queria.

Ele estava fora do U.A.C.T. há seis meses. Depois do incidente no México, ele não queria mais continuar com aquilo. Para os jornais, a Missão fora um sucesso, salvando milhares de vidas inocentes, mas para MacMiller, significou o fim da sua carreira como antiterrorista internacional. Agora ele era apenas um cidadão, vivendo feliz com sua mulher, na região mais pacata de Belo Horizonte.

Mas nem sempre as coisas acontecem como queremos.

"Você tem um novo e-mail" lia-se na tela do celular. Algo em seu subconsciente dizia para não ler aquela mensagem, mas a notificação o incomodava e ele não poderia simplesmente ignorá-la.

"Oi Mac,
Como está a vida de cidadão brasileiro? Espero que você tenha se adaptado bem à vida de futebol, caipirinha e carnaval o ano todo.
Já faz seis meses que não conversamos, e para eu estar te escrevendo, você já deve saber que precisamos tratar de um assunto sério. Preciso da sua ajuda.
JC."

Jason Carter era um antigo companheiro da divisão Alpha da U.A.C.T. e um excelente amigo. Calmo e paciente, JC é do tipo observador e de poucas palavras. Tem um senso de humor um tanto quanto duvidoso, mas é o melhor companheiro para os momentos difíceis.

Carter provou suas habilidades para fazer parte da NSA e foi por essas habilidades que ele fora convocado para integrar à unidade de ataque contraterrorismo.

- Qual o problema John? Parece tenso - disse Susan, sentada à mesa esperando seu companheiro para jantar.

Ela é uma mulher muito esbelta. Com corpo atlético e bem definido no auge dos seus quarenta e seis anos. Tem a pele branca e cabelos negros e longos, que brilhavam sob luz da lâmpada acima de sua cabeça. Os olhos castanhos claros, quase verdes penetrantes combinavam com a sua boca pequena, rosada e aveludada. Vestida com uma blusa longa e surrada, bem folgada no corpo e um short de flanela, Susan mais parece uma menininha que uma mulher madura.

- JC me enviou um e-mail. Disse que precisa da minha ajuda. - Respondeu ao sentar-se à mesa.
- O que você vai fazer? - Disse ela, enquanto tirava uma mecha de cabelo do rosto e prendia atrás da orelha. Apesar de simples e banal, MacMiller adora quando ela fazia isso.
- Ainda não sei, não posso abandoná-lo, mas também não quero voltar.
- Você ainda não superou o México, não é? -E com um movimento de cabeça por parte de Jonatan, a conversa se encerrou.

À noite continuou tranquila. Depois do jantar eles assistiram ao jornal local e foram dormir. Kamille chegaria na manhã seguinte e por isso o casal resolveu que precisariam estar de pé o mais cedo possível para recebe-la. A filha de MacMiller estava na França em um intercâmbio. Jovem e destemida, Kamie, como era vergonhosamente chamada pelo seu pai, gostava de aventuras e não temia o perigo. Com uma personalidade forte, quando tinha algo em mente, ninguém mais tirava.

Apesar de passar das onze da noite, a mensagem de JC ainda ecoava na mente de Jonatan. Até que ele finalmente tomou uma decisão.

"Oi JC
O Brasil é mais do que futebol, caipirinha e carnaval. você realmente deveria conhecê-lo.
Você disse que precisa da minha ajuda, o que seria tão urgente para você me chamar? "
JM"

- John acorda você tem visita. - Susan sussurrou em seu ouvido.

Ele se senta na cama e olha para o rádio relógio estrategicamente posicionado no criado mudo ao lado de sua cama. Objeto esse que foi um presente de Kamie, pois segundo ela "todo agente da CIA tem um". Apesar de não integrar a CIA há bastante tempo, ele ainda o guarda com carinho.

Eram sete e dez da manhã e MacMiller está com sono, pois dormira muito pouco.

- Quem, pelos sete mares, iria me visitar as sete da manhã de uma quinta feira Suzzy?

- Essa e a recepção que eu mereço papai?

Sua filha era fisicamente muito parecida com a mãe quando tinha vinte anos. Ela tem cabelos e olhos castanhos, pele branca, e poucas curvas. Parecia uma garota de dezesseis anos, que ainda está desenvolvendo o corpo. Sua blusa azul clara dizia I LOVE FRANCE. Calça Jeans preta e All Star azul e gasto.

- Bom dia Kamie, como foi à viagem? - Enquanto abraçava sua jovem criança.

- Bem divertida! Vamos, mamãe preparou o café.

Depois de muita conversa sobre as novidades de ambos os lados, Kamille resolveu ir dormir um pouco.

- Eu respondi o JC ontem à noite. - Disse MacMiller, tomando outra xícara de café para tentar manter-se alerta.

- E então? - Susan quis saber.

Nesse exato momento, o celular dele emite o som de notificação. Um "plim" indicando um novo e-mail.

- Vou descobrir agora - respondeu.

"Oi Mac,
Vou ir direto ao ponto: há quinze dias a equipe Beta estava em uma missão de reconhecimento sob o comando de Endo Kaimei quando perdeu contanto com o QG.
Eles estavam nas proximidades de Daca investigando uma possível facção do mercado negro.
Pode parecer algo relativamente fácil de resolver, mas há dois dias perdemos contato com a equipe de resgate. É por isso que eu estou te contatando. Preciso de suporte técnico, e sei que você pode me ajudar com isso.
JC."

- Ele quer meu auxílio para uma missão de resgate. - Resumiu.

- Você não vai voltar para o campo de batalha, vai? - Susan estava apreensiva, não queria ver seu marido, que já não era tão jovem quanto antes, voltar à ação.

- Não, vou apenas ficar atrás de um computador, ajudando da melhor maneira que eu conseguir. - Disse enquanto a envolvia nos braços num abraço aconchegante e confortável.

"Oi JC
Estou dentro. Quando começamos?
JM."

O Ataque do CorvoOnde histórias criam vida. Descubra agora