Nas sombras do Submundo, qualquer coisa pode parecer maléfica.
Era isso que o sujeito na beira de uma antiga plataforma de metrô
pensava. Ele tinha 18 anos e ainda morria de medo de ir até ali. Afastou dos
olhos dourados o cabelo rebelde cor de caramelo.
É impossível saber a diferença entre a escuridão e as Trevas aqui embaixo,
mesmo para um Conjurador das Trevas como eu.
E Lennox Gates era muito Sombrio.
A menina pálida sentada à beira da plataforma do outro lado do trilho
não tinha as mesmas preocupações filosóficas. Encolhida em uma jaqueta
de couro preta costurada em faixas diagonais, ela parecia uma criminosa
futurística. Seus cabelos foram raspados com máquina 2, exceto por uma
mecha azul no centro da cabeça. Apenas sua cara de bebê parecia inocente.
Perigosa, porém, inocente.
Lennox pensou no futuro dela. Gostaria de não ter visto, mas não
conseguia ignorar as coisas que captava cada vez que acidentalmente
olhava para uma lareira, uma vela acesa ou um isqueiro. O futuro dela,
como tantos outros, veio a ele por meio de explosões, como o flash de uma
câmera, transmitindo uma enxurrada veloz de informações que ele não
conseguia controlar. Viu angústia e culpa, sangue e traição.
Amor.
A Conjuradora das Trevas Necromante ia passar por uma jornada e
tanto.
Apoiada em uma das vigas de suporte, os olhos opacos como leite — em
vez do dourado habitual dos Conjuradores das Trevas —, ela não parecia
consciente. Ele se sentia mal com o arranjo, apesar de ela ter concordado
com o contrato. Foi ideia dela limpá-lo de sua mente, por razões de
segurança. Como tantos Necromantes, ela não queria saber o que estava
dizendo ou para quem. Apesar de a garota não se lembrar de nada, ele
lembraria — cada momento tedioso e desperdiçado.
Por que tive de herdar essa perturbação, além de tudo mais que me
deixaram?
O anel de velas que a cercava havia se queimado e formado poças de
cera. Espirais de fumaça subiam em direção ao rosto vazio. Suas pernas
estavam penduradas na borda da plataforma, chutando involuntariamente
em um ritmo desconhecido.
Ainda bem que esses trilhos estão abandonados. Se um trem passasse, as
pernas seriam arrancadas do corpo. Necromante ou não, Lennox pensou.
Por melhor que ela fosse, não conseguiria se proteger nesse estado. Ela
confiou nele, e ele jamais poderia se esquecer disso.
Ossos do ofício dela.
Ele pegou um charuto do bolso interno do casaco preto e considerou. Ele
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Sirena
FantasyRidley Duchannes nada tem de heroína de romances açucarados. Ela é uma Sirena e não hesita em usar seus poderes para enfeitiçar o que cruzar seu caminho, sejam Conjuradores das Trevas, Incubus ou Mortais. Desde que sua família lhe virou as costas, s...